A direita e a extrema-direita brasileiras passaram, em cerca de três meses, de uma posição de superioridade para uma situação de subalternidade nas sondagens para a eleição presidencial de 2026. E a culpa, diagnostica boa parte dessas direita e extrema-direita, é do deputado Eduardo Bolsonaro, terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está desde março a fazer lóbi junto às alas mais radicais da administração de Donald Trump pelo aumento das tarifas comerciais dos EUA sobre o Brasil e por sanções aos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) que julgaram o pai em setembro. “Causou um prejuízo gigantesco à direita, tínhamos a eleição [de 2026] completamente resolvida”, lamentou-se o senador Ciro Nogueira, ex-ministro de Bolsonaro e pretenso candidato a vice-presidente de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, num cenário eleitoral contra o presidente Lula da Silva. “O que mudou tudo foram as tarifas e a atuação de Eduardo nos EUA”, completou em entrevista ao jornal O Globo. Para Nogueira, a pressão que o filho de Bolsonaro tentou fazer sobre o governo de Lula, agravando os indicadores económicos do país, e sobre o STF, ao tentar influenciar o julgamento do pai por crime de golpe de Estado, “foi um erro”. O resultado foi a condenação, mesmo assim, do ex-presidente a 27 anos de cadeia e o início de uma relação inesperadamente cordial entre os quase octogenários presidentes do Brasil e dos EUA. “O Lula ficou numa alegria muito grande com esse conflito para retomar a sua popularidade”, concluiu Nogueira. De facto, uma sondagem do instituto Quaest de dia 8 mostrou que a aprovação ao governo voltou a empatar, dentro da margem de erro, com a desaprovação - 49% a 48% - quando em maio havia uma diferença de 17 pontos entre a avaliação negativa e a positiva: 57% a 40%.Segundo 49% dos 2004 entrevistados entre os dias 2 e 5 de outubro, Lula saiu mais forte após o encontro com Trump na ONU. Só 27% acharam que saiu mais fraco. A perceção dos entrevistados sobre a economia também melhorou apesar do “tarifaço” americano. “Ao dizer publicamente que Eduardo Bolsonaro causou um prejuízo muito grande para 2026, Nogueira expõe o que ele e outros líderes do Centrão [grupo de deputados de diversos partidos ideologicamente à direita] vinham repetindo nos bastidores: que o filho do ex-presidente já atrapalhou demais e que, daqui para frente, será o Centrão que comandará a campanha da oposição para a eleição presidencial”, escreveu Andréia Sadi, colunista do site G1. “Os partidos de direita aceitam Jair Bolsonaro como cabo eleitoral [termo usado no Brasil para definir a pessoa que apoia mas não concorre às eleições], porém, não querem um membro da família na lista para a presidência. Nem mesmo como vice”.Juliana Lopes, analista da CNN Brasil, acrescenta que “o Centrão demonstra preocupação com o timing das articulações políticas, defendendo que já passou da hora de definir um nome forte para disputar as eleições de 2026”. Entre os possíveis candidatos estão o citado Tarcísio de Freitas e os também governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná). Todos eles têm índices de rejeição, segundo a Quaest, em torno dos 30 a 40%, enquanto Eduardo Bolsonaro encabeça, com 68%, a lista dos presidenciáveis mais rejeitados.Eduardo, entretanto, respondeu à entrevista de Ciro Nogueira, via redes sociais. “Prezado Ciro Nogueira, o prejuízo foi gigantesco para o seu plano pessoal, não se pode confundir o seu interesse com o do Brasil (...) compadeço com o seu sentimento, pois também foi um grande prejuízo para mim, a diferença é que estou disposto a sacrificar os meus interesses pessoais pelo Brasil”.Mas desde que começou o lóbi por pressão comercial e judicial sobre o Brasil, o terceiro filho de Bolsonaro já foi criticado por outras lideranças da direita. Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, onde militam Jair e Eduardo Bolsonaro, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que “o filho vai ajudar a matar o pai” se insistir numa candidatura própria à presidência em 2026. Eduardo classificou a afirmação de “canalhice”. Valdemar respondeu que é Jair, e não Eduardo, “quem tem os votos”.“O teu filho babaca anda a falar merda!”, disse, por sua vez, Silas Malafaia, televangelista com ascendente sobre Jair Bolsonaro em conversa com o ex-presidente tornada pública após operação da polícia contra o pastor por obstrução de justiça no caso da tentativa de golpe de estado. “Anda dando discurso nacionalista, que eu sei que você não é a favor, dei-lhe um esporro, cara… mandei um áudio a ele de arrombar. E disse para ele: a próxima que tu fizer, eu faço um vídeo e te arrebento”, concluiu Malafaia.Noutras mensagens divulgadas pela polícia no mesmo processo de obstrução de justiça, Eduardo chamou o pai de “ingrato do c…” e mandou-o “tomar no c…”. O que motivou a ira do filho foi uma entrevista do ex-presidente a chamá-lo “imaturo” por ter atacado publicamente Tarcísio..Partidos deixam governo de Lula mas ministros recusam-se a sair