
Internacional
Enfermeira negra é a primeira vacinada no Brasil
Mônica Calazans, 54 anos, voluntária no combate à Covid-19, festejou o momento ao lado de João Doria, governador do estado de São Paulo que ganhou a guerra mediática da imunização ao presidente Jair Bolsonaro
"Estou falando como mulher, negra, brasileira: acreditem na vacina. Vamos pensar no monte de vidas que nós perdemos, quantas famílias nós perdemos, quantos pais, mães, irmãos. Eu quase perdi um irmão também com Covid. Diante disso, eu tomei coragem e participei da campanha da vacina". O discurso improvisado é de Mônica Calazans, a primeira pessoa no Brasil a receber a vacina contra o Covid 19, já noite de domingo, dia 17, em Portugal.
Calazans, de 54 anos, enfermeira, negra, do hospital Emílio Ribas, em São Paulo, voluntária no combate à doença desde o início da pandemia, recebeu a vacina Coronavac, resultante da parceria entre o Instituto Butantan, centro de pesquisas brasileiro com sede na maior cidade do país, e o laboratório chinês Sinovac. O Brasil tornou-se, assim, o 52º país do mundo a começar a imunização - o processo de vacinação dos cerca de 210 milhões de brasileiros, no entanto, ainda tem muitas perguntas sem resposta.
Ao lado da enfermeira surgiu na fotografia João Doria, sem disfarçar o sorriso, mesmo por baixo da máscara de proteção, por ter ganho o braço de ferro político a Jair Bolsonaro, que deve enfrentar em 2022 nas eleições presidencais, na guerra da vacinação.
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Mônica Calazans, 54 anos, voluntária no combate à Covid-19, festejou o momento ao lado de João Doria, governador do estado de São Paulo que ganhou a guerra mediática da imunização ao presidente Jair Bolsonaro
© EPA
Instantes antes de ser aplicada a vacina no braço de Calazans a Anvisa, autoridade sanitária do Brasil cujos membros são, em parte, nomeados pelo presidente da República, decidira por unanimidade, após longos e tensos meses de estudo, autorizar o uso da Coronavac - e também da Astrazeneca, vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz, centro de pesquisas com sede no Rio de Janeiro, a aposta do governo federal.
Sucede que a Coronavac já tem seis milhões de doses disponíveis e a Astrazeneca ainda aguarda embarque de dois milhões de vacinas da Índia em data a definir. Atacada por Bolsonaro, que duvidou da sua capacidade, a Coronavac será assim usada também pelo seu governo.
"O objetivo tem de ser salvar vidas e não fazer propaganda própria, um golpe de marketing", disse, entretanto, Eduardo Pazuello, ministro da saúde, em conferência de imprensa marcada às pressas para a mesma hora da cerimónia em que a enfermeira era vacinada.
Doria, por sua vez, disse que antes um golpe de marketing do que um golpe contra a vida. E lembrou frases controversas de Bolsonaro sobre a pandemia como o "e daí?", ao responder à onda de mortes, o "pressa para quê?", a propósito dos trâmites para aprovação da vacina, ou o "toma cloroquina que passa", em referência ao tratamento através daquele medicamento, não comprovado cientificamente e recusado pela própria Anvisa.
"É o triunfo da vida, contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte ao valor da vida", rematou Doria.
Já nesta segunda-feira, pressionado por governadores, o ministro da saúde, que é general paraquedista e sucedeu a dois médicos que se demitiram do cargo por incompatibilidades com Bolsonaro, anunciou o início da vacinação no país com Coronavac, cedida pelo governo de São Paulo.
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