Demonstração  de força de Trump: Guarda Nacional já está em Washington
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Demonstração de força de Trump: Guarda Nacional já está em Washington

Primeiros militares chegaram à capital federal na 3.ª-feira, ao fim do dia. Mais virão até aos 800 anunciados pelo presidente, que colocou a cidade sob controlo federal para combater "o crime".
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O sol já se punha sobre Washington quando cinco veículos militares estacionaram junto ao Washington Monument na terça-feira à noite (madrugada de ontem em Lisboa). A dúzia de militares da Guarda Nacional que neles seguiam saíram rapidamente, colocando-se em posição nas ruas junto ao Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana e ao Museu Memorial do Holocausto. Por entre residentes que passeavam os cães e outros que faziam uma corrida de fim de dia, três agentes da DEA, a agência federal responsável pela repressão e controlo de narcóticos, caminhavam em direção ao Capitólio. Este pequeno contingente foi o primeiro a chegar à capital federal depois de o presidente Donald Trump ter anunciado, na segunda-feira, que ia colocar a cidade sob controlo federal para a “resgatar do crime”. Isto apesar de os números mostrarem que o crime está ao nível mais baixo em 30 anos.

Apesar da presença de vários agentes federais e dos militares da Guarda Nacional nas ruas de Washington DC (são esperados mais nos próximos dias até chegar aos 800 anunciados por Trump), ontem ainda não parecia muito claro quem controlava, de facto, as ruas da capital federal. Segundo o Washington Post, as autoridades do Distrito de Columbia - onde fica a capital - disseram ainda estar sob o Comando do Departamento, operando normalmente, sem ter recebido novas ordens da Administração Trump. “A chefe de polícia da cidade, Pamela A. Smith, tem dado ideias sobre como as forças policiais federais poderiam ser usadas por Washington, D.C. - e não o contrário”, escrevia o mesmo jornal, citando uma autoridade distrital que falou sob condição de anonimato para descrever negociações delicadas e em andamento.

Um agente da Polícia dos Parques  - uma das mais antigas agências federais dos EUA - observa os turistas  junto à estátua no Memorial a Lincoln.
Um agente da Polícia dos Parques - uma das mais antigas agências federais dos EUA - observa os turistas junto à estátua no Memorial a Lincoln.EPA/WILL OLIVER

Citado pelo New York Times, o sargento-mor Cory Boroff, um dos militares que seguia nos tais primeiros cinco Humvees, explicou: “Acabámos de fazer uma patrulha de presença, para estarmos entre as pessoas, para sermos vistos”. Mas acrescentou ainda não saber para onde iriam a seguir.

Estas dúvidas sobre as orientações a seguir contrastam com as declarações da Casa Branca, que continua a passar a ideia de estar no pleno controlo da situação. “Planeamos trabalhar com a polícia de Washington”, garantiu a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, na terça-feira, “mas, em última análise, a cadeia de comando é a seguinte: o presidente dos EUA; a procuradora-geral dos EUA; o nosso administrador da DEA, Terry Cole”, que, segundo ela, “está na liderança” do departamento e está “a trabalhar para garantir que os agentes da lei possam fazer o seu trabalho nesta cidade”.

Entretanto, os agentes da polícia de Washington ainda estão encarregues das patrulhas diárias e do combate ao crime, confessando a sua confusão sobre como o seu trabalho vai mudar, de acordo com dois agentes e um oficial da polícia citados pelo Washington Post. As mesmas fontes confessaram haver, dentro da polícia da cidade, quem esteja preocupado que a intervenção federal possa minar a confiança de muitas comunidades nos agentes na capital.

Agentes da DEA  em patrulha junto  à Union Station.
Agentes da DEA em patrulha junto à Union Station.EPA/WILL OLIVER

Na segunda-feira, numa conferência de imprensa em que surgiu ladeado pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth, e pela procuradora-geral, Pam Bondi, Trump denunciou: “A nossa capital foi tomada por gangues violentos e criminosos sanguinários.” Na ordem executiva a decretar o envio da Guarda Nacional, pode ler-se que “o aumento da violência na capital coloca agora em perigo urgente os funcionários públicos, os cidadãos e os turistas, perturba a segurança dos transportes e o bom funcionamento do Governo Federal”.

Esta onda de violência que a Casa Branca promete agora combater é, no entanto, desmentida pelos números da polícia da cidade. A mayor democrata, Muriel Bowser, afirmou aos media que a cidade está longe de viver “um pico de crimes”. Pelo contrário, o crime violento diminuiu 26% nos primeiros sete meses de 2025, após ter caído 35% em 2024, e os crimes em geral diminuíram 7%, segundo a polícia metropolitana.

Trump tem vindo a intensificar as mensagens nas quais sugere a intenção de retirar a autonomia à capital e promover um controlo federal total. O Distrito de Columbia, onde fica Washington, criado em 1790, funciona ao abrigo do Home Rule Act, que confere ao Congresso a autoridade máxima, mas permite aos residentes elegerem um presidente da câmara e um Conselho Municipal. Trump garantiu há dias que os advogados estão a analisar como revogar a lei, uma medida que provavelmente exigiria aprovação do Congresso.

Decisão de Trump gerou protestos
Decisão de Trump gerou protestosEPA

Foi precisamente a Secção 720 desse Home Rule Act que o presidente invocou agora. Esta estipula que “sempre que o presidente dos EUA determinar que existem condições especiais de natureza de emergência que exigem o uso da força policial metropolitana para fins federais, ele poderá instruir o mayor a fornecer-lhe, e este deverá fazê-lo, os serviços da força policial metropolitana que o presidente considerar necessários e apropriados.” Este controlo de emergência termina ao fim de 30 dias, a não ser que o presidente consiga que ambas as câmaras do Congresso aprovem o seu prolongamento.

A decisão do presidente foi recebida com protestos nas ruas da capital, com os manifestantes a denunciarem a deriva autoritária de Trump. No mesmo dia, o chefe do Estado americano ordenou o desmantelamento dos acampamentos de sem-abrigo. Afirmando que a capital está a ser tomada por “maníacos drogados e pessoas sem-abrigo”, Trump prometeu: “Vamos ajudá-los tanto quanto pudermos, mas eles não terão permissão para transformar a nossa capital num terreno baldio para o mundo ver.”

Entre críticas e receios de que este possa ser apenas o primeiro passo para um maior poder presidencial, Trump ameaçou ainda alargar estas medidas a outras cidades dos EUA, como Nova Iorque ou Chicago, ambas governadas por democratas.

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Trump coloca Washington sob controlo federal e ordena envio de militares da Guarda Nacional

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