Equipa da Agência Internacional de Energia Atómica "está a caminho" da central nuclear de Zaporíjia
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, revelou esta segunda-feira que está a caminho da central nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia, que tem sido alvo de ataques nas últimas semanas.
"O dia chegou, a Missão de Apoio e Assistência da AIEA a Zaporíjia está a caminho", anunciou Grossi no Twitter, acrescentando que a equipa do órgão de vigilância atómica da ONU estará na maior central nuclear da Europa "no final desta semana".
O responsável da AIEA partilhou ainda uma fotografia na rede social, na qual o vemos posar com a equipa de 13 inspetores, que está a caminho da Ucrânia. Há meses que Grossi pede para visitar a infraestrutura nuclear, alertando para "o risco muito real de um desastre nuclear".
"Orgulhoso de liderar esta missão que estará em Zaporíjia no final desta semana", escreveu o diretor-geral da AIEA.
"Esta missão será a mais difícil da história da AIEA devido à atividade de combate levada a cabo pela Rússia no terreno, mas também devido à forma óbvia como a Rússia está a tentar legitimar a sua presença no terreno", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba,
"Esperamos que a missão faça declarações claras sobre as violações de todos os protocolos de segurança nuclear", disse Kuleba durante uma visita a Estocolmo.
A Rússia congratula-se com a viagem da missão da AIEA à central nuclear. Quem o disse foi o representante permanente da Rússia para organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov, de acordo com a CNN International, que cita a agência estatal russa RIA.
Afirmou ainda que a AIEA deverá manter-se representada na central nuclear, após a missão dos inspetores.
"A Rússia contribuiu significativamente para a preparação desta missão. Esperamos que a visita à central pela missão da AIEA dissipe inúmeras especulações sobre a situação desfavorável" do complexo nuclear de Zaporíjia, acrescentou Ulyanov.
Após o anúncio de Grossi, os países do G7 exigiram acesso livre da equipa de inspetores da AIEA à central nuclear de Zaporíjia.
Os funcionários da AIEA devem ter acesso a todas as instalações nucleares na Ucrânia de forma segura e "sem impedimentos", lê-se no comunicado assinado pelos diretores responsáveis pela não-proliferação nuclear do G7.
Os inspetores da AIEA também devem ser autorizados a "interagirem diretamente, e sem interferência, com o pessoal ucraniano responsável pela operação das instalações" nucleares, refere a nota.
O controlo contínuo da central pelas forças armadas russas representa uma "séria ameaça" à "segurança e proteção das instalações", afirmaram os países do G7.
"Essas ações aumentam significativamente o risco de um acidente ou incidente nuclear e colocam em risco a população da Ucrânia, os estados vizinhos e a comunidade internacional", alertaram.
A central nuclear não deve ser usada para atividades militares ou armazenamento de material militar, disse o G7.
A central de Zaporíjia, que tem seis reatores, foi ocupada pelas tropas russas logo após Moscovo lançar a sua ofensiva militar em território ucraniano, a 24 de fevereiro.
De referir que Moscovo e Kiev têm trocado acusações sobre a autoria dos bombardeamentos nas proximidades da central nuclear, perto da cidade de Energodar. A operadora ucraniana Energoatom alertou mesmo no sábado para o risco de fugas de radioatividade e incêndio após novos ataques.
As Nações Unidas pediram o fim de todas as atividades militares na área do complexo nuclear. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques à central, sem acusar nenhuma das partes em conflito, e pediu a presença da AIEA no local, o que deverá acontecer no final desta semana.
Inicialmente, a Ucrânia receou que uma visita da AIEA pudesse legitimar a ocupação russa do local, mas acabou por apoiar a necessidade de uma missão de inspetores da agência internacional na central nuclear.
Aliás, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu na sexta-feira à AIEA para que enviasse uma equipa de inspetores a Zaporíjia o mais rápido possível. Isto depois de a central ter sido desligada, pela primeira vez, da rede elétrica nacional da Ucrânia, devido às "ações dos invasores", disse a Energoatom.
Zelensky afirmou que foi necessário acionar os geradores a diesel para evitar "um desastre radiativo".
"A Rússia colocou os ucranianos e todos os europeus a um passo do desastre radioativo", afirmou o presidente ucraniano na mensagem de vídeo diária.
O presidente russo, Vladimir Putin, concordou com a visita de uma missão de inspetores independentes em Zaporíjia, afirmou a presidência francesa, a 20 de agosto, após uma conversa entre o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, e o seu homólogo russo.
Notícia atualizada às 13:05