Veículos da Cruz Vermelha foram bombardeados por forças russas na região de Donetsk.
Veículos da Cruz Vermelha foram bombardeados por forças russas na região de Donetsk.POLÍCIA NACIONAL DA UCRÂNIA / AFP

Contraofensiva em Kursk com Putin a advertir países da NATO

Zelensky diz que resposta russa faz parte do seu plano. Líder russo afirma entretanto que armas ocidentais no seu território equivale a guerra da Aliança Atlântica contra Moscovo.
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As autoridades russas e o presidente ucraniano coincidiram por uma vez, com Moscovo a dizer que as suas tropas “penetraram” numa faixa de território da região de Kursk e Volodymyr Zelensky a admitir a existência da contraofensiva. Esta sexta-feira, em Washington, Joe Biden e Keir Starmer poderão anunciar os novos contornos do uso de armas norte-americanas e britânicas em solo russo, hipótese que levou o presidente russo a reagir. 

“Unidades do grupo de tropas ‘Norte’ libertaram 10 povoações em dois dias”, afirmou o Ministério da Defesa russo num comunicado. Em Kiev, numa conferência de imprensa, Zelensky disse que “os russos lançaram ações contraofensivas.” Limitou-se a dizer sobre o tema que este ataque russo está “em linha com o plano ucraniano.” Acrescentou que estão a ser observadas concentrações de tropas bielorrussas de há algum tempo para cá, movimentações que estão “sob controlo”. 

Kiev lançou uma incursão surpresa na região fronteiriça russa de Kursk a 6 de agosto, apoderando-se de dezenas de povoações. Zelensky disse anteriormente que o ataque surpresa à região russa de Kursk era o passo inicial de um “plano de vitória” em quatro partes. De forma mais ou menos assumida, o ataque surpresa teve como objetivos desviar recursos militares russos da frente de Donetsk, aprisionar soldados para trocar com ucranianos, levar a guerra à Rússia numa tentativa de enfraquecer a imagem do Kremlin junto da população e em simultâneo moralizar as tropas de Kiev. Além disso, o território poderá servir como moeda de troca numa eventual negociação, até porque os ucranianos dizem não ter qualquer interesse em conquistar território.  

Segundo as autoridades ucranianas, na semana passada Kiev tinha sob seu controlo 100 povoações em quase 1300 quilómetros quadrados de terras russas. Moscovo demorou a reagir, tendo nas primeiras semanas retirado da região cerca de 150 mil pessoas. Vladimir Putin disse há dias que a prioridade militar é a conquista da totalidade do Donbass, ou seja as regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk.

Na frente de Donetsk, as forças russas atingiram veículos do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), tendo morrido três funcionários ucranianos no bombardeamento. O CICV disse que os seus trabalhadores foram mortos quando se preparavam para distribuir madeira e briquetes aos residentes da região. “Condeno com toda a veemência os ataques contra o pessoal da Cruz Vermelha. É inconcebível que um bombardeamento atinja um local de distribuição de ajuda”, escreveu em comunicado a presidente do CICV, Mirjana Spoljaric. 

Putin ameaça

Na sequência da visita conjunta a Kiev dos chefes da diplomacia do Reino Unido e dos Estados Unidos, David Lammy e Antony Blinken, respetivamente, o primeiro-ministro britânico encontra-se nesta sexta-feira com o presidente dos EUA em Washington. Um dos temas em análise é a assistência militar à Ucrânia e o ponto pelo qual Kiev mais se tem batido nas última semanas, o fim das restrições das armas de longo alcance. O tema ganhou nova preponderância após Blinken ter confirmado que a Rússia recebeu centenas de mísseis balísticos do Irão e abriu a porta a uma mudança de política. Segunda-feira, um grupo de congressistas republicanos escreveu uma carta a Joe Biden, para que este levantasse as limitações. Mas a administração Biden teme o avolumar do conflito. 

Segundo o jornal online Politico, as discussões entre Kiev, Londres e Washington ainda estão por finalizar, incluindo os EUA concordarem que a Ucrânia utilize mísseis de longo alcance do Reino Unido, que contêm peças norte-americanas, para atacar em território russo. Já o Times de Londres adianta que Biden deve dar luz verde ao uso dos britânicos Storm Shadow e dos franceses Scalp, mas não dos norte-americanos ATACMS. 

Esta capacidade ucraniana “mudaria de forma significativa a própria natureza do conflito”, disse o líder russo. “Significaria que os países da NATO, os EUA e os países europeus estão em guerra com a Rússia. Então, tendo em conta a mudança de natureza do conflito, tomaremos as decisões apropriadas com base nas ameaças que iremos enfrentar.”

E ainda...

Míssil atinge cargueiro

Um míssil russo atingiu na manhã de quinta-feira um cargueiro no Mar Negro, mas não terá causado vítimas. Segundo informou o presidente ucraniano, o navio transportava trigo e tinha como destino o Egito. “O trigo e a segurança alimentar nunca deveriam ser alvos de mísseis”, disse Volodymyr Zelensky. Desde que Moscovo abandonou o acordo negociado com a ONU e a Turquia, no corredor marítimo criado por Kiev já transitaram mais de 5 mil navios.

Zelensky critica Brasil

Em entrevista ao site Metrópoles, o líder ucraniano criticou uma iniciativa de paz brasileira e chinesa que, segundo disse, não ouviu Kiev. Zelensky também não mostrou grande esperança em ter Brasília como aliado: “Infelizmente, acredito que eles [o Governo brasileiro] estão do lado da Rússia.”

Crimes contra crianças

O procurador-geral da Ucrânia disse que estão em investigação 4 mil crimes de guerra contra crianças. Segundo Andrii Kostin, há 54 pessoas sob suspeita, outras 44 têm processo em tribunal, e há 31 veredictos contra criminosos de guerra russos por crimes contra crianças ucranianas.

cesar.avo@dn.pt 

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