Candidato pró-russo surpreendeu todos na primeira volta. O que esperar das presidenciais da Roménia?
Quais foram os resultados da primeira volta das presidenciais da Roménia, que se realizaram este domingo?
Numa altura em que estavam contados 99,8% dos votos, os resultados indicam uma surpreendente vitória do candidato independente ultranacionalista e pró-russo Calin Georgescu com 22,9%, seguido da reformista Elena Lasconi, da União Salvar a Roménia (USR), com 19,7%.
Em que medida estes resultados foram uma surpresa?
Os resultados são uma prova de que as sondagens relativas às eleições deste país da União Europeia estavam muito longe da realidade – o quase desconhecido Georgescu surgia com cerca de 5% das intenções de voto, enquanto que o primeiro-ministro, Marcel Ciolacu (PSD), era dado como o favorito a vencer a primeira volta, tendo acabado por ficar em terceiro, com 19,15% dos votos, e fora da segunda ronda. Numa primeira reação, a imprensa romena falava de "uma tremenda surpresa" e de "resultados inesperados". Com as suas ideias radicais e declarações pró-russas, "conseguiu alcançar um resultado surpreendente na primeira volta, permanecendo praticamente invisível para os principais meios de comunicação social", diz o portal Transtelex.ro sobre Calin Georgescu. Esta é também a primeira vez na história pós-comunista da Roménia que um candidato do Partido Social-Democrata (PSD) não passa à segunda volta das presidenciais.
Quem é Calin Georgescu?
Georgescu, de 62 anos, é um professor universitário e consultor em desenvolvimento sustentável que já trabalhou por várias vezes para as Nações Unidas, nomeadamente como diretor executivo do Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável ou relator especial do Alto Comissariado para os Direitos Humanos. Paralelamente, é conhecido pelas suas posições pró-Rússia, sendo até considerado por muitos o representante dos interesses de Moscovo na Roménia. É também um crítico da União Europeia e da NATO, tendo já descrito a instalação do sistema de defesa contra mísseis balísticos da Aliança em Deveselu como uma "vergonha da diplomacia", acrescentando ainda que a NATO não protegerá os seus membros de um ataque russo.
Já descreveu também como heróis nacionais Corneliu Codreanu, o líder da Guarda de Ferro, um movimento fascista da Roménia nos anos 30, e Ion Antonescu, líder do governo pró-alemão durante a Segunda Guerra Mundial e que foi executado pela sua participação no Holocausto romeno. Georgescu já defendeu igualmente de forma pública que a Roménia não está preparada para conduzir de forma independente a sua diplomacia e estratégia, devendo, por isso, confiar na “sabedoria russa”.
Durante a sua a campanha para as presidenciais, muito centrada nas redes sociais, principalmente no TikTok, defendeu o aumento do apoio aos agricultores, o estímulo da produção de energia e alimentos e a redução da dependência das importações, bem como o fim da ajuda à Ucrânia.
Quem é Elena Lasconi, a outra candidata que passou à segunda volta?
Elena Lasconi, de 52 anos, é uma antiga jornalista televisiva e correspondente de guerra que se juntou à força de centro-direita União Salvar a Roménia (USR) em 2018, tendo chegado à liderança do partido este ano. Foi eleita por duas vezes presidente da Câmara de Câmpulung, primeiro em 2020 quando afastou o titular do cargo, e já este ano, por uma larga margem. É uma apoiante da ajuda à Ucrânia e de um maior aumento dos gastos com a Defesa.
Que poderes tem o presidente na Roménia?
A Roménia tem um regime semi-presidencialista, no qual o presidente tem poderes sobre a segurança nacional, política externa e nomeações judiciais.
Quando é a segunda volta?
A segunda volta está marcada para 8 de dezembro, uma semana depois das eleições legislativas, que se realizam no próximo domingo. Vários analistas acreditam que o sucesso de Calin Georgescu nesta primeira volta das presidenciais possa contagiar as legislativas, tornando difícil a formação de um novo e estável governo de coligação.
Que consequências teve já o resultado das eleições?
O primeiro-ministro cessante da Roménia, Marcel Ciolacu, anunciou esta segunda-feira a demissão do cargo de líder do Partido Social-Democrata (PSD), após ter sido eliminado domingo na primeira volta das eleições presidenciais, a uma semana das eleições gerais. O chefe do Governo cessante afirmou que continuará à frente do partido até depois das eleições legislativas do próximo domingo, 1 de dezembro.