A contestada alteração legislativa em França que previa o aumento da idade de reforma dos 62 para os 64 anos foi suspensa até 1 de janeiro de 2028. A Assembleia Nacional francesa votou a suspensão com 255 votos a favor contra 146, com uma divisão à esquerda. O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, tinha proposto esta suspensão para garantir a sobrevivência do seu Governo, mas a medida vai custar 300 milhões de euros aos cofres estatais só em 2026 (quando a pressão é para cortar na dívida pública). Os socialistas, que exigiram esta medida para não censurarem o Governo de Lecornu e negociar o Orçamento para 2026, votaram a favor, junto com a maioria dos Verdes mas também a extrema-direita do Reagrupamento Nacional e parte dos centristas do Movimento Democrático. Já A França Insubmissa (LFI, na sigla original) e os comunistas, tal como Os Republicanos e o Horizontes, votaram contra, com os primeiros a alegar que isto só vai adiar o problema. .Lecornu faz cedências e socialistas recusam derrubar o governo ao fim de quatro dias.“Votar a favor do adiamento da reforma das pensões é votar a favor da reforma aos 64 anos”, alegou a presidente do grupo da LFI, Mathilde Panot. “Vamos votar contra o adiamento da reforma porque não aceitamos o princípio que está por trás. Não fomos eleitos para receber migalhas do governo cambaleante de Macron, mas para romper com a violência social que ele inflige a todos”, acrescentou.À direita, a questão prende-se com os custos. “Num país arruinado, suspender a reforma das pensões é uma ilusão”, denunciou Laurent Wauquiez, líder da bancada d’Os Republicanos. A porta-voz do Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, admitiu que a suspensão “não é uma boa notícia para a economia”, mas lembrou que o seu partido sempre foi contra a proposta e que votou de forma “coerente”.O Renascimento, de Macron, absteve-se. A reforma, uma das medidas-chave do chefe de Estado, foi aprovada sem o voto dos parlamentares em 2023 (estava Élisabeth Borne na chefia do Governo). Altamente impopular, terá custado muitos votos ao partido depois de Macron dissolver a Assembleia e convocar novas eleições em 2024 - que deixaram um Parlamento altamente dividido, que desde então já fez cair dois primeiros-ministros (Michel Barnier e François Bayrou). A votação sobre a questão da reforma das pensões era apenas parte do debate esta quarta-feira (12 de novembro) na Assembleia Nacional francesa, que tinha até à meia-noite para passar o projeto de lei de financiamento da Segurança Social. Este depois segue para o Senado, onde a direita tem a maioria. O próximo passo será analisar a parte das receitas do projeto de lei orçamental, que devem votar no dia 17, antes de passar às despesas, com o voto previsto até 23 de novembro.