Conflito Índia e Paquistão. "Não é uma guerra que divide o mundo, mas com potencial destruidor muito grande"
"Não é uma guerra que divide o mundo, mas com um potencial destruidor muito grande". Esta é uma análise do embaixador brasileiro Rubens Barbosa, em entrevista ao DN. O diplomata, que já foi embaixador em postos importantes como Londres e Washington, vê com preocupação os rumos do conflito e a falta de atenção de países como os Estados Unidos. Rubens é um dos palestrantes do Fórum Transformações, que ocorre em Madrid até sexta-feira.
"Os Estados Unidos não estão empenhados nisso, a Europa está fazendo declarações formais, como é um assunto muito regional, não é um assunto internacional, mas são duas potências nucleares no conflito, com efeitos muito grandes", analisa. Rubens Barbosa também criticou o atual papel do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em geral.
"Você não tem uma vontade de mudar porque ninguém quer mudar, tem uma estrutura de poder que ninguém quer mudar, por isso que é o impasse que nós estamos vivendo. Nem os Estados Unidos, nem a China, nem a Rússia, nem a França, nem a Inglaterra querem mudar a estrutura de poder do conselho de segurança", argumenta. Para o diplomata, este impasse vai continuar "até acontecer alguma coisa muito grave que faça romper esse equilíbrio".
São membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU cinco países: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. O Paquistão é um dos 10 membros não permanentes do atual mandato, junto com Argélia, Dinamarca, Grécia, Guiana, Panamá, República da Coreia, Serra Leoa, Eslovénia e Somália.
O conflito Índia e Paquistão
Nas últimas duas semanas, a tensão entre a Índia e o Paquistão tem crescido, na sequência de um atentado, a 22 de abril, em Pahalgam, uma cidade turística na parte indiana da região disputada de Caxemira, no qual morreram 26 pessoas. A Índia acusou o Paquistão de apoiar o grupo extremista que responsabilizou pelo ataque, uma acusação que Islamabade negou veementemente.
Depois de várias medidas diplomáticas e uma série de incidentes ao longo da fronteira que separa os dois países em Caxemira, Nova Deli lançou, na terça-feira à noite, ataques contra três zonas do Paquistão, que, segundo o Governo indiano, constituíam “locais terroristas”, na província de Punjab.
Poucas horas depois, o Governo paquistanês anunciou ter abatido vários aviões militares indianos e, na quarta-feira de manhã, uma sequência de bombardeamentos realizados por Islamabade e Nova Deli provocou pelo menos 38 mortos, no maior confronto dos últimos 20 anos.
Hoje, a Índia anunciou que 13 civis morreram e 59 ficaram feridos na Caxemira em retaliação pelo ataque paquistanês lançado na quarta-feira sobre o seu território e o Paquistão afirmou que abateu um drone indiano em Lahore. O Irão ofereceu-se para mediar o conflito entre as duas potências nucleares, tendo o ministro responsável pela diplomacia de Teerão reunido com responsáveis do Governo paquistanês na segunda-feira. Hoje, à chegada à Índia, Abbas Araghchi admitiu que espera que “as partes tenham moderação para evitar uma escalada de tensões na região”. O Irão mantém boas relações com a Índia e com o Paquistão, com o qual faz fronteira.
amanda.lima@dn.pt
A jornalista viajou para Madri a convite do FIBE.