Josep Rull foi eleito presidente do Parlamento catalão no início do mês.
Josep Rull foi eleito presidente do Parlamento catalão no início do mês.Josep LAGO / AFP

Catalunha tem dois meses para ter novo governo ou ir a eleições

Salvador Illa, do PSC, está empenhado num acordo à esquerda, enquanto o Junts insiste na candidatura de Puigdemont. A ERC não garante o seu voto a nenhum dos partidos.
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O presidente do Parlamento da Catalunha, Josep Rull, estabeleceu esta quarta-feira um prazo de dois meses para os partidos chegarem a acordo sobre um novo chefe do governo regional, caso contrário, haverá novas eleições, provavelmente a 13 de outubro. “Após consultas com os partidos, nenhum propôs um candidato para passar pelo debate de investidura presidencial no primeiro prazo”, explicou Rull, do Junts per Catalunya. “No entanto, dois destes grupos parlamentares manifestaram a sua vontade de explorar formas de construir um acordo que torne a investidura possível durante os próximos dois meses”.

Nenhum partido obteve maioria absoluta entre os 135 lugares do Parlament nas eleições catalãs de 12 de maio, nas quais os independentistas perderam o domínio que obtiveram na última década.

O Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC), liderado por Salvador Illa, foi o mais votado, obtendo 42 deputados, enquanto que o Junts per Catalunya, do ex-líder catalão exilado Carles Puigdemont, terminou em segundo lugar, com 35 eleitos.

O Parlamento catalão tinha até esta última terça-feira para votar um novo governo, mas nem Illa nem Puigdemont decidiram apresentar-se a uma votação de investidura, uma vez que não tinham obtido apoio suficiente de outros partidos para terem sucesso e preferiram continuar a negociar.

Para ganhar o apoio de uma maioria absoluta de 68 deputados, Illa terá de garantir o apoio do partido independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que conquistou 20 assentos nas eleições de maio, mas também os seis eleitos do Comuns Sumar. A ERC tem apoiado em Madrid o governo minoritário do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez, mas as suas exigências de financiamento regional até agora parecem ser demasiado para o PSC de Illa.

Puigdemont também está a tentar conquistar a ERC, mas mesmo com o seu apoio, bem como o de outros dois partidos separatistas mais pequenos - a CUP, de extrema-esquerda, e a Aliança Catalana, de extrema-direita - fica ainda longe dos votos necessários para conseguir passar uma votação de investidura.

Na sessão plenária de ontem no Parlament, Salvador Illa garantiu que nos próximos dois meses trabalhará “de forma ativa, metódica e respeitosa” para conseguir a investidura e chegar a um acordo. “Tentarei por todos os meios garantir que haja uma investidura e não uma repetição das eleições”, insistiu o socialista catalão.

Já o líder do grupo parlamentar do Junts per Catalunya, Albert Batet, insistiu na possibilidade de Carles Puigdemont voltar a ser presidente da Generalitat, cargo que exerceu entre janeiro de 2016 e outubro de 2017. “Esgotaremos todos os caminhos possíveis para ter o governo que a Catalunha merece”, assegurou Batet. 

E recordou a Illa que Jaume Collboni, do PSC, é presidente da Câmara de Barcelona apesar de ter perdido as autárquicas de maio do ano passado para Xavier Trias, do Junts. “A melhor forma de enfrentar os problemas é um governo de estrita obediência catalã, que teria que se orientar pelos objetivos contidos no acordo de Bruxelas assinado com o PSOE”, prosseguiu Batet, projetando um cenário que só aconteceria se a ERC e a CUP votassem a favor a investidura de Carles Puigdemont e se o PSC de Illa se abstivesse nessa eleição.

Pretendida pelos dois lados, a ERC mostrou-se ontem crítica com PSC e Junts, por não terem apresentado um candidato à investidura. “Faltou-lhes bravura e coragem”, afirmou o líder parlamentar Josep Maria Jové, sublinhando que o ainda president, Pere Aragonès (ERC), se apresentou em 2021 para a investidura sabendo que não seria eleito (só conseguiu na terceira votação). Jové deixou ainda um aviso: “Não tomem como garantidos os votos da ERC. Nem o Junts porque somos independentistas, nem no PSC porque se consideram de esquerda”.

ana.meireles@dn.pt

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