Eleição de juiz é o primeiro plebiscito à Administração Trump
Os 3,8 milhões de eleitores do estado de Wisconsin vão escolher entre dois juízes no dia 1 de abril para a vaga aberta no Supremo Tribunal daquele Estado. Em causa está a continuidade da maioria progressista alcançada em 2023 e, como diz o filho do presidente Trump Jr., a "presidência pode ser travada com esta votação”, o que explica o valor recorde gasto na campanha, em especial pelo multimilionário Elon Musk.
Ann Walsh Bradley, a juíza que vai reformar-se, lembrou aos jornalistas que na primeira campanha por si protagonizada, em 1995, foi batido o máximo de despesas, um pouco mais de 400 mil dólares. A uma semana da votação, a atual campanha já ultrapassou os 73 milhões (67,5 milhões de euros). Apesar das quantias em jogo, quando faltava um mês para escolher entre a candidata apoiada pelos democratas, Susan Crawford, e o candidato da fação republicana, Brad Schimel, 58% diziam não ter opinião formada sobre a primeira e 38% sobre o segundo.
Mais do que os juízes em liça, são as políticas da nova Administração, ou o seu repúdio, que estão em jogo. Foi o homem encarregado por Donald Trump de emagrecer o Estado federal quem apontou os holofotes para aquele estado da região Centro-Oeste. “Muito importante votar republicano para o Supremo Tribunal de Wisconsin para prevenir a fraude eleitoral!”, escreveu na sua rede social, X, em janeiro.
Desde então, grupos ligados a Musk gastaram 13 milhões de dólares e nos últimos dias o grupo America PAC replicou as técnicas usadas na campanha presidencial, ao oferecer aos eleitores registados 100 dólares a quem forneça informações de contacto e assine uma petição contra “juízes ativistas” e outros 100 a quem der o contacto de outro eleitor.
Em resposta, os democratas, que voltaram a ter maioria no Supremo estadual em 2023 após uma campanha centrada no direito ao aborto, deixaram esse e outros temas para segundo plano, ao escolher o fundador da SpaceX como seu adversário, tentando aproveitar o descontentamento gerado pelos despedimentos feitos pelo departamento que Musk dirige de facto.
“Não deixem Elon comprar o nosso tribunal” é uma das frases de ordem que os democratas de Wisconsin têm espalhado em cartazes e num veículo com ecrã gigante. Noutro cartaz, a fotografia de Musk na sua aparente saudação fascista é usada numa montagem com o candidato que apoia como uma marioneta sua, e no qual se lê: “Alguns escolhem não ver a verdade. Não ponham o fantoche de Elon Brad Schimel no Supremo Tribunal.”
A composição do tribunal poderá ter implicações para as eleições intercalares de 2026 e para as presidenciais de 2028. Os republicanos alegam que uma maioria democrata poderá redesenhar os círculos eleitorais em seu benefício num Estado em que Trump venceu por menos de um ponto de vantagem. “Na minha opinião, isso é o mais importante, dada a maioria do Congresso ser tão estreita”, disse Musk numa ação de campanha a favor de Schimel.
Com o Supremo Tribunal dos EUA a deitar por terra o direito ao aborto, cada estado ficou de encontrar a sua legislação. No Wisconsin, está em discussão a validade de uma lei de 1849 que criminaliza “a morte voluntária de uma criança em gestação”. Além disso, a associação Planned Parenthood interpôs uma ação judicial para o Supremo se pronunciar sobre a existência ou não de um direito constitucional ao aborto no estado. À Associated Press, vários eleitores que votaram de forma antecipada mostravam ser esta a sua motivação para escolher um ou o outro candidato.
Outra lei a avaliar envolve os direitos de negociação coletiva dos sindicatos do setor público, que foram retirados numa lei de 2011 agora contestada.
Perfis
Brad Schimel
O juiz de 60 anos do Condado de Waukesha adotou a linguagem de Trump. “Schimel está a concorrer para salvar o tribunal”, lê-se na página da campanha, onde afirma que “ser ‘duro com o crime’ não é apenas um slogan de campanha; é uma vocação”. Recebeu o apoio do presidente, a visita do seu filho mais velho e também de Musk. Os democratas acusam-no de ter recebido dinheiro das farmacêuticas para a sua campanha de procurador-geral estadual, e em troca não as ter processado pela epidemia de opioides.
Susan Crawford
É juíza no Condado de Dane, depois de ter entrado na carreira em 2018. Foi procuradora-geral adjunta entre o final dos anos 1990 e o início da década seguinte. Mais tarde foi conselheira jurídica do governador e advogada, tendo representado a organização Planned Parenthood. Num debate com o juiz concorrente chamou-lhe “Elon Schimel” e acusou-o de ser de extrema-direita, enquanto este diz que a juíza de 62 anos é “uma radical de beca com uma agenda extrema e perigosa”.