Dia extra permitiu um acordo na COP27
União Europeia chegou a ameaçar que preferia sair do Egito sem um entendimento do que se conseguir um mau acordo. Ecologistas esperavam mais ambição no texto apresentado.
A COP27 precisou de um dia extra para chegar a um acordo sobre a criação de um fundo de compensação aos países mais pobres que são vítimas de condições climáticas agravadas pela poluição das nações ricas. "Um acordo foi alcançado sobre a criação deste fundo específico para os países vulneráveis", disse ontem uma fonte, que pediu anonimato. Inicialmente, estava previsto que esta conferência terminasse na sexta-feira, mas foi decidido que as quase 200 delegações iriam trabalhar mais um dia para conseguirem sair do Egito com um entendimento para apresentar ao mundo, evitando assim o fracasso deste encontro.
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A presidência egípcia da COP27 distribuiu, ao início da tarde de ontem, um novo projeto de comunicado final entre as delegações, após uma noite de negociações intensas. Este novo texto foi apresentado depois de um ultimato europeu, que denunciou o que considerava um "retrocesso inaceitável". A União Europeia prefere "não ter um acordo do que ter um mau acordo", afirmou ontem de manhã em Sharm El-Sheikh o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.
De acordo com os representantes europeus, a presidência egípcia queria provocar um retrocesso do compromisso dos quase 200 países membros da COP de continuar a reduzir as emissões de gases de efeito de estufa. "A grande maioria das partes indicou que considerava o texto equilibrado e que pode resultar num consenso", respondeu pouco depois o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shoukry, que presidiu à COP27.
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A proposta de texto final reafirma os objetivos do Acordo de Paris, que visam limitar o aquecimento global a uma temperatura média "bem abaixo de 2ºC" em relação à era pré-industrial e, se possível, ficar nos 1,5ºC, destacando que os impactos das alterações climáticas serão significativos se a variação for de 1,5ºC. "Não estamos aqui para fazer declarações, e sim para manter o objetivo de 1,5ºC vivo", já havia dito a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock.
Quanto às compensações a dar aos países que já sofrem danos com as alterações climáticas - que exigem a criação de um fundo há 30 anos -, o documento propõe estabelecer "novas formas de financiamento para ajudar os países em desenvolvimento" a "mobilizar recursos novos e adicionais". Mas também a "criação de um fundo de resposta a perdas e danos", cujo funcionamento e financiamento terão de ser elaborados por um "comité de transição" até à COP28, a realizar no final de 2023.
Os países ricos resistem há anos à ideia de um financiamento específico, mas a UE abriu um precedente na quinta-feira, ao aceitar o princípio de um "fundo de resposta para perdas e danos" reservado "aos mais vulneráveis" com " uma base alargada de contribuintes", insinuando que a China, que se tornou mais rica nos últimos 30 anos, deve contribuir também.
Ecologistas esperavam mais
Este projeto de acordo dececionou os ambientalistas, para quem o texto reproduz praticamente o último documento apresentado na COP do ano passado, em Glasgow. "Embora o texto sublinhe a necessidade de aumentar urgentemente as energias renováveis através de uma transição justa para atingir o limite de 1,5ºC, não vai além das declarações do Pacto de Glasgow sobre a eliminação gradual do carvão e a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes", disse Sven Harmeling, especialista em política climática da Climate Action Network Europe.
Já a Greenpeace fez "um apelo aos países da UE para que insistam com a presidência para que inclua uma conclusão sobre o abandono gradual do carvão, gás e petróleo".
Nas partes relativas ao financiamento da ação ou adaptação climática, as ONG acreditam que a nova proposta é ainda mais fraca. Porque, sustentam, já não inclui um roteiro para duplicar o financiamento da adaptação até 2025.