Deputados e senadores que apoiam Jair Bolsonaro organizaram-se em turnos para passar a madrugada desta quarta-feira, 6 de agosto, na Câmara e no Senado, em Brasília, em protesto contra a prisão domiciliária do ex-presidente, decretada na véspera, por Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal (STF). Os parlamentares exigiam uma reunião com Davi Alcolumbre e Hugo Motta, os presidentes das câmaras alta e baixa do Congresso Nacional, para colocar em agenda a votação de uma amnistia a Bolsonaro e aos demais envolvidos no suposto golpe de estado em julgamento no supremo tribunal. A mobilização levou os presidentes Alcolumbre e Motta a cancelarem as sessões previstas para o dia, já depois do segundo ter telefonado a Sóstenes Cavalcante, líder parlamentar do Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, a pedir que os congressistas desocupassem a mesa da direção da Câmara dos Deputados. Cavalcante recusou, a menos que fosse efetuada uma reunião presencial e reservada com Motta e também Alcolumbre. Na ocasião, informou o interlocutor da decisão dos turnos noturnos. O deputado Luciano Zucco, também do PL, reforçou que o grupo está mobilizado "de forma permanente".No Senado, o protesto incluiu adesivos simbólicos na boca dos senadores de extrema-direita. O senador Flávio Bolsonaro, do PL, disse que o grupo só deixaria o plenário quando Alcolumbre atendesse a três exigências: agendar o pedido de impeachment contra o juiz Moraes, votar o projeto de amnistia aos condenados pelo 8 de janeiro e discutir o fim do foro privilegiado a detentores de cargos públicos, batizando as medidas de “pacote da paz”. “Alcolumbre sequer o telefone está atendendo, e eu jamais esperava isso dele, nós vamos permanecer aqui no plenário, se preciso for, e virar a noite”, afirmou o primogénito de Jair Bolsonaro. Em nota oficial, o presidente do Senado classificou a ocupação como um "exercício arbitrário das próprias razões" e pediu “serenidade”. “Precisamos retomar os trabalhos com respeito, civilidade e diálogo, para que o Congresso siga cumprindo a sua missão em favor do Brasil e da nossa população”, afirmou Alcolumbre.Na Câmara, Hugo Motta anunciou via redes sociais que convocará uma reunião de líderes parlamentares e que a agenda continuará a ser definida “com base no diálogo e no respeito institucional”. Em visita oficial ao estado da Paraíba, o presidente da Câmara dos Deputados disse que “o legítimo direito de defesa tem que ser respeitado mas que uma decisão judicial deve ser cumprida. Não cabe ao presidente da Câmara comentar ou qualificar esta ou aquela decisão”.Motta referia-se à decisão de Moraes de determinar na segunda-feira a prisão domiciliária de Bolsonaro por incumprimento do ex-presidente das medidas cautelares anteriores. Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado e acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar um plano para reverter à força o resultado das eleições de 2022. A PGR pediu a condenação do ex-presidente a até 44 anos de prisão por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa e golpe de Estado.Em paralelo à declaração de guerra de membros do poder legislativo brasileiro ao poder judicial, em particular ao juiz Moraes, o poder executivo também teve um dia de crise: esta quarta-feira, 6 de agosto, entrou em vigor o “tarifaço” de Donald Trump, isto é, a decisão do governo dos EUA de taxar em 50% cerca de metade das exportações brasileiras. Na decisão, a Casa Branca deu a entender que a decisão comercial está ligada à decisão judicial de julgar e condenar Bolsonaro. “O juiz Moraes, agora um violador de direitos humanos sancionado pelos EUA, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia", escreveu o Escritório do Departamento de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA. .Prisão domiciliária de Jair Bolsonaro ameaça relação entre Brasil e EUA.EUA criticam prisão domiciliária de Bolsonaro e ameaçam responsabilizar envolvidos.Supremo Tribunal Federal coloca Jair Bolsonaro em prisão domiciliária