“Presidente Trump pode vir para Sorocaba!”, diz Rodrigo Manga, em vídeo nas redes sociais, do início de 2025, onde anuncia, unilateralmente, um acordo bilateral entre os EUA e a cidade de 760 mil habitantes a 90 km de São Paulo. “Ele toma posse dia 20 e eu estou redigindo um decreto onde políticos, empresários e estudantes americanos vão poder utilizar a estrutura da nossa cidade para troca de experiências", continua o “Prefeito tiktoker”, como é conhecido no Brasil. Dez meses depois desse vídeo, o autarca de 45 anos é notícia por liderar, diz a Polícia Federal, uma organização criminosa. A Operação Corta e Cola investiga um esquema de corrupção envolvendo Manga, entretanto afastado do cargo, amigos e familiares. O empresário Marco Mott e o bispo Josivaldo de Souza, suspeitos de lavar dinheiro em contratos da prefeitura, foram presos. A primeira-dama Sirlange Maganhato e a irmã dela, a pastora Simone, que é casada com o bispo, também são investigadas. Na operação, a polícia fez buscas na casa de Manga, um imóvel de alto padrão em condomínio fechado, cuja entrada de 183 mil reais (cerca de 30 mil euros) foi paga em dinheiro vivo pelo prefeito, nas quais apreendeu um carro de luxo, armas e quantias enormes de dinheiro. Foi quebrado ainda o sigilo bancário da empresa de Sirlange e identificadas movimentações nos nomes da pastora Simone e do bispo Josivaldo, casal dono da igreja "Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus", fundada em 2020 e com duas unidades em São Paulo, informa o G1. Segundo a investigação, a igreja transferiu 750 mil reais (à volta de 125 mil euros) de contratos públicos na área da saúde para a empresa da primeira-dama, uma agência de comunicação onde o grupo lavava dinheiro. O prefeito tiktoker, afirma a polícia, é o líder da organização criminosa que planeou o esquema envolvendo quantias totais na ordem dos milhões de reais. Para a defesa do autarca, o escritório Bialski Advogados Associados, a investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba "é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial”. “Ademais”, diz a nota do escritório, “é indiscutivelmente temerário o afastamento do prefeito baseado em ilações sobre supostas irregularidades investigadas, os supostos factos remontam ao ano de 2021, o que demonstra a ausência de qualquer contemporaneidade capaz de colocar em risco a continuidade do exercício do legítimo mandato (...) conquistado nas urnas, de forma legítima e maciça”.Antes de ficar conhecido nacionalmente por produzir vídeos bem humorados e, não raras vezes, com recurso a fake news, socorrendo-se de quatro funcionários da prefeitura com salários até 19 mil reais (mais de 3 mil euros) para ajudar, segundo reportagem da TV Tem, o Prefeito tiktoker, que se chama Rodrigo Maganhato mas usa “Manga” como diminutivo, formou-se em marketing e foi vendedor de carros com forte presença nos espaços publicitários dos canais locais de TV em Sorocaba. Chegou a vereador, ainda com o nome eleitoral “missionário Rodrigo Manga”, por ser, segundo o próprio, um ex-toxicodependente que se curou via religião, e depois a perfeito, em 2020, cargo para o qual seria reeleito, em 2024, com 263 mil votos válidos, um recorde em número de votos mas não de percentagem, ao contrário do que chegou a divulgar nas redes.Desde a reeleição, Manga intensificou vídeos, como aquele em que anuncia acordo com Trump, e popularizou a expressão “vamos fazer de Sorocaba a melhor cidade do Brasil para se viver”, ganhando mais de sete milhões de seguidores, somados Instagram e Tik Tok. Entre os vídeos mais vistos, sempre produzidos com um início chamativo para prender a atenção do espectador, há um em que anuncia passe livre nos autocarros da cidade para estudantes e outro em que promete a construção de um centro de convívio para trabalhadores de plataforma de entregas. A notoriedade de Manga, que é do partido Republicanos, o mesmo de Tarcísio de Freitas, governador do estado e suposto adversário de Lula da Silva nas presidenciais de 2026, animou-o politicamente. Chegou a negociar concorrer ao governo estadual, caso o aliado Tarcísio tentasse mesmo o Planalto, por outro partido, o PRTB, do coach Pablo Marçal, controverso candidato à prefeitura da cidade de São Paulo, em 2024. Mais: comunicou a intenção, ele próprio, de se candidatar a presidente contra Lula em 2026 - mas fê-lo em vídeo nas redes sociais no dia 1 de abril, o das mentiras. E, mesmo já depois da operação policial que pode ter aniquilado a sua carreira política, manteve intacto o hábito de produzir vídeos. No Tik Tok, claro, o prefeito contou na última quarta-feira que a polícia federal “achou algumas coisas interessantes” na casa dele: “um bolo de cenoura, uma embalagem de Nutella e o Pokémon que meu filho tanto ama”..Estudante de direito brasileira suspeita de ser 'serial killer' nas horas vagas