O vencedor na Pensilvânia recebe 19 votos dos 270 necessários para obter a maioria no colégio eleitoral e triunfar.
O vencedor na Pensilvânia recebe 19 votos dos 270 necessários para obter a maioria no colégio eleitoral e triunfar.EPA/WILL OLIVER

Comunidade portuguesa na Filadélfia está dividida como os Estados Unidos

Espelho da política norte-americana, a comunidade lusa da principal cidade da Pensilvânia está entre o “pulso forte” de Trump na economia e o apoio de Harris aos direitos das mulheres.
Publicado a
Atualizado a

Ao final de cada semana, o Clube Português da Filadélfia é paragem obrigatória para a comunidade portuguesa - cada vez mais reduzida - na maior cidade da Pensilvânia, um estado decisivo para as eleições presidenciais da próxima terça-feira e que se anteveem muito renhidas.

Entre servir a uma mesa uma dose de carne estufada e a outra uma de salmão grelhado, Ruy Raimundo, presidente do Philadelphia Portuguese Club, fez uma pausa para contar à Lusa que é o ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump, quem levará o seu voto, apesar de admitir que não gosta “da linguagem e da postura” do magnata. “A maior preocupação que tenho neste momento é o estado a que chegou este país. Continua a ser o melhor país do mundo para mim e para quem quer dar a volta à vida, continua a ser o país das oportunidades, mas acredito que os dois atuais candidatos à presidência revelam o estado do país neste momento”, disse o luso-americano de 56 anos, a viver nos Estados Unidos há 11 anos. “Nenhum destes candidatos me satisfaz a 100%, mas acho que há um que é menos mau neste momento, mesmo sendo aquele que eu menos gosto como pessoa: Donald Trump. Não gosto dele, não gosto da linguagem, nem da postura, mas penso que é a pessoa ideal para o país neste momento, devido às suas ideologias a nível económico e financeiro”, acrescentou.

Para este antigo empresário de Cascais, que é hoje gerente de dezenas de lojas de uma grande empresa norte-americana, os “Estados Unidos precisam de uma pessoa com pulso e que consiga ganhar novamente o respeito a nível externo, e essa pessoa é Donald Trump”.

 “Pessoalmente, não acredito nas políticas da outra candidata, até porque ela esteve no Governo nos últimos quatro anos e não vi nada de positivo ser feito”, avaliou Ruy Raimundo, referindo-se à vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris.

Tendo em conta o seu contacto frequente com eleitores luso-americanos, o presidente do Philadelphia Portuguese Club acredita que a comunidade portuguesa está dividida entre Trump e Harris, embora admitindo que o tecido empresarial, especialmente no ramo da construção, irá votar no ex-presidente. E essa visão foi corroborada pelo empresário do ramo da construção Jaime Costa, que indicou à Lusa que viu reduzir as suas “margens de lucro” e o volume de negócios durante o atual Governo e, por isso, votará em Donald Trump. “O que mais me preocupa é a inflação, a economia. Desde que este presidente [Joe Biden] chegou ao poder, o preço das coisas aumentou demasiado. Estragou tudo o que tinha sido deixado pelo antigo presidente [Trump]. Logo após o Biden ter tomado posse, o preço da gasolina disparou, assim como os preços dos materiais. Nunca poderei estar satisfeito com as mudanças que ele fez, porque prejudicaram muito o meu negócio”, contou o empresário de 69 anos, natural de Leiria.

Por outro lado, Susana Raimundo e Anabela Meirelles não conseguem entender como é que, “depois de tantos problemas com a justiça” e “com tantas polémicas acumuladas”, Trump continua a ter um apoio tão significativo do eleitorado. Apesar de não estarem elegíveis para votar - Anabela Meirelles tem apenas autorização de trabalho e de residência nos EUA e Susana Raimundo conseguiu a cidadania há apenas uma semana, perdendo o prazo para registo eleitoral -, as duas lisboetas assumem o seu apoio a Harris, considerando que a candidata democrata “é uma mulher forte”.

“Gosto dela, em primeiro lugar, porque ela é mulher e porque defende muito mais os direitos das mulheres do que o Trump. Sou uma grande defensora dos direitos das mulheres e tenho uma neta. Por isso, a pensar no futuro dela, apoio a Kamala Harris e sou contra um novo governo de Trump”, defendeu Susana Raimundo, que discorda politicamente do marido, Ruy Raimundo. “Infelizmente, com muita pena minha, não vou poder votar, mas vou manter a esperança de que a Kamala ganhe”, afirmou a luso-americana de 61 anos.

Anabela Meirelles, de 65 anos, também “tem pena de não poder votar”, admitindo que tem várias discussões familiares com quatro dos seus cinco filhos, por apoiarem Donald Trump. “Tenho sete netos e estou preocupada com o futuro deles, assim como com os direitos das mulheres. Já sofri de violência doméstica e sei o quanto precisamos que alguém defenda os direitos das mulheres e é por isso que apoio a Kamala. Assusta-me a possibilidade de o Trump regressar ao poder e assustam-me os seus apoiantes”, frisou Anabela.

Luís Casimiro, um ex-mecânico de 70 anos, já reformado, contou à Lusa que já votou antecipadamente em Kamala Harris, por “não acreditar no bandido que é Donald Trump”.

“O que aquele bandido fez no Capitólio não se faz em lado nenhum. Não acredito nele”, disse o eleitor, natural do Fundão, referindo-se ao episódio de 6 de janeiro de 2021, quando apoiantes de Trump tentaram travar a certificação da vitória de Joe Biden. Casimiro, a viver nos Estados Unidos há 36 anos, lamentou ainda o “fanatismo” de alguns eleitores em torno de Donald Trump, que “estão prontos para alegar fraude eleitoral” em caso de derrota do magnata republicano.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt