Assassino de Marielle Franco diz que  pagamento podia chegar a 18 milhões

Assassino de Marielle Franco diz que pagamento podia chegar a 18 milhões

Ronnie Lessa confessou o crime aos investigadores e revelou que os autores intelectuais, os irmãos Brazão, lhe prometeram 1000 lotes de apartamentos no Rio
Publicado a
Atualizado a

O ex-polícia Ronnie Lessa, autor material confesso da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018, revelou que os supostos autores morais do crime, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, ambos políticos, lhe prometeram o equivalente a cerca de 100 milhões de reais, cerca de 18 milhões de euros, ao câmbio atual, em imóveis.

“Era muito dinheiro envolvido”, disse Lessa, no vídeo da delação premiada que assinou com a polícia, entretanto obtida e exibida pela TV Globo. “Na época, ele falou em 100 milhões de reais e realmente as contas batem, daria mais de 20 milhões de dólares, os 100 milhões seria o lucro do loteamento, são 500 lotes de cada lado”.

Os loteamentos, na zona oeste do rio, seriam ilegais, como a maioria dos terrenos explorados pelas milícias (máfias) do Rio de Janeiro, mas os irmãos Brazão, um ex-deputado estadual e outro deputado federal, encarregar-se-iam de torná-los legítimos, graças aos seus conhecimentos nos meandros da política do Rio de Janeiro, acrescentou ainda Lessa.

A oferta era válida para Lessa e para Edmilson Oliveira, o outro “matador de aluguer” a quem foi oferecido o serviço de matar de Marielle. Conhecido por Macalé, ele foi assassinado em 2021 num crime por resolver.

De acordo com Lessa, no loteamento clandestino ele poderia ainda fazer a exploração de serviços como “gatonet”, como é chamada no Brasil a obtenção de TV a Cabo e serviço de internet ilegal, venda de gás e transporte de moradores.

“Então, na verdade, eu não fui contratado para matar a Marielle, como um assassino de aluguer: não, eu fui chamado para uma sociedade”, declarou Lessa, para quem o negócio o tornaria uma espécie de chefe de uma nova milícia carioca.

Ainda segundo o criminoso, Domingos e Chiquinho Brazão encontraram-se com ele três vezes numa avenida na região da Barra da Tijuca, onde teriam dito que Marielle, do PSOL, partido de esquerda, era “uma pedra no caminho” dos objetivos da milícia.

“Isso foi o que o Domingos passou para a gente: ‘A Marielle vai atrapalhar e nós vamos seguir isso aí. Para isso, ela tem que sair do caminho’”, continuou Lessa, citando Domingos Brazão.

De acordo com a TV Globo, a polícia ainda não conseguiu comprovar esses encontros, em 2017, por já não haver sinal de telemóvel disponível.  

Lessa, que ainda não foi condenado, está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, desde dezembro de 2020.

Os irmãos Brazão, ainda à TV Globo, classificaram a delação de Lessa como “desesperada criação mental na busca por benefícios com muitas contradições, fragilidades e inverdades”.

* correspondente em São Paulo

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt