Bolsonaro surpreende e assiste à sessão que o pode tornar réu
Jair Bolsonaro apareceu de surpresa na sede do Supremo Tribunal Federal (STF) para assistir à sessão que analisa a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que o pode tornar réu por tentativa de golpe de Estado, liderança de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dois crimes contra o património de que é acusado e que, no limite, se podem traduzir numa pena de quase 40 anos.
“Bolsonaro faz questão de enfrentar a acusação injusta e absurda que hoje se faz contra ele, comparecendo pessoalmente aos atos do processo”, disse Paulo Cunha Bueno, um dos advogados do ex-presidente ao portal G1. “Ele mantém indignação e repúdio às imputações mentirosas”, concluiu, a propósito de uma presença in loco que surpreendeu STF, aliados e imprensa.
A sessão começou com o relator do processo, Alexandre de Moraes, a sublinhar que “a natureza estável e permanente da organização criminosa é evidente na sua ação progressiva e coordenada, que se iniciou em julho de 2021 e se estendeu até janeiro de 2023”.
Paulo Gonet, chefe da PGR, acrescentou que “factos citados pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, estão confirmados por outros elementos de prova”, a propósito do acusado que decidiu colaborar com a justiça.
Por sua vez, Celso Vilardi, o advogado de Bolsonaro a quem coube a sustentação oral, destacou que o material da delação de Mauro Cid deve ser confirmado por provas. “O delator tem que falar e o Estado tem de trazer as provas”, disse. E acrescentou que, com o seu cliente, “não foi achado nenhum documento” e que ele não tem “relação com o plano Punhal Verde e Amarelo”, que visava derrubar e executar os eleitos Lula da Silva e Geraldo Alckmin, além do juiz Moraes.
A sessão teve ainda um incidente protagonizado por Sebastião Coelho, advogado de Filipe Martins, assessor de Bolsonaro que é um dos 34 acusados mas cuja análise só será realizada noutra ocasião. Depois de gritar contra Moraes, foi detido por algumas horas.
Além de Moraes, os juízes que analisam a acusação são Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Até à hora de fecho desta edição nenhum tinha votado ainda. Observadores preveem que todos aceitem a acusação contra Bolsonaro, quatro dos seus ex-ministros, o ex-chefe da Marinha, o ex-chefe da agência brasileira de inteligência e o seu ajudante de ordens.