Escândalo Epstein é arma de arremesso político do campo de Trump
Ao pesquisar “Epstein” no que foi a rede social Twitter e é agora a nave descontrolada chamada X, a desinformação e as teorias da conspiração são de tal ordem que sustentam quem advoga que o caso de abuso sexual de menores se tornou em mais uma arma de arremesso político entre os campos republicano (fação Trump) e democrata do que outra coisa.
Até à data, nada foi revelado que seja incriminador para lá do anteriormente conhecido, menos de 24 horas depois de um tribunal ter começado a publicar os documentos relacionados com um dos processos, o da vítima Virginia Giuffre, à data dos factos Roberts, contra Ghislaine Maxwell, a ex-namorada de Jeffrey Epstein.
Ao aproximar-se a data para o início da divulgação dos documentos, Donald Trump Jr., a representante Marjorie Taylor Greene ou o ex-advogado de Trump Rudolph Giuliani, publicaram mensagens a alertar para um alegado encobrimento dos cúmplices de Epstein, que foi encontrado morto numa prisão em Manhattan, em 2019, enquanto aguardava julgamento por crimes de tráfico sexual.
Através de documentos falsos, vídeos truncados, etc., a narrativa da extrema-direita norte-americana é a de que a elite cultural e política democrata faria parte da rede pedófila de Epstein -- e, claro, Trump o seu inimigo declarado.
Os documentos que começaram a ser divulgados resultam de um pedido por parte do Miami Herald - jornal cuja investigação foi central para que Epstein viesse a ser preso em 2019 - a uma juíza para que a ação judicial por difamação intentada em 2015 por Giuffre contra Maxwell fossem publicados. (O caso foi sanado em 2017, tendo Maxwell pago milhões a Giuffre).
O que há de novo
Para já, entre os depoimentos e outros 40 documentos entre 250 que ainda vão ser divulgados, destaque para o testemunho de Johanna Sjoberg. Esta, que alega ter sido recrutada por Maxwell quando tinha 20 anos, para prestar serviços sexuais ao empresário, negou ter conhecido o ex-presidente Bill Clinton, mas que Epstein lhe disse que eram amigos. “Ele disse-me uma vez que Clinton gosta delas jovens, referindo-se a raparigas”, disse Sjoberg aos advogados.
Em 2019, um porta-voz de Clinton disse que o ex-presidente tinha feito quatro viagens no avião de Epstein, mas que não sabia nada sobre os seus “crimes terríveis”.
Ainda no campo dos políticos, Sjoberg não esclareceu se conheceu Donald Trump. Negou ter prestado uma massagem -- além de receber três massagens diárias de caráter sexual, Epstein oferecia os serviços das jovens sob seu controlo a conhecidos -- ao então empresário e amigo, cujas vidas se cruzaram em Nova Iorque e em Palm Beach, Florida.
Recordou, contudo, que em certa ocasião o avião privado de Epstein teve de aterrar em Atlantic City e Epstein disse que iria ligar a Trump para ir a um dos seus casinos.
Aliás, Epstein, que fez fortuna a gerir as dos outros, gabava-se de ser amigo de poderosos e famosos. “Quando eu estava a massajá-lo, ele estava muitas vezes ao telefone, e uma vez disse: ‘Oh, aquele era o Leonardo [DiCaprio], ou a Cate Blanchett, ou o Bruce Willis. Esse tipo de coisas.” No entanto, Sjoberg negou ter conhecido algum ator.
Quem diz ter conhecido foi Michael Jackson, ao qual nada terá feito. Com quem terá mantido uma estranha troca de palavras foi com o ilusionista David Copperfield, num jantar em que este atuou. Este perguntou-lhe se ela sabia que “as raparigas eram pagas para encontrar outras raparigas”, mas que a conversa não foi aprofundada. Já era público que Sjoberg acusara o príncipe André de a ter apalpado.
Refira-se ainda um email enviado por Epstein a Maxwell, em 2015, no qual pedia para Maxwell “dar uma recompensa” a quem provasse no círculo de Virginia Giuffre que as suas alegações eram falsas, em especial as relacionadas com uma versão de que “Stephen Hawking participou numa orgia com menores de idade”. O físico esteve uma vez na ilha de Epstein, nas Caraíbas, no âmbito de uma conferência científica numa ilha vizinha.