O Kremlin fez passar a mensagem de que a paz com a Ucrânia é alcançável num ano, um objetivo que um recente relatório da comunidade de serviços de informações dos Estados Unidos não encontrou. Kirill Dmitriev, enviado especial de Vladimir Putin, questionado sobre a hipótese de a guerra terminar no prazo de 12 meses, afirmou: “Acredito que sim.” Dmitriev, que acumula funções - é ainda diretor-geral do Fundo de Investimento Direto da Rússia - falava durante uma conferência em Riade, Arábia Saudita. “Estamos convencidos de que estamos no caminho da paz e, como construtores da paz, devemos concretizá-la.” O enviado russo esteve em Washington no fim de semana passado depois de o presidente norte-americano ter cancelado os planos para uma cimeira com o homólogo russo em Budapeste e ter imposto sanções às petrolíferas russas Rosneft e Lukoil. Mas Dmitriev, que tentou desvalorizar o impacto das sanções e tentar criar receio entre os norte-americanos - “só vai levar ao aumento dos preços nas bombas de gasolina dos EUA”, afirmou - saiu da capital sem um encontro de alto nível. .Ucrânia está pronta para negociar paz, mas não vai ceder território.Além disso, nas entrevistas que concedeu à CNN e à Fox News não conseguiu defender Moscovo das acusações de que as suas forças armadas bombardeiam áreas civis e inclusive infantários, como em Kharkiv, ou como sucedeu ontem num hospital pediátrico em Kherson, e que causou nove feridos, entre os quais crianças. “Não sou um militar”, foi como concluiu a intervenção sobre o tema depois de ter colocado a hipótese de um “acidente”. Dmitriev disse também que Moscovo e Washington estavam próximos de uma solução diplomática para pôr fim à guerra. Mas as suas declarações caíram em saco roto junto da administração Trump. “Vão realmente publicar o que um propagandista russo diz?”, questionou o secretário do Tesouro Scott Bessent à CBS News. O norte-americano disse que, em resultado das sanções e da pressão dos EUA, a Índia deixou de comprar petróleo russo “por completo”.Prova de que Washington não tem ilusões sobre o regime de Putin, um relatório da comunidade de serviços de informações conclui que o líder russo está mais determinado do que nunca para continuar a invasão por si ordenada em fevereiro de 2022. O documento, partilhado com os congressistas, e cujo conteúdo foi revelado pela NBC News, diz que perante as elevadas perdas humanas e a situação económica a agravar-se, Putin está cada vez mais entrincheirado na guerra para tentar obter território ucraniano de forma a justificar os custos. Mas, com ou sem ilusões, a administração Trump “quer manter relações produtivas” com ucranianos e russos ao mesmo tempo para acabar com o conflito, disse o vice-presidente, J.D. Vance, em entrevista ao New York Post. Quanto à guerra, Kiev desmentiu as declarações de Putin de que Kupiansk, no nordeste, e Pokrovsk, no Donbass, estão cercadas pelas forças russas. “Ficção e fantasia que não têm correspondência factual no terreno”, foi como responderam as forças ucranianas. Por seu lado, estas dizem ter atingido vários alvos militares na Crimeia ocupada, incluindo um depósito de combustível. E em território russo, drones terão atingido duas refinarias e uma fábrica de processamento de gás.