Deputado dissidente de Macron candidata-se como "símbolo" de franceses em Portugal
"Este episódio dá que falar entre os franceses que vivem no estrangeiro. Claro que há uma personalidade importante neste círculo eleitoral, mas a minha decisão é um símbolo de certos princípios. Sei que de França olham para este círculo eleitoral com atenção. Eu disse 'não' a uma decisão que não acho correta, digo não ao antigo primeiro-ministro [Manuel Valls] e não a Emmanuel Macron", afirmou o deputado francês em declarações à Agência Lusa.
Em 2017, Stéphane Vojetta, que vive desde 2005 em Espanha, apresentou-se como suplente de Samantha Cazebonne pelo partido do Presidente francês, com a candidata a ser eleita. Em 2021, Samantha Cazebonne tornou-se senadora e Vojetta assumiu as funções como deputado dos franceses que vivem em Espanha, Portugal, Andorra e Mónaco.
Conhecido pela comunidade em Espanha por ter sido presidente da Associação de Pais do Liceu Francês de Madrid e conselheiro consular, Stéphane Vojetta está desde setembro na Assembleia Nacional e ajudou mesmo a redigir o programa do Presidente no que diz respeito às propostas para a diáspora. De Paris, disseram-lhe que o apoio à sua recandidatura estaria assegurado nestas eleições legislativas.
"Foi uma enorme surpresa [a nomeação de Valls]. Tinha falado com algumas pessoas do partido e mesmo da Presidência da República que me tinham dito que não me preocupasse com outro candidato no círculo eleitoral que represento", explicou.
Desde a nomeação do antigo primeiro-ministro, Vojetta decidiu manter a sua candidatura, assegurando que vai "até ao fim" e tem recebido "milhares de mensagens" de franceses em toda a Península Ibérica encorajando-o a continuar, apesar da sua dissidência.
"Ninguém me deu uma boa explicação para esta decisão, não sou eu que a vou qualificar, mas milhares de franceses contactaram-me para me dizer que não compreendem, tal como eu, esta decisão e que não é legítima. Eu sou a pessoa mais bem colocada para ganhar esta eleição", defendeu.
Depois da vitória de Emmannuel Macron na segunda volta das eleições presidenciais em abril, sobre a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, as legislativas de junho vão definir a composição do próximo parlamento.
Nos meses em que foi deputado, Stéphane Vojetta bateu-se para facilitar o processo de renovação de documentos dos franceses no estrangeiro, isentando-os de idas presenciais aos consulados, utilizando um sistema de video-conferência. Este é um projeto-piloto que deverá começar em Portugal e no Canadá e depois estender-se ao resto do Mundo.
"É bom para os franceses que vivem no Algarve ou nos Açores que já não têm de ir a Lisboa só para renovar os documentos", exemplificou o deputado.
Se Stéphane Vojetta ganhar as eleições, a sua intenção é integrar, mesmo assim, o grupo do partido do Presidente, o 'República em Marcha', que agrupa também os partidos 'Movimento Democrático' e 'Horizontes'.
"Eu estou aberto a falar com toda a gente da maioria presidencial e quero integrar o grupo da maioria presidencial", declarou.
Entretanto, a campanha de Vojetta já começou, com o candidato a percorrer a Península Ibérica de carro, passando também pelas ilhas Baleares, mantendo-se aberto a debater com qualquer convidado, embora revele que ainda não foi contactado por Manuel Valls.
Os franceses espalhados pelo Mundo são representados por 11 deputados que correspondem a 11 círculos eleitorais, tendo acesso a diversas modalidades de voto.
Em território francês, a eleição decorre a 12 e 19 de junho, e no estrangeiro o voto presencial decorre de forma faseada e tem várias modalidades.
Os eleitores da circunscrição que abrange Portugal votam no dia 05 de junho e no dia 18 de junho; quem vota por correio deve enviar o seu voto até dia 03 de junho e, para a segunda volta, até 17 de junho.
Já pela internet, o voto decorre de 27 de maio a 01 de junho e a segunda volta de 10 a 15 de junho.