Conclave terá cardeais de todos os cantos do mundo. Este é um dos legados de Francisco
Durante o seu pontificado, o Papa Francisco permitiu que cardeais de 25 países – como Cabo Verde ou Timor Leste – que nunca tinham estado representados no Conclave tenham agora a possibilidade de decidir quem será o seu sucessor. Depois de Francisco, a Europa também já não tem a maioria absoluta de votos no universo dos países que podem contribuir para eleger o herdeiro de São Pedro, o primeiro Papa, ainda que os seus 39,3% de representação na reunião secreta que elegerá o novo pontífice da Igreja sejam uma força a ser considerada.
Quando o cardeal argentino Jorge Bergoglio, em 2013, foi eleito Papa, na sequência da resignação do seu antecessor, Bento XVI, o Colégio Cardinalício era composto por 207 membros, sendo que só 117 podiam ser eleitores no Conclave, por terem menos de 80 anos de idade. Na altura, só 115 cardeais votaram, sendo que 60 (52,2%) eram europeus.
Neste período entre 2013 e 2025, o Papa Francisco presidiu a dez consistórios ordinários – momentos de encontro em que o Papa está em audiência com os cardeais – com o objetivo de criar novos cardeais, dando início a uma remodelação em termos de representação geográfica no Colégio e, agora, no Conclave – o ritual secreto do qual emerge o nome do cardeal que sucederá a Francisco.
De acordo com os dados oficiais do Vaticano, há 252 cardeais no colégio Cardinalício, sendo que 117 têm mais de 80 anos de idade e, por isso, não podem contribuir com o seu voto para a sucessão de Francisco.
Entre os restantes 135, há quatro cardeais portugueses, todos criados pelo Papa Francisco – o patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, o bispo emérito de Leiria-Fátima, António Marto, o prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, José Tolentino Mendonça, e o bispo de Setúbal, Américo Aguiar –, mas o país mais representado neste órgão continua a ser a Itália, com 17 cardeais.
Ainda no universo europeu – com 53 cardeais eleitores (39,3% de todos os que a nível mundial podem votar) –, Espanha e França estarão representados no Conclave com cinco sacerdotes cada um. Com quatro cardeais, logo a seguir, surgem Portugal e Polónia. A Alemanha e o Reino Unido participam com três cada. A Suíça terá dois cardeais na eleição do novo Papa e, por fim, com um cardeal cada, entram neste ritual a Bélgica, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Hungria, Lutuânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Sérvia e Suécia.
Por decisão de Francisco durante o seu papado, há até três países europeus, nesta extensa lista, que terão cardeais no Conclave pela primeira vez: Suécia, Luxemburgo e Sérvia.
A estes, Francisco acrescentou mais 22, que mudam agora o mapa das nações que integram o Colégio Cardinalício, ainda que nem todos estejam representados no Conclave, apenas porque já passaram a barreira dos 80 anos de idade: Haiti, Santa Lúcia, Cabo Verde, Myanmar, Tonga, Bangladesh, República Centro-Africana, Lesoto, Malásia, Papua Nova-Guiné, El Salvador, Laos, Mali, Marrocos, Brunei, Ruanda, Timor Leste, Mongólia, Paraguai, Singapura, Sudão do Sul e Malásia.
Como corolário das mudanças geográficas de Francisco, o Conclave, para além dos 53 cardeais europeus, terá também 18 africanos (13,3% do total), o que significa um acréscimo de sete sacerdotes face aos 11 que votaram em 2013. Os países africanos representados na eleição do sucessor de Francisco serão a Costa do Marfim, com dois cardeais, e, cada um com um, a Argélia, o Burkina Faso, Cabo Verde, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Guiné-Conacri, Quénia, Madagáscar, Marrocos, Nigéria, Ruanda, África do Sul, Sudão do Sul e Tanzânia.
No que diz respeito à América, este continente aparece agora dividido em três (em 2013 eram duas), surgindo a América Central como parceira geográfica da América do Norte e da América do Sul, o que firma em sete o número de continentes representados no Conclave.
A América do Norte terá 16 cardeais (11,9%), distribuídos pelo Canadá (quatro), México (dois) e Estados Unidos (dez), enquanto a América Central aparece representada por quatro países (3,0%), cada um com um cardeal eleitor – Cuba, Guatemala, Haiti e Nicarágua.
Entre estes três continentes, a América do Sul é a mais representada no Conclave, com 17 cardeais entre os quatro da Argentina, os sete do Brasil e os cardeais únicos do Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai.
A Ásia também sobe para mais do dobro a representação no Conclave face a 2013. Há 12 anos, 10 cardeais asiáticos participaram no Conclave que elegeu o Papa Francisco. Agora, serão 23 (17,0%), distribuídos pela Índia, com quatro cardeais, Filipinas, com três, Japão, com dois, e, com um cada, China, Timor-Leste, Jerusalém (não sendo um país, tem um patriarcado próprio), Indonésia, Irão, Iraque, Coreia do Sul, Malásia, Mongólia, Myanmar, Paquistão, Singapura, Sri Lanka e Tailândia.
A definir o Conclave mais internacional de sempre, a Oceânia será representada por quatro cardeais, distribuídos entre os quatro países que compõem este continente: Austrália, Papua Nova-Guiné, Nova Zelândia e Tonga. Em 2013, a Oceânia, através do cardeal australiano George Pell, só tinha eleitor no ritual de sucessão de Bento XVI.