“Moralmente inaceitável e injustificável.” É desta forma que o patriarca latino de Jerusalém, o cardeal Pierbattista Pizzaballa, descreve a situação humanitária na Faixa de Gaza, que visitou na sexta-feira passada após um ataque israelita ter atingido a única igreja católica do enclave palestiniano. As Nações Unidas estimam que mil pessoas tenham morrido à procura de ajuda humanitária desde o final de maio, denunciando também a falta de condições para os seus funcionários.O cardeal Pizzaballa, que esteve em Gaza com o homólogo da igreja ortodoxa grega Theophilos III, contou que os membros da delegação deixaram o enclave “de corações partidos”. E reiterou os apelos ao fim da guerra - “É hora de acabar com este absurdo, com a guerra e pôr o bem das pessoas como prioridade” - e à entrada de mais ajuda humanitária. “Recusar não é um atraso, mas uma sentença. Cada hora sem comida, água, medicamentos e abrigo causa danos profundos”, disse numa conferência de imprensa em Jerusalém. .Cardeal Pizzaballa visitou igreja de Gaza depois do ataque de Israel. “Cristo não está ausente de Gaza”, afirmou ainda o cardeal. “Ele está ali. Crucificado entre os feridos, soterrado sob os escombros e, ainda assim, presente em cada ato de misericórdia, em cada vela na escuridão, em cada mão estendida aos que sofrem”, acrescentou, pedindo também a libertação dos reféns israelitas nas mãos do Hamas. “Testemunhámos tanto uma dor profunda como uma esperança inabalável”, disse Theophilos III, alertando que “o silêncio perante o sofrimento é uma traição à consciência”. E deixou uma mensagem aos líderes mundiais: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.”Quando a guerra começou, estimava-se que havia cerca de mil cristãos na Faixa de Gaza, pouco mais de cem deles católicos, que estão refugiados na igreja da Sagrada Família. Esta foi atingida por um disparo de um tanque, causando três mortos. Israel disse que foi um erro, autorizando a visita dos dois patriarcas e de toneladas de ajuda humanitária..Israel bombardeia única igreja católica de Gaza. Há três mortos.“Armadilha mortal sádica”O secretário-geral da UNRWA, a agência da ONU para os palestinianos, denunciou no X que “ninguém é poupado” em Gaza e que os funcionários humanitários também precisam de ajuda. “Muitos estão agora a desmaiar por causa da fome e exaustão enquanto cumprem o seu dever”, escreveu Philippe Lazzarini, lembrando que mais de mil pessoas já morreram desde final de maio enquanto procuravam ajuda. Israel levantou o cerco à entrada de ajuda, mas só permite que esta seja distribuída pela chamada da Fundação Humanitária de Gaza (apoiada pelos EUA), alegando que o Hamas estava a roubar a da ONU. Em vez de a ajuda chegar aos necessitados, estes tinham que percorrer quilómetros até aos quatro centros, num procedimento que Lazzarini apelidou de “armadilha mortal sádica”. Segundo a ONU, quase 800 dos mil mortos foram junto a esses centros. Israel e a fundação rejeitam esses números, optando por destacar as quase 85 milhões de refeições já distribuídas. .“Passamos mais tempo a tentar provar que deveríamos existir do que a ajudar as pessoas de Gaza”.A Organização Mundial de Saúde denunciou também um ataque contra o edifício onde os seus funcionários e famílias estão alojados, com várias detenções (todos seriam libertados mais tarde, com uma exceção). Esta é a primeira grande operação de Israel na região de Deir al-Balah (onde estão muitas das organizações humanitárias e que até agora tinha sido poupada). “Parecia que o pesadelo não podia piorar. Mas piora”, disse o comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, avisando que as novas ordens de evacuação e ataques só trazem “mais miséria e sofrimento aos palestinianos esfomeados”.