Faz esta segunda-feira 80 anos que o campo de extermínio nazi de Auschwitz-Birkenau foi libertado pelo Exército Vermelho, tendo os soldados soviéticos ainda encontrado lá sete mil prisioneiros, na sua maioria adultos de meia idade ou crianças com menos de 15 anos seriamente doentes, que tinham sido deixados para trás pelos alemães. Construído na Polónia ocupada, este local simboliza o genocídio levado a cabo pela Alemanha de Adolf Hitler contra seis milhões de judeus europeus - um milhão dos quais morreu em Auschwitz entre 1940 e 1945, juntamente com mais de cem mil não-judeus. Oito décadas depois, o mundo vive uma época em que o antissemitismo é um fenómeno crescente nas ruas e nas redes sociais, com os judeus a enfrentarem cada vez mais intimidações, ameaças e violência, alertou na sexta-feira o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, acrescentando que “o antissemitismo é muitas vezes o sinal de aviso de que os crimes e as atrocidades estão a chegar. Temos de o condenar em todas as formas, juntamente com o fanatismo, a intolerância e o ódio”. Para o alto-comissário da ONU, nascido na Áustria, um dos países ocupados pelos nazis, “temos de contar a História para não a esquecer e a educação sobre o Holocausto é uma das melhores vacinas contra o preconceito, a desumanização e o racismo”. “Aconteceu, por isso, pode voltar a acontecer em qualquer lugar”, referiu ainda Turk citando Primo Levi, escritor italiano e um dos sobreviventes libertados de Auschwitz há 80 anos..Marcelo e outros líderes europeus assinalam o 80.º aniversário da libertação de Auschwitz. Uma sondagem publicada a propósito desta data pela Conferência sobre Reinvindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha mostra que a maioria das pessoas em sete países - EUA, Reino Unido, França, Áustria, Alemanha, Polónia, Hungria e Roménia - acreditam que um genocídio em massa contra o povo judeu semelhante ao Holocausto poderia acontecer hoje. Perceção que vai desde os 76% dos inquiridos nos Estados Unidos aos 44% na Roménia. O mesmo estudo mostra também uma tendência global de desvanecimento do conhecimento de factos básicos sobre o Holocausto, nomeadamente entre os 18 e os 29 anos. Um outro estudo, publicado pela Organização Sionista Mundial e pela Agência Judaica para Israel, mostra que 2024 foi um “ano de pico” para o antissemitismo, com um aumento de 340% no total de incidentes antissemitas em todo o mundo em comparação com 2022 - ano usado como referência porque foi um ano relativamente normal, ao contrário de 2023, marcado pelo ataque do Hamas contra Israel a 7 de outubro. Já em comparação com 2023, o número de incidentes antissemitas no ano passado quase duplicou.De Scholz a Costa“Não vou viver muito mais. Mas quando olho para a juventude e para os mais pequenos... qual será o futuro deles? Eu vejo algo sombrio”, contou à Reuters Janina Iwanska, uma católica polaca enviada para Auschwitz em 1944, referindo-se ao “ódio” e às divisões existentes na sociedade de hoje e prevendo a chegada de uma nova guerra. Janina não assistiu à libertação do campo por dias, mas hoje, aos 94 anos, estará entre o grupo de 50 sobreviventes que estará hoje na cerimónia em Auschwitz (há dez anos foram 300). Além desta meia centena de sobreviventes, é esperada a presença de reis (como Carlos III de Inglaterra), presidentes (o francês Emmanuel Macron e o austríaco Alexander Van der Bellen serão dois deles) e chefes de governo (desde o canadiano Justin Trudeau ao alemão Olaf Scholz), mas também o presidente do Conselho Europeu, António Costa, e representantes de organismos como a NATO ou a ONU. De fora deste rol está o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre quem pende um mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional, apesar de a Polónia ter aprovado este mês uma resolução que garante que este não será detido caso queira comparecer à cerimónia - a lista oficial de convidados mostrava na sexta-feira que o enviado de Telavive seria o ministro da Educação, Yoav Kisch. Quanto a discursos, e numa iniciativa inédita em celebrações especiais da libertação deste campo, “não haverá discursos políticos”, disse ao The Guardian Piotr Cywinsk, diretor do memorial e museu de Auschwitz-Birkenau. “Queremos focar-nos nos últimos sobreviventes que estão entre nós e nas suas histórias, na sua dor, no seu trauma e no seu modo de nos oferecerem algumas obrigações morais difíceis para o presente”. .PR israelita denuncia "ressurgimento aterrador do antissemitismo"