Os hospitais de Xangai, a capital económica da China, estão sobrecarregados com pacientes idosos infetados com covid-19 nos departamentos de emergência, imersos no ruído de tosse, gemidos e respiração ofegante..Três anos após os primeiros casos do novo coronavírus terem sido diagnosticados na cidade chinesa de Wuhan, a China enfrenta uma vaga de casos, depois de ter subitamente abolido, no mês passado, a política de 'zero casos'..Essas restrições, que permitiram que a maioria dos chineses não fosse exposta ao vírus desde 2020, causaram crescente frustração entre a população e abalaram a actividade económica..Em Xangai, uma das cidades mais ricas da China, a situação é particularmente crítica. No espaço de um mês, cerca de 70 por cento da população, ou cerca de 18 milhões de pessoas, contraiu o vírus, segundo a imprensa estatal..Em dois hospitais da cidade, a agência AFP viu hoje centenas de pacientes, a maioria idosos, deitados em macas, dispostas nos corredores de serviços de emergência saturados..Muitos estão a receber infusões de soro fisiológico ou ligados a cilindros de oxigénio ou com monitores cardíacos..A maioria está enrolada em cobertores e vestida com casacos grossos ou gorros. Alguns pacientes parecem não ter vida. Outros são atendidos fora do prédio, na calçada, devido à falta de espaço no interior das instalações..No Hospital Huashan, perto do local onde eclodiram em novembro os protestos contra a política de 'zero casos' de covid-19, uma mulher curva-se sobre um paciente de cerca de 80 anos que recebe infusões de soro..Perto dali, um jovem permanece ao lado da cama de outro paciente idoso e, de alguma forma, protege-o das idas e vindas da multidão que perambula pelo local..Numa sala de espera no Hospital Tongren, no oeste de Xangai, uma enfermeira coloca entre os lábios secos de um paciente um tubo ligado a uma garrafa de oxigénio..Um médico protegido por uma viseira cuida de uma idosa, que treme sob um cobertor grosso..Perante o afluxo de doentes, os médicos infetados com covid-19 continuam a trabalhar incansavelmente com os seus doentes, segundo testemunhos recolhidos pela AFP em hospitais de todo o país..Xangai não é exceção. De forma intermitente, a equipa de enfermagem solta uma tosse seca..Pela própria admissão das autoridades, a extensão da epidemia é hoje impossível de determinar, os testes de despistagem já não são obrigatórios e os dados são fragmentados..Em pouco tempo, o sistema de saúde ficou sobrecarregado, os medicamentos contra a febre esgotaram nas farmácias, enquanto os crematórios ficaram sobrecarregados com o fluxo de corpos..A Comissão Nacional de Saúde da China deixou de publicar os números diários de casos e óbitos. Isso agora cabe ao Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que, a partir da próxima semana, fará a atualização apenas uma vez por mês..As autoridades também reviram os critérios para atribuir mortes à covid-19..Desde o início de dezembro, apenas 15 mortes foram registadas no país, que tem 1,4 mil milhões de habitantes, mas estes números parecem totalmente desfasadas da realidade observada no terreno.