Um jovem ucraniano removido à força para a Rússia após a invasão da região de Kherson conseguiu fugir após dois anos retido, e é um dos protagonistas do documentário "As Crianças Roubadas da Ucrânia", da realizadora Shahida Tulaganova..O documentário "Ukraine's Stolen Children" relata como milhares de crianças terão sido removidas à força para a Rússia após a invasão em fevereiro de 2022. .Denis estava internado num orfanato na aldeia de Stepanivka quando foi levado por soldados armados em outubro daquele ano e levado para a Rússia, onde permaneceu apesar dos esforços da madrinha e familiares para o recuperar. .O documentário, transmitido recentemente pelo canal de televisão britânico ITV, mostra excertos de filmes de propaganda russa nos quais Denis participou, falando das boas condições em que estava a viver. .A certa altura, o jovem também telefonou, indicando que pretendia ficar na Rússia. .Mas Tulaganova revelou à agência Lusa que Denis, atualmente com 18 anos, conseguiu sair da Rússia para a Europa há duas semanas , depois de "planear a fuga com muito cuidado". ."Ele queria mesmo sair, mas demorou algum tempo", acrescentou, descrevendo-o como "um rapaz muito inteligente"..Segundo a jornalista e realizadora, Denis foi forçado por agentes de Moscovo a participar nos vídeos de propaganda e a dizer à família que não ia regressar e acredita que, "se ele tivesse ficado na Rússia, mais cedo ou mais tarde, teria sido chamado para o exército"..Depois de quase dois anos, "a forma de ele pensar mudou, o que é normal para os jovens que passam algum tempo na Rússia, porque estão sujeitos a muitas das narrativas", admitiu Tulaganova. ."Quando lhe perguntaram o que pensa, diz: 'Só quero que a guerra acabe'. Vai ser preciso algum tempo para que ele se reencontrar", confiou..No documentário, a antiga jornalista da BBC, natural do Uzbequistão, entrevistou algumas crianças que conseguiram voltar graças aos esforços das famílias, após viagens arriscadas em que foram interrogadas pelas autoridades russas. ."As crianças regressam muito traumatizadas, assustadas e um pouco confusas. Nunca falei com as crianças logo após o seu regresso, pois elas estiveram nos campos durante cerca de seis a nove meses e isso é muito tempo para estarem sem os pais, num país hostil, sem saber o que vai acontecer a seguir", explicou. .Nos campos, contaram, foram sujeitas a reeducação e pressão psicológica ao serem obrigadas a falar russo e a cantar o hino nacional e proibidas de falar da Ucrânia. .Kiev calcula que pelo menos 20.000 crianças ucranianas foram transferidas à força para a Rússia, e apenas cerca de 400 foram repatriadas..Na terça-feira, o Provedor para os Direitos Humanos, Dmytro Lubinets, anunciou a libertação de 11 crianças entre os 02 e os 16 anos graças à mediação do Qatar e da Unicef. .Moscovo tem rejeitado firmemente as acusações, que implicaram por parte do Tribunal Penal Internacional (TPI, que a Rússia não reconhece) a emissão em março de 2023 de mandados de captura contra o Presidente russo, Vladimir Putin, e contra a comissária russa para a infância, Maria Lvova-Belova, por "deportação ilegal" de milhares de crianças ucranianas.."Há muitos pontos de interrogação, mas não importa quantas crianças os russos levaram. Mesmo que tenham levado dez, continua a ser um crime, o número não quer dizer nada. O crime foi cometido, eles não tinham o direito", insiste Shahida Tulaganova, que espera que o documentário ajude a sensibilizar para o impacto da guerra nos civis, especialmente mulheres e crianças. .A ofensiva militar russa no território ucraniano, desencadeada em 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)..Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.