Do advogado à fisioterapeuta: Quem vai decidir se Trump é culpado ou não
Terminada que está a seleção dos 12 jurados que irão decidir se Donald Trump, o primeiro ocupante da Casa Branca a ser julgado num processo criminal, é ou não culpado de ter ocultado o pagamento de 130 mil dólares pelo silêncio da atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels acerca de uma relação sexual que alegadamente tiveram em 2006, ontem, o quarto dia do julgamento, foi marcado pela escolha de mais seis jurados suplentes, que entrarão em ação caso alguns dos membros efetivos fiquem indisponíveis. As alegações iniciais deste processo histórico deverão começar na próxima semana, sendo que é esperada uma sentença antes das eleições presidenciais de 5 de novembro.
Ontem, Donald Trump chegou ao Tribunal Criminal de Manhattan, em Nova Iorque, e deixou claro, mais uma vez, o quão aborrecido está com a ordem de silêncio parcial , que considera “muito injusta”, imposta pelo juiz do processo para impedi-lo de usar as redes sociais - nomeadamente a sua Truth Social - para atacar testemunhas, procuradores do Ministério Público e familiares de funcionários do tribunal, incluindo do próprio juiz Juan Merchan.
“O juiz tem de retirar esta ordem de silêncio”, afirmou Trump, que tem um longo historial, inclusive enquanto presidente, de fazer declarações ameaçadoras ou insultuosas contra opositores.
O julgamento no Tribunal Criminal de Manhattan, em Nova Iorque, deverá durar seis a oito semanas, ou seja, deverá ficar encerrado antes das presidenciais. Os processos em que o republicano está envolvido perturbaram os seus planos de campanha - no caso deste julgamento, como é criminal, o ex-presidente está obrigado a assistir a todas as sessões -, mas ele tem usado a presença dos meios de comunicação social para transmitir a alegação de que está a ser vítima de uma “farsa”.
Donald Trump enfrenta ainda três outros processos criminais, incluindo acusações como a tentativa de anular a derrota nas eleições de 2020 para Joe Biden, mas estes têm sido repetidamente adiados.
Processo de escolha difícil
A dificuldade de escolher jurados que sejam considerados imparciais para julgar um dos homens mais polémicos dos Estados Unidos, mas que também tenham disponibilidade para dedicar, pelo menos, dois meses a este julgamento, ficou clara ao longo do processo de seleção esta semana.
Já ontem, três pessoas que estavam a ser avaliadas para as vagas finais de suplentes foram vencidas pela emoção enquanto respondiam aos advogados. “Sinto muito. Pensei que poderia fazer isto”, disse uma, que foi rapidamente dispensada pelo juiz Juan Merchan. “Isto é muito mais stressante do que eu pensava que seria.”
Susan Necheles, advogada de Trump, aproveitou também para questionar os potenciais jurados suplentes sobre o que pensavam de Michael Cohen - advogado do republicano à altura dos factos e que serviu como intermediário do pagamento -, que deverá ser ouvido co- mo testemunha. O juiz não gostou, interrompeu Necheles, e disse que serão os jurados a determinar a credibilidade das testemunhas quando estas depuserem em tribunal.
De um advogado a uma fisioterapeuta
Estas são as 12 pessoas que foram escolhidas para fazer parte do painel de jurados do julgamento de Donald Trump neste processo.
Jurado número 1
Este jurado será também o porta-voz do júri, a pessoa que, no final do julgamento, dirá em tribunal se decidiram que Donald Trump é ou não culpado. É homem, originário da Irlanda, vive no West Harlem, casado e sem filhos, trabalha em vendas e frequentou o Ensino Superior. Mantém-se informado através dos jornais The New York Times e Daily Mail, vê por vezes a Fox News e a MSNBC.
Jurado número 2
Homem, banqueiro de investimentos, possui um mestrado. Casado e sem filhos. Segue as mensagens de Donald Trump na rede social Truth e de Michael Cohen - advogado do ex-presidente entre 2006 e 2018, foi ele quem tratou do pagamento a Stormy Daniels - na rede social X. Já leu citações do livro do líder republicano Donald Trump - A Arte da Negociação.
Jurado número 3
Homem, originário do estado do Oregon, é advogado corporativo. É descrito como sendo solteiro e sem filhos, vive há cinco anos no Bairro de Chelsea, em Manhattan. Mantém-se informado através da leitura dos jornais The New York Times e The Wall Street Journal e também do Google.
Jurado número 4
Homem, trabalha como engenheiro de segurança. É casado e tem três filhos. Como habilitações literárias informou ter o diploma do liceu. Não tem conta em nenhuma rede social, gosta de trabalhar em marcenaria.
Jurado número 5
Mulher, é professora de Inglês no sistema público de escolas autónomas. Tem um mestrado em Educação. Jovem negra, solteira e sem filhos, vive no Harlem com o namorado. Evita ter conversas sobre política. Não sabia que Trump enfrenta acusações noutros casos criminais.
Jurado número 6
Mulher, é engenheira de software. Concluiu recentemente o curso superior. Não é casada e não tem filhos e vive no Bairro de Chelsea, onde divide casa com outras três pessoas. Recebe notícias do jornal The New York Times, Google, Facebook e TikTok.
Jurado número 7
Homem, é advogado de Direito Civil. Casado e com dois filhos,
mora no Upper East Side, em Manhattan. Disse em tribunal que provavelmente havia políticas da Administração de Donald Trump das quais ele discordava. Lê os jornais The New York Times, The Wall Street Journal, New York Post e The Washington Post.
Jurado número 8
Homem, é reformado, e durante a sua vida ativa exerceu as funções de gestor de património. Casado e com dois filhos. Afirmou em tribunal que conhece Donald Trump, mas está “mais interessado nos [seus] hobbies”. Gosta de fazer ski, ioga e pescar.
Jurado número 9
Mulher, é terapeuta da fala e possui um mestrado. Não é casada, nem tem filhos. Quando questionada por Susan Necheles, uma das advogadas de Donald Trump neste julgamento, se ela se sentiria pressionada por outros, respondeu: “De forma alguma”. Gosta de ouvir podcasts sobre reality TV.
Jurado número 10
Homem, trabalha para uma empresa de comércio eletrónico. Nasceu e cresceu no estado do Ohio. Não é casado e vive com outro adulto. Disse em tribunal que não acompanha a atualidade noticiosa, mas lê o diário The New York Times. Ouve podcasts sobre Psicologia Comportamental.
Jurado número 11
Mulher, trabalha para uma empresa multinacional de vestuário. Solteira e sem filhos, não é originária de Nova Iorque. Disse em tribunal não acompanhar as notícias com regularidade mas que, de vez em quando, lê as manchetes. Usa o Google para se manter atualizada. Afirmou também não gostar da “personagem” Donald Trump, acrescentando ainda que “ele parece muito egoísta e preocupado com os seus próprios interesses”.
Jurado número 12
Mulher, exerce a profissão de fisioterapeuta e possui um doutoramento em Fisioterapia. Casada e sem filhos. Lê os jornais The New York Times e USA Today e vê a CNN. Gosta de correr, jogar ténis e ouvir podcasts sobre desporto e fé.
ana.meireles@dn.pt