Numa cimeira dedicada à meta dos 5% do Produto Interno Bruto em gastos com a Defesa e com o conflito entre Israel e o Irão a ocupar um espaço inesperado nas atenções dos líderes dos países da NATO, a situação na Ucrânia parecia estar condenada a ser um personagem secundário neste encontro de Haia, ao contrário do que tinha acontecido nas reuniões de Washington (2024) e Vilnius (2023). Volodymyr Zelensky, apesar da oposição dos Estados Unidos, acabou por ser convidado por Mark Rutte, o secretário-geral da Aliança, para participar no encontro, mas sem poder marcar presença na reunião de líderes da manhã desta quarta-feira, 25 de junho, limitando-se a reuniões bilaterais e ao jantar da noite desta terça-feira. No entanto, a chegada tardia de Donald Trump à Cimeira da NATO, devido à questão do Médio Oriente, deu um novo fôlego ao protagonismo que parecia perdido da Ucrânia, com os líderes dos países europeus da NATO, e o próprio Mark Rutte, a serem bastante vocais sobre a importância de aumentar dos gastos em Defesa para fazer face à ameaça da Rússia e apoiar Kiev. E deu tempo para que a diplomacia ucraniana e norte-americana chegassem a um entendimento para que esta quarta-feira tenha lugar um encontro bilateral entre Zelensky e Trump.Apesar de se encontrar em viagem para os Países Baixos, o presidente dos Estados Unidos conseguiu fazer sentir a sua presença à distância em Haia, ao partilhar nas redes sociais uma mensagem privada elogiosa que lhe tinha sido enviada durante a manhã por Mark Rutte, e cuja veracidade foi confirmada pela NATO. Na mensagem, o líder da Aliança elogiou a ação “decisiva” e “verdadeiramente extraordinária” de Trump no Irão (ver páginas 20 e 21) e atribui-lhe o mérito de conseguir que todos os países da NATO concordassem com o aumento dos gastos em Defesa. “Vai conseguir algo que NENHUM presidente americano obteve em décadas. A Europa vai pagar em grande, como deve, e será uma vitória sua”, escreveu ainda Rutte.Enquanto isso em Haia, onde apareceu de surpresa na manhã desta terça-feira no Fórum da Indústria da Defesa da Cimeira da NATO, o presidente ucraniano foi aplaudido de pé, tendo tido também direito a um momento da chamada diplomacia fotográfica com Rutte e os líderes da União Europeia, António Costa e Ursula von der Leyen. Mas antes já tinha deixado claro ao que vinha através de uma entrevista à Sky News conhecida na manhã desta terça-feira, durante a qual apelou aos Aliados para intensificarem as sanções de forma a abranger mais produtores de componentes usados em ataques com mísseis contra a Ucrânia, referindo a China, Taiwan, mas também a Alemanha e o Reino Unido. Zelensky alertou ainda que a nova meta dos 5% em gastos com a Defesa que será adotada pelos países da NATO nesta cimeira pode ser demasiado baixa, “porque acreditamos que, a partir de 2030, Putin poderá ter capacidades significativamente maiores”. “Hoje a Ucrânia está a atrasá-lo. Não tem tempo para treinar o exército, e todos estão a ser aniquilados e eliminados no campo de batalha”, prosseguiu o presidente ucraniano, dizendo ainda acreditar que Moscovo poderá tentar atacar um membro da NATO nos próximos cinco anos. O secretário-geral da Aliança mostrou igualmente a sua preocupação com a ameaça russa, frisando a necessidade de haver mais investimento e mais produção militar dentro da NATO. “Precisamos de fazer melhor e juntos, e precisamos de o fazer agora. É simplesmente impensável que a Rússia, com uma economia 25 vezes inferior à da NATO, seja capaz de nos superar em produção e armamento. Precisamos de gastar mais para evitar a guerra”.Numa mensagem no X, Rutte garantiu que nesta cimeira “os Aliados reafirmarão o seu apoio inabalável à Ucrânia. Continuaremos a construir a ponte para o caminho irreversível da Ucrânia rumo à adesão à NATO.”Radoslaw Sikorski, líder da diplomacia da Polónia, o país que mais gasta em Defesa em termos de PIB, sublinhou que o foco da Aliança está em ajudar a Ucrânia em vencer a guerra. “Acreditamos que impedir a Rússia de ganhar, de fazer aquilo que Vladimir Putin reafirmou há três dias, que quer toda a Ucrânia, é uma tarefa exequível, e é nisso que nos devemos concentrar”. .Cimeira da NATO focada na meta dos 5% de Trump, mas com o Irão na agenda.Novo relatório dos EUA sugere que ataques ao Irão não destruíram instalações nucleares