Jair Bolsonaro foi submetido segunda-feira, 29, a uma cirurgia para tratar crise persistente de soluços, depois de no sábado, 27, já ter bloqueado o nervo responsável por controlar o diafragma e de, na quinta-feira, dia de Natal, ter feito correções a hérnias na região da virilha. Pelo meio, apresenta quadro de pressão arterial alta. O boletim clínico extenso do ex-presidente do Brasil tem sido farto desde a facada que sofreu em arruada de campanha na cidade de Juiz de Fora, às vésperas das eleições de 2018, mas não diminuiu a influência do líder da extrema-direita brasileira nesse campo político. Nos últimos dias, por exemplo, o hospital DF Star, em Brasília, foi cenário de movimentos políticos importantes. Na véspera de Natal, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que também é líder do Partido Liberal (Mulher), a ala feminina da formação partidária em que milita a família, pediu orações para o marido num vídeo de aproximadamente cinco minutos emitido, não por acaso, à mesma hora do discurso natalício do presidente Lula da Silva. “Peço que continuem orando por ele, pelas famílias injustiçadas e pela nossa nação”, disse Michelle.A principal manifestação política em torno da cirurgia de Bolsonaro, no entanto, aconteceu já dia 25, quando o senador Flávio Bolsonaro, primogénito do ex-presidente e pré-candidato à presidência da República em 2026, leu uma carta que, segundo ele, teria sido escrita e assinada pelo pai a reforçar o apoio formal a essa candidatura. “Ao longo da minha vida, tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto, com a minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil”, leu Flávio, citando carta de Jair. “Diante desse cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da República em 2026”, leu o senador, em frente ao hospital, logo depois de o ex-presidente entrar no centro cirúrgico.O reforço de Bolsonaro à candidatura do filho surge após críticas de partidos da direita mais tradicional, como Republicanos, Progressistas e União Brasil, que preferiam um nome moderado, sobretudo o de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, para captar os votos do centro político. “Não será a polarização que construirá o futuro”, disse António Rueda, líder do União Brasil. “Se não incluirmos o campo de centro e de direita não ganhamos a eleição”, acrescentou Ciro Nogueira, do Progressistas. Marcos Pereira, presidente do Republicanos, o partido de Tarcísio, nem comentou. E o pastor Silas Malafaia, influente televangelista na direita, também verbalizou críticas: “A direita quer vencer ou ser derrotada pelo Lula? Isso aqui não é herança de negócios de família!”.Lula, pela centro-esquerda, e Flávio são, até ver, os principais candidatos à presidência em 2026, mas as pré-candidaturas só serão formalizadas em abril, seis meses antes do ato eleitoral de outubro. Entretanto, em contacto com Bolsonaro, que além de paciente médico mais mediático do país é ainda o presidiário mais mediático do país, só estão Michelle, Flávio e os demais filhos, Carlos, Eduardo, Jair Renan, todos políticos, e Laura. As demais visitas precisam de autorização do juiz Alexandre de Moraes, que proibiu a entrada de computadores, telemóveis, tablets e outros equipamentos eletrónicos na área, exceto os da equipa médica. Aliás, Bolsonaro foi transportado sob escolta policial da Superintendência em Brasília da Polícia Federal (PF), onde está detido, para o hospital DF Star, por onde entrou incógnito por uma garagem, por razões de segurança. No hospital foi alvo da vigilância, à porta da sala de operações e do quarto durante todo o período de internação, de dois agentes da PF, que revistaram todos os visitantes. Os problemas de saúde de Bolsonaro, entretanto, são vistos como motivo para o afrouxamento dessas medidas - a defesa do ex-presidente acredita que ele possa cumprir a maior parte da pena de 27 anos a que foi condenado por golpe de estado e outros crimes em prisão domiciliar. Desde que em 2018 sofreu aquela facada, desferida pelo desempregado Adélio Bispo, já foi submetido a 14 intervenções médicas, incluindo 10 cirurgias, a grande maioria em decorrência do ataque. A primeira foi a operação para seccionar o intestino, logo no dia do incidente, a 6 de setembro, e a última, segunda-feira, 29, o bloqueio do nervo frénico esquerdo, responsável por controlar o diafragma e pelas crises constantes de soluços.De resto, retirou aderências que obstruíam o intestino delgado, ainda em 2018, retirou bolsa de colostomia e corrigiu hérnia incisional, em 2019, e extraiu cálculo na bexiga, em 2020. Em 2023, tratou refluxo no estômago e reconstruiu parede abdominal. Até estas operações no fim de 2025. Bolsonaro foi submetido ainda a uma vasectomia, em 2020, procedimento para melhorar apneia do sono, em 2023, e retirada de lesões na pele, em 2025, sem relação com a facada de Juiz de Fora.