O Dalai-lama afirmou esta quarta-feira, 2 de julho, que a instituição espiritual que lidera há mais de oito décadas “continuará após a sua morte” e que o processo de escolha do seu sucessor será feito “de acordo com a tradição budista tibetana”, afastando a hipótese de extinguir o cargo, como chegou a admitir no passado.Numa declaração gravada transmitida durante cerimónias de oração que antecedem o seu 90.º aniversário, celebrado no domingo, o líder espiritual e Nobel da Paz indicou que a busca pelo próximo Dalai-lama deverá seguir os rituais estabelecidos desde a criação da instituição, em 1587.“O próximo Dalai-lama deverá ser encontrado e reconhecido segundo a tradição do passado. A instituição do Dalai-lama continuará”, afirmou Tenzin Gyatso, o 14.º Dalai-lama, numa mensagem lida também à margem de uma conferência que decorre em Dharamshala, norte da Índia, com a presença dos mais altos lamas das diferentes escolas do budismo tibetano.A afirmação surge após anos de especulação em torno da possível extinção da linhagem espiritual, alimentada por declarações anteriores do próprio Dalai-lama, que admitiu poder vir a ser o último a ocupar o cargo.O líder espiritual fugiu do Tibete em 1959, após uma revolta esmagada pelas tropas chinesas em Lhasa, e vive desde então no exílio em Dharamshala. A tradição budista tibetana sustenta que o Dalai-lama pode escolher o corpo no qual será reencarnado - algo que, segundo o líder, acontecerá “fora da China”, desafiando diretamente as autoridades chinesas, que insistem que apenas Pequim tem legitimidade para reconhecer a reencarnação.Aliás, esta quarta-feira, a China reiterou que o sucessor do Dalai-lama deverá ser “aprovado pelo Governo central”. “A reencarnação de figuras budistas de grande relevo, como o Dalai-lama e o Panchen Lama, deve ser determinada por sorteio através da Urna Dourada e posteriormente aprovada pelo Governo central”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa.Os mais altos lamas das diferentes escolas do budismo tibetano iniciam esta quarta-feira, em Dharamshala, uma conferência de três dias convocada pelo Dalai-lama para discutir o futuro da sua sucessão, na véspera do seu 90.º aniversário.Os participantes no encontro são lamas ou mestres espirituais, muitos deles reconhecidos como Rinpoches — considerados reencarnações de sábios do passado — e responsáveis pelas principais escolas e mosteiros tibetanos. Este grupo constitui o corpo espiritual encarregado de conduzir o processo de reconhecimento da nova reencarnação do Dalai-lama.Segundo fonte próxima da organização, o atual Dalai-lama abordará com os lamas a questão da sua eventual sucessão como líder espiritual do povo tibetano.A tradição budista tibetana sustenta que os mestres iluminados renascem para dar continuidade ao seu legado espiritual. O 14.º Dalai-lama completa 90 anos no domingo, e espera-se que aproveite a ocasião para deixar pistas sobre o local onde poderá encontrar-se o seu sucessor ou sucessora, após a sua morte.Pequim, que considera o Dalai-lama um separatista desde a sua fuga do Tibete em 1959, já afirmou que pretende controlar o processo de escolha do próximo líder espiritual tibetano. O Dalai-lama rejeitou essa possibilidade, declarando que a sua reencarnação ocorrerá fora da China, e apelou aos seus seguidores para ignorarem qualquer nome imposto pelo Governo chinês.A cidade indiana de Dharamshala, onde o Dalai-lama reside desde o exílio, acolhe nos últimos dias os líderes das diversas escolas budistas para a conferência que antecede as celebrações do fim de semana..Dalai Lama celebra 90 anos e prepara sucessão espiritual