Milwaukee e os seus subúrbios, por umas horas, tornaram-se no centro das atenções dos Estados Unidos, com um comício de Donald Trump no local onde em julho foi nomeado candidato republicano, Fiserv Forum, e com outro de Kamala Harris em West Allis, a mesma localidade em que fez o primeiro discurso para os seus apoiantes enquanto candidata nomeada pelos democratas, também em julho. Ambas as candidaturas sabem que no Wisconsin, um dos sete estados decisivos para as contas finais, a vitória e os correspondentes dez votos para o colégio eleitoral vão ser alcançados por uma margem mínima e que todos os votos contam. Os democratas podem ser acusados de ainda hoje não saberem lidar com Trump, mas não de ignorarem o passado. Em 2016, Hillary Clinton perdeu três estados do chamado cinturão da ferrugem (Michigan, Pensilvânia e Wisconsin), que costumam votar democrata, por um total de 80 mil votos. Clinton não fez uma única deslocação ao Wisconsin, enquanto Trump esteve lá em cinco ocasiões e acabou por vencer com 0,77%, ou 22.748 votos de diferença..Agora, enquanto o republicano se mantém fiel a percorrer as pequenas cidades dos estados decisivos - e neste estado já contava seis comícios além do discurso na convenção republicana - os democratas afinaram a campanha de forma a não deixar de fora nenhum território que possa fazer a diferença, segundo o que indicam as sondagens. E neste caso a média dos estudos de opinião aponta para que Harris recolha mais 0,7% de intenções de voto, o que na prática é um empate técnico. A campanha da vice-presidente teve também a preocupação de levá-la a cidades menos óbvias, além de Madison (capital e segunda cidade mais populosa) e Milwaukee, a maior do estado. Mas é nesta cidade e nos seus subúrbios que a campanha democrata tem jogado quase todas as cartas, e uma delas é a do voto da população negra, 39% do total, quando no resto do estado é de apenas 6%. Motivar esse eleitorado a mobilizar-se poderá fazer a diferença. “Tenho dito às pessoas que, se não chegarmos aos números de Barack Obama em 2008 e 2012, é plausível que Kamala Harris possa perder. Isso é sem dúvida um risco”, comentou à rádio WPR o dirigente democrata Alvin Tillery, que é também diretor do Centro para o Estudo da Diversidade e da Democracia da Universidade Northwestern. Também o ex-presidente e candidato vencido em 2020 insiste no Wisconsin, dois dias depois de ter realizado um comício em Green Bay, e um dia após nova controvérsia. Desta vez atacou Liz Cheney, uma das principais vozes críticas no interior do seu partido após esta ter feito parte da comissão da Câmara dos Representantes sobre o assalto de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio. Em declarações ao comunicador Tucker Carlson, no Arizona, disse que Cheney é um “falcão radical”, colocando-a ao lado do seu pai, o ex-vice-presidente Dick Cheney, como responsável pelas guerras no Médio Oriente, para depois dizer: “Vamos pô-la com uma espingarda a disparar contra ela. Vamos ver como é que ela se sente.” Em resposta, Cheney escreveu: “É assim que os ditadores destroem os países livres. Ameaçam de morte aqueles que os contrariam.” Karoline Leavitt, porta-voz de Trump, disse que este estava apenas a “explicar que belicistas como Liz Cheney são rápidos a iniciar guerras” mas que não vão combater. cesar.avo@dn.pt