Nigel Farage replicou a retórica de Moscovo, mas diz não ser apoiante de Putin.
Nigel Farage replicou a retórica de Moscovo, mas diz não ser apoiante de Putin.OLI SCARFF/AFP

Depois da União Europeia, a Ucrânia é o novo alvo de Farage

O populista foi alvo da restante classe política britânica por ter culpado o Reino Unido, a UE e a NATO pela guerra na Ucrânia. Segundo as sondagens, o seu partido estava a lutar pelo segundo lugar nas eleições de 4 de julho.
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 À campanha eleitoral no Reino Unido não faltavam pontos de interesse, para lá dos debates e da discussão dos programas, como o escândalo das apostas sobre a data das eleições, e que levou ao afastamento do diretor da campanha dos conservadores e à detenção de um polícia que fazia a segurança do primeiro-ministro, Rishi Sunak. Agora o agente provocador Nigel Farage, que regressou sob a plataforma Reform UK, agitou as águas ao atribuir a responsabilidade da invasão da Ucrânia pela Rússia à União Europeia e à NATO - e em reação os restantes partidos mostraram uma rara unanimidade. Enquanto os meios de comunicação russos elogiavam o “esclarecimento” de Farage, as suas forças armadas voltaram a atacar as infraestruturas energéticas da Ucrânia e a bombardear uma área residencial de Kharkiv. 

A guerra na Ucrânia tem sido um dos raros temas a merecer consenso na sociedade britânica. Até agora, Nigel Farage, o homem que foi o ponta de lança da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, decidiu voltar à política ativa com um discurso virado sobretudo contra a imigração, e as sondagens indicam que poderá, pela primeira vez, eleger deputados na Câmara dos Comuns. Mas numa entrevista à BBC o antigo eurodeputado papagueou os argumentos do Kremlin e disse admirar Vladimir Putin, na linha de outro aliado seu, Donald Trump.

Questionado sobre uma mensagem publicada no então Twitter, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, e na qual disse que esta foi “uma consequência da expansão da União Europeia e da NATO”, o populista reafirmou o que escreveu. “Nós provocámos esta guerra”, disse, gabando-se de ser a “única pessoa na política britânica” a prever o que iria acontecer em 2014 (depois de Moscovo ter anexado a Crimeia e iniciado a guerra por procuração no Leste da Ucrânia). Sobre Putin, disse na entrevista que o “admirava enquanto ator político, porque conseguiu assumir o controlo da gestão da Rússia”, embora tenha dito “não simpatizar com Putin como pessoa”. 

Até agora, o Reform UK estava a subir nas sondagens e, com 17%, aproximava-se dos conservadores (21%), embora esse apoio se traduza apenas na possível eleição do próprio Farage e de outros quatro deputados. As declarações não passaram em claro. O chefe do governo da Escócia e líder do SNP (nacionalistas escoceses), John Swinney, foi o menos diplomático ao chamar Farage de “traidor” e de um “homem perigoso”.

O primeiro-ministro Sunak disse que as declarações, além de “completamente erradas”, são “um género de apaziguamento perigoso” com um regime que atacou com um agente nervoso “nas ruas do Reino Unido”, referência ao ataque de dois agentes russos ao antigo agente duplo Sergei Skripal. O homem que, segundo as sondagens, irá ser o próximo primeiro-ministro, o trabalhista Keir Starmer, classificou as palavras de Farage de “vergonhosas” e lembrou que Putin “é o único responsável” pela agressão na Ucrânia.

Perante o vendaval de críticas, Farage, que no passado foi pago pelo regime russo para fazer comentários no canal RT, defendeu-se num artigo publicado no Daily Telegraph. Reafirmou os “erros catastróficos do Ocidente” na Ucrânia , mas disse que “não é apologista nem apoiante de Putin”. 

Energia pela metade

Bombardeamento russo destruiu edifício residencial em Kharkiv. (SERGEY BOBOK / AFP)

As forças russas lançaram um novo ataque às infraestruturas energéticas ucranianas, o oitavo em três meses, na noite de sexta-feira e no sábado. As instalações da empresa Ukrenergo foram atingidas nas regiões de Zaporíjia e Lviv. Na quinta-feira tinha sido a vez da região de Kiev ter sido alvo de ataque às infraestruturas energéticas. Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Rússia destruiu metade da capacidade energética do seu país. A situação é tal que Maxim Timshenko, diretor-geral da empresa DTEK, afirmou que a Ucrânia se arrisca a ser “confrontada com uma grave crise este inverno”.

Falhada a tentativa de invasão iniciada em maio na região de Kharkiv, a Rússia tem bombardeado a cidade. No sábado, recorrendo às novas bombas teleguiadas, matou pelo menos três pessoas e feriu cerca de 40. Lançadas a partir da região de Belgorod, as bombas podem ser disparadas a partir do solo e a longa distância, bem como a partir de aviões, o que complica a defesa ucraniana.

cesar.avo@dn.pt

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