Bolsonaro nega plano de fuga do Brasil após ser obrigado a colocar pulseira eletrónica por decisão do STF
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro falou logo após deixar a secretaria da Polícia Federal onde esteve para receber a pulseira eletrónica que passará a usar por tempo indeterminado.
Bolsonaro disse ter sido apanhado "de surpresa" pela chegada dos policiais em sua casa, na manhã desta sexta-feira, 18 de julho. "Uma suprema humilhação", declarou.
A decisão do juiz Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal, aponta que Jair Bolsonaro e o seu filho Eduardo Bolsonaro, que está a viver atualmente nos Estados Unidos, estão a conduzir "uma campanha criminosa cujo objetivo é justamente obstruir o andamento da ação penal".
Esta ação é o processo que vai levar a julgamento Jair Bolsonaro e outros sete aliados por cinco crimes, incluindo uma tentativa de golpe de Estado. As acusações remontam a outubro de 2022, na época das eleições presidenciais que elegeram Lula da Silva, culminando com os atos no dia 8 de janeiro de 2023, quando milhares de pessoas invadiram a sede dos Três Poderes do Brasil e depredaram o património.
Na casa do ex-presidente, os policiais apreenderam cerca de 14 mil dólares. Na decisão, Alexandre de Moraes afirma que as medidas cautelares impostas a Bolsonaro são para "assegurar a aplicação da lei penal e evitar a fuga do réu".
Alexandre de Moraes determinou ao ex-presidente:
Utilização da pulseira eletrónica.
Proibição de acesso a sedes das embaixadas de outros países no Brasil.
Proibição de manter contatos com embaixadores.
Proibição de contato com o filho Eduardo.
Reclusão domiciliar obrigatória entre 19h00 e as 07h00, também no fim de semana.
Jair Bolsonaro negou o risco de fuga. "Nunca pensei em sair do Brasil, nunca pensei em ir para uma Embaixada", disse.
Recorde-se que, em fevereiro do ano passado, o ex-presidente passou duas noites a dormir na embaixada da Hungria em Brasília. Naquela ocasião, Bolsonaro teve o passaporte apreendido pela Polícia Federal no âmbito de uma operação também desencadeada pelo STF. O ex-presidente continua sem o documento até hoje.
Tarifaço de Donald Trump
Segundo a decisão do STF, Bolsonaro confessa os crimes para obstruir o processo através de suas ações recentes.
Alexandre de Moraes escreve que a conduta do ex-presidente "é tão grave e despudorada que na data de hoje (17/7/2025), em entrevista coletiva, sem qualquer respeito à Soberania Nacional do Povo brasileiro, à Constituição Federal e à independência do Poder Judiciário, expressamente, confessou sua consciente e voluntária atuação criminosa na extorsão que se pretende contra a Justiça brasileira, CONDICIONANDO O FIM DA “TAXAÇÃO/SANÇÃO” À SUA PRÓPRIA AMNISTIA", escreveu Moraes.
O presidente dos Estados Unidos anunciou, no dia 9 de julho, tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras. Uma das justificações de Donald Trump para a medida foi a de que Bolsonaro sofria uma "caça às bruxas" por parte do STF.
Bolsonaro começou a fazer manifestações associando a retirada dessas tarifas à amnistia para que não seja julgado pela tentativa de golpe de Estado. No dia 13 de julho, o ex-presidente afirmou que a amnistia "traria paz" à economia. Já no dia 17, na declaração que é citada por Alexandre de Moraes na decisão, o ex-presidente afirmou: "Vamos supor que Trump queira amnistia. É muito? É muito, se ele pedir isso? A amnistia é algo privativo do parlamento. Ninguém tem de ameaçar tornar inconstitucional".
Falando aos jornalistas, Bolsonaro seguiu no tema do tarifaço. Declarou que se tiver o passaporte devolvido vai em busca de "uma audiência com o presidente dos Estados Unidos" para resolver a questão. "Hoje em dia, Lula não conversa com Trump, é um governo completamente alienado", acusou.