Os países da chamada Coligação dos Dispostos, liderados por França e Reino Unido, acordaram esta quinta-feira, 10 de julho, partes essenciais dos seus planos pós-cessar-fogo para a Ucrânia, à medida que operacionalizam a proposta de força de paz, passando ainda a ter um novo quartel-general em Paris. A reunião desta aliança, que foi feita de forma virtual, contou pela primeira vez com representes dos Estados Unidos, em mais um sinal de que Donald Trump está, neste momento, mais próximo de Kiev do que de Moscovo. Como ponto de partida, a Coligação dos Dispostos vai passar a ter uma sede operacional multinacional em Paris, liderada por um oficial de três estrelas, e que será transferida para Londres após 12 meses. Há também planos em curso para uma futura célula de coordenação em Kiev, à medida que as estruturas de comando para a futura força de garantia são finalizadas.Em caso de cessar-fogo duradouro, espera-se que a nova força da coligação se foque em três aspetos: regenerar as forças terrestres (fornecer especialistas em logística, armamento e treino para auxiliar na regeneração e reconstituição das forças da Ucrânia), proteger os céus ucranianos (a Coligação fornecerá céus seguros juntamente com a Força Aérea da Ucrânia, utilizando aeronaves dos aliados para realizar policiamento aéreo, tranquilizando a população ucraniana e estabelecendo as condições para o reinício das viagens aéreas internacionais normais) e apoiar mares mais seguros - a atual Força-Tarefa do Mar Negro, composta pela Turquia, Roménia e Bulgária, será reforçada com pessoal especializado adicional para acelerar a remoção de minas do Mar Negro e garantir o acesso marítimo seguro para todas as embarcações que transitam de e para portos da Ucrânia.Os líderes que participaram no encontro desta quinta-feira - que contou pela primeira vez com a presença de representantes dos EUA, incluindo o enviado especial Keith Kellogg e os senadores Lindsey Graham e Richard Blumenthal (o republicano e democrata responsáveis pelo projeto de lei de sanções à Rússia, que deverá ser discutido no Congresso este mês) - também “concordaram que o seu esforço prioritário deve ser focar-se na defesa imediata da Ucrânia face aos implacáveis ataques russos às infraestruturas nacionais críticas e aos civis”, pode ler-se na nota da reunião.“Nos próximos dias e semanas, intensificaremos o nosso apoio para manter a Ucrânia na luta agora, aumentando a pressão sobre Putin através de sanções paralisantes e garantindo que as Forças Armadas da Ucrânia têm o equipamento necessário para defender o seu território soberano”, adiantou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que participou no encontro virtual a partir de Londres com o presidente francês, Emmanuel Macron.A maior parte dos restantes participantes desta reunião da Coligação dos Dispostos encontrava-se em Roma para a Conferência Internacional de Recuperação da Ucrânia, organizada pelo governo de Giorgia Meloni e na qual, além do presidente Volodymyr Zelensky, dos chefes comunitários António Costa e Ursula von der Leyen, participaram dezenas de líderes aliados, como o alemão Friedrich Merz, o espanhol Pedro Sánchez e o polaco Donald Tusk, num total de mais de 70 representações nacionais e milhares de empresas e representantes da sociedade civil.Logo ao início da manhã, Volodymyr Zelensky anunciou que “cerca de 200 acordos estão prontos para serem assinados” nesta conferência, com um valor total superior a 10 mil milhões de euros, destacando a energia como uma prioridade específica para os próximos meses. “Putin tem apenas dois aliados reais: o terror e o inverno, e precisamos de responder a ambos”, declarou o presidente ucraniano. A presidente da Comissão Europeia, por seu turno, anunciou novas doações “de 1 e 3 mil milhões de euros, respetivamente assinadas no âmbito da conferência” de Roma, mas também a criação do “Fundo Europeu para a Reconstrução da Ucrânia, o maior fundo de capital do mundo para este fim e que vai ser levado a cabo em conjunto com Itália, Alemanha, França, Polónia e Banco Europeu de Investimento. “E acredito que outros se queiram juntar a nós. O povo da Ucrânia está pronto para impulsionar a economia do seu país rumo ao futuro. A altura de investir é agora”, sublinhou Ursula von der Leyen, referindo ainda os progressos de Kiev no processo de adesão à União Europeia.Este último tema foi também abordado pelo chanceler alemão, que deixou claro que “apoiamos plenamente a Ucrânia no seu caminho para a adesão à UE.”Friedrich Merz aproveitou ainda para enviar um recado a Donald Trump, apelando ao presidente dos EUA a “ficar com os europeus”. “Estamos na mesma página e procuramos uma ordem política estável neste mundo. Fique connosco, deste lado e nesta página da nossa história comum”, disse ainda o alemão.E os sinais que vão chegando de Washington têm sido animadores para a Ucrânia. Além da estreia norte-americana em reuniões da Coligação dos Dispostos, Zelensky afirmou que Kiev recebeu “todos os sinais políticos necessários para a retoma da ajuda militar” dos EUA após recentes conversações construtivas com Trump, nomeadamente “um cronograma e detalhes sobre o fornecimento de armas”. No sentido contrário, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, encontrou-se na Malásia com o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, a quem expressou “deceção e frustração” pela falta de progressos na resolução da guerra na Ucrânia.