Discurso histórico no Senado pode fazer Cory Booker sonhar mais alto
"O que Cory Booker fez nas últimas 24 horas pode ter mudado o curso da História política.” Este elogio foi feito na terça-feira à noite pelo estratega republicano Frank Lutz, ao descrever a maratona do democrata Cory Booker, que tinha acabado de passar não 24, mas sim 25 horas e cinco minutos a discursar no Senado contra as políticas do presidente Donald Trump, entrando para a história como a intervenção mais longa de sempre daquela câmara.
Os elogios não ficaram por aqui. “Ele deu o tipo de tom que os democratas das bases estão à procura. Ele deu-lhes um motivo para lutar. Ele deu-lhes um motivo para se levantarem e dizerem, este é meu país também”, prosseguiu Lutz, sublinhando que com este discurso Booker tornou-se num nome a ter em contra entre os democratas. “Este discurso coloca Cory Booker como um dos líderes do Partido Democrata para 2028”, disse Luntz, referindo-se às presidenciais, acrescentando que “se perguntar aos senadores democratas agora, quem eles preferiram ver a liderá-los nos próximos três anos, eles escolheriam Cory Booker em vez de Chuck Schumer. É assim que o dia de hoje foi significativo.”
O senador de Nova Jérsia tomou a palavra no Senado às 19h00 de segunda-feira (mais cinco horas em Lisboa), explicando que o seu objetivo era “interromper os trabalhos normais do Senado dos Estados Unidos enquanto estiver fisicamente apto” para protestar contra a agenda de Donald Trump e da sua administração. O que veio a acontecer às 20h05 de terça-feira, batendo assim o recorde de Strom Thurmond, com uma intervenção de 24h18m contra a Lei dos Direitos Civis em 1957.
Durante o seu discurso, Cory Booker abordou alguns dos aspetos mais polémicos da atual Administração Trump, como os cortes na Administração Pública feitos pelo departamento de Elon Musk, as tarifas, as alterações no sistema de saúde, ou a aproximação da Casa Branca à Rússia e as críticas à NATO. “Em apenas 71 dias, o presidente dos Estados Unidos infligiu tantos danos à segurança dos americanos, à estabilidade financeira, aos fundamentos essenciais da nossa democracia e até mesmo às nossas aspirações como povo por um senso de decência comum vindo dos nossos mais altos cargo”, disse Booker a dada altura.
Mas também assumiu as culpas dos democratas perante o eleitorado. “Fui desafiado pelos meus constituintes a fazer algo diferente, desafiado pelos meus constituintes a fazer alguma coisa, desafiado pelos meus constituintes a correr riscos”, revelou.
Nesta maratona - durante a qual não se podia sentar ou abandonar a sala - Booker contou com a ajuda de dezenas de colegas democratas que lhe fizeram perguntas, uma forma de descansar a voz e poupar energias. Nas redes sociais, foi seguido por milhões de pessoas durante estas 25 horas. “Para todos os americanos é um momento moral. Não é esquerda ou direita. É o certo ou errado”, declarou mesmo no final.
Cory Booker, de 55 anos, entrou para o Senado em 2013, o primeiro afro-americano a representar Nova Jérsia e é, atualmente, um dos cinco (entre cem) eleitos negros desta câmara do Congresso. Antigo presidente da Câmara de Newark, já há muito que procura ter projeção nacional, mas sem grande sucesso - concorreu à nomeação democrata para as presidenciais de 2020, mas desistiu cedo devido à falta de apoios.
De acordo com o Politico, “ele ocupa uma posição júnior na liderança democrata do Senado, como presidente de comunicações estratégicas, e é visto pelos seus colegas como alguém que poderia facilmente subir na hierarquia se assim o desejasse.”
E isso poderá acontecer mais cedo do que talvez Cory Booker esperava. “Os democratas pareciam fracos e sem liderança há 72 dias, mas então Cory Booker levantou-se e fez algo”, escreveu ontem na sua coluna de opinião David Smith, responsável pela delegação do jornal The Guardian em Washington.