Clima, comércio e direitos humanos na conversa de Xi, Macron e Merkel

Cada um dos três países emitiu um comunicado com leituras diferentes do que foi discutido no encontro de trabalho.
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O presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, "expressaram as suas graves preocupações quanto à situação dos direitos humanos na China" numa reunião a três, por videochamada, com o presidente chinês, Xi Jinping, de acordo com o comunicado do encontro emitido pelo Palácio do Eliseu. Nem Alemanha nem China citaram esta referência nos seus relatos oficiais, focando antes nas discussões sobre questões climáticas e comerciais, além da covid-19.

Segundo o comunicado da presidência francesa, no encontro de trabalho foram abordados os desenvolvimentos no Irão e na Birmânia. Além disso, os dois líderes europeus "expressaram as suas graves preocupações quanto à situação dos direitos humanos na China e recordaram as suas exigências quanto à luta contra o trabalho forçado".

Já o comunicado do governo alemão foi mais vago, omitindo qualquer referência específica a direitos humanos. Limitava-se a dizer que os três discutiram o "estatuto das relações entre União Europeia e China", sendo que temas como a lei de segurança em Hong Kong ou a perseguição à minoria uigure na província de Xinjiang têm sido motivo de tensão, tendo originado sanções recíprocas.

Sucinto, o comunicado alemão dizia que os líderes falaram de "comércio internacional, proteção climática e biodiversidade", assim como de "trabalhar em conjunto para lutar contra a pandemia da covid-19, o fornecimento global de vacinas e assuntos regionais e internacionais".

No comunicado francês também se discutiram as questões relativas ao clima, explicando que foi falado "do fim do financiamento das centrais a carvão" por parte de Pequim e de outras etapas concretas para atingir os objetivos sobre as emissões de gases de efeito de estufa e atingir a neutralidade carbónica. Sobre os temas comerciais, o Eliseu indicou que os líderes europeus reafirmaram "as expectativas europeias em relação ao acesso ao mercado chinês e às condições de concorrência leal".

O relato feito pela China do encontro foi mais completo, segundo a leitura do jornal South China Morning Post, com Pequim a dizer que tanto Merkel como Macron disseram esperar a rápida ratificação do acordo de investimento UE-China, assinado em dezembro durante a presidência alemã da União Europeia - o processo está suspenso.

"O mundo precisa de respeito mútuo e cooperação sincera mais do que nunca em vez de suspeitas e jogos de soma zero", terá dito Xi Jinping. "Esperamos que a China e a UE alarguem o consenso e desempenhem um papel importante numa resposta apropriada aos desafios globais", terá acrescentado o presidente chinês. Xi também disse que espera que "a UE desempenhe um papel mais ativo nos assuntos internacionais, concretize verdadeiramente a autonomia estratégica e mantenha a paz mundial", num aparente reconhecer da estratégia europeia de manter a independência da sua política chinesa em relação à pressão norte-americana.

susana.f.salvador@dn.pt

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