Ao segundo dia de negociações, os representantes dos Estados Unidos e da China arrefeceram os ânimos entre as duas potências ao acordar uma extensão de 90 dias da trégua tarifária acordada em meados de maio. No entanto, o secretário do Tesouro dos EUA disse que a palavra final caberia ao presidente norte-americano. Horas antes, Donald Trump havia desdenhado a hipótese de visitar a China se não fosse convidado a tal. O resultado corresponde aos objetivos traçados na semana passada por Scott Bessent, o secretário do Tesouro que liderou a delegação dos EUA nas negociações que decorreram em Estocolmo, Suécia. A trégua acordada em maio, nas negociações ocorridas em Genebra - e que determina que os EUA taxam os produtos chineses em 30% e a China impõe taxas aduaneiras de 10% às importações oriundas dos EUA - terminava no dia 12 de agosto. Isso significaria o regresso a uma pauta comercial de 145% sobre os produtos chineses, e de 125% sobre os bens norte-americanos. Aos jornalistas, Bessent disse que Trump terá a palavra final sobre a extensão da trégua, no que foi secundado pelo representante do Comércio, Jamieson Greer. “Vamos reportar-lhe o processo aqui decorrido. Tivemos reuniões construtivas, sem dúvida, para regressarmos com um relatório positivo. Mas a extensão da pausa, é ele quem decidirá”, disse Greer após as negociações de dois dias no edifício onde está sedeado o gabinete do primeiro-ministro sueco, bem como do restante governo. O secretário do Tesouro acredita que haverá uma quarta ronda negocial - depois de Genebra, Londres e Estocolmo - antes do prazo de 90 dias expirar. Deixou palavras simpáticas para a delegação chinesa, chefiada pelo vice-primeiro-ministro He Lifeng. “Houve uma boa interação pessoal, um bom respeito mútuo. Acho que entendemos muito melhor a agenda deles”, disse Bessent. . Do lado chinês, o negociador Li Chenggang sublinhou as discussões “construtivas” e “francas”, mas também “abrangentes e aprofundadas” sobre questões microeconómicas. Como pano de fundo das discussões, o presidente de Taiwan Lai Ching-te terá sido informado de que não podia aterrar nos EUA numa viagem que teria como destino três países da América que reconhecem a ilha. Taiwan, que a China ambiciona tomar e do qual os EUA são aliados, é o tema sino-americano mais sensível, pelo que a notícia do Financial Times foi vista como um sinal para Pequim. A imprensa norte-americana disse que a imposição de taxas aduaneiras era apenas o chapéu das negociações, com muitos outros temas relacionados: da compra de petróleo russo pela China e o seu apoio (ainda que não declarado) a Moscovo na guerra contra a Ucrânia a um compromisso sobre o fentanilo, ou sobre um possível investimento chinês na indústria em solo norte-americano e o acesso ao mercado chinês. Ao contrário dos acordos entretanto anunciados entre os EUA e o Reino Unido, Japão, Vietname, Filipinas, Indonésia e UE, quem estava do outro lado da mesa tinha trunfos para jogar: uma economia em franco crescimento (5,3% na primeira metade do ano), que não parece depender dos EUA, e sobretudo o controlo mundial sobre os metais raros. A China minera 70% dos metais raros e processa mais de 90%. Quando a guerra comercial estalou entre os dois países e a administração Trump proibiu a venda de semicondutores para a indústria da Inteligência Artificial, Pequim respondeu com a limitação de exportações para os EUA de metais essenciais para as indústrias de tecnologia e de saúde, mas também para o setor da defesa. Depois de Washington ter levantado a restrição sobre os chips, Pequim também o fez quanto aos metais raros. Mas ficou o aviso. Os analistas acreditam que um acordo abrangente só poderá obter-se num encontro entre Trump e Xi Jinping. Segundo a Reuters, assessores da China e dos EUA discutiram uma possível reunião entre os líderes quando Trump visitar a Ásia este ano. Mas o norte-americano negou estar “à procura de nada”, embora tenha deixado a hipótese de visitar a China, a convite de Xi.