O juiz Juan Carlos Peinado decidiu acusar na segunda-feira, 18 de agosto, a mulher do primeiro-ministro espanhol de desvio de fundos públicos na contratação da sua assessora na Moncloa, Cristina Álvarez, estando a primeira audição de Begoña Gómez marcada para 11 de setembro. Acusação que o governo classifica como uma “campanha de assédio” contra Pedro Sánchez. Há um ano, quando a sua mulher foi acusada pela primeira vez e pelo mesmo juiz, o líder do governo ameaçou demitir-se em resultado da “guerra judicial” contra a família, sendo que desde então as questões judiciais não têm parado de cercar Sánchez, entre acusações ao irmão e a antigos ministros e dirigentes do PSOE. A par disto, o líder espanhol está a enfrentar grandes incêndios no país e um recorde de área ardida, tendo anunciado ontem que o governo vai declarar várias zonas de catástrofe. Até ao momento, a mulher de Pedro Sánchez estava a ser investigada pelos crimes de tráfico de influência, corrupção nos negócios, apropriação indevida de marca e intrusão profissional. Agora, em causa está o facto de a assessora que tem na qualidade de mulher do primeiro-ministro, e que é paga com dinheiros públicos, ter ajudado ocasionalmente Begoña Gómez na organização de documentos e envio de e-mails enquanto esta deu aulas na Universidade Complutense. Esta nova acusação do juiz Peinado representa uma mudança de critério em relação ao que tinha decidido em maio, altura em que acusou o agora delegado do governo em Madrid, Francisco Martín Aguirre, do crime de peculato pela contratação da assessora em causa enquanto trabalhou na Moncloa, descartando investigar a mulher de Pedro Sánchez e Cristina Álvarez por considerar que não tinham responsabilidade na nomeação. De referir ainda que o Supremo decidiu em julho arquivar o pedido deste mesmo magistrado de investigar o ministro da Presidência, Felix Bolaños, pela nomeação da assessora da mulher do primeiro-ministro. Decisão de que, no auto desta segunda-feira, Peinado diz não ter conhecimento. O ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, classificou esta terça-feira, 19 de agosto, esta nova acusação como “uma campanha de assédio” a Pedro Sánchez. Numa entrevista ao La Sexta, Albares notou que o chefe do governo “há muitos meses que é alvo de uma campanha de assédio de vários setores porque não conseguem derrotá-lo nas urnas”. Também o ministro da Transformação Digital, Óscar Lopez, mostrou-se “indignado” com esta nova decisão judicial sobre Begoña Gomez pois diz que a Justiça “tem de ser igual para todos”. “Não pode haver investigações prospetivas, não se pode investigar uma pessoa por ser essa pessoa e procurar casos distintos até encontrar um”, acrescentou o governante à RNE, recordando que a saga judicial começou com o resgate à Air Europa, “depois mudou” para uma carta para um empresário e depois voltou a mudar para a Universidade Complutense. “Como não aparece nada em lado nenhum acabou numa pessoa que trabalha na Moncloa”, declarou o ministro.“Espanha não merece um presidente [do governo] cujo único familiar que não está envolvido em escândalos é o animal de estimação. Ministros, a sua esposa, o seu irmão, os líderes socialistas mais próximos... Sánchez, saia já”, escreveu no X Sergio Sayas, um dos porta-vozes do Partido Popular no Congresso. O deputado popular referia-se, entre outras coisas, à entrada na prisão há mês e meio do ex-secretário de Organização do PSOE Santos Cérdan pelo alegado esquema de corrupção em troca de obras públicas, que está a ser investigado no âmbito do “caso Koldo”, no qual é acusado de crime organizado, corrupção ativa e tráfico de influências. Neste processo, que abriu uma crise no partido e no governo obrigando Sánchez a dar explicações aos deputados, estão também envolvidos o antigo ministro e dirigente socialista José Luis Ábalos. No final de maio, o primeiro-ministro soube também que David Sánchez, o seu irmão, vai ser julgado com outras dez pessoas, incluindo o líder do PSOE na Extremadura, por alegados crimes de tráfico de influência e prevaricação..Pedro Sánchez de Espanha continuará à frente do Governo.As 15 medidas de Sánchez contra a corrupção (para tentar virar a página aos escândalos)