Os polacos vão este domingo às urnas para a a primeira volta de umas presidenciais que podem definir o futuro do governo liderado por Donald Tusk e a implementação da sua agenda reformista pró-europeia. As sondagens dão uma ligeira vantagem ao autarca liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, de 53 anos, apoiado pela Coligação Cívica (KO) do primeiro-ministro, que deverá defrontar na segunda volta, a 1 de junho, o historiador Karol Nawrocki, de 42 anos, o candidato do nacionalista Lei e Justiça (PiS) do ainda presidente Andrzej Duda.“Uma vitória de Trzaskowski não só permitirá ao governo de Tusk implementar reformas judiciais bloqueadas, como também poderá desestabilizar o PiS internamente. Por outro lado, uma vitória de Nawrocki manteria o veto presidencial como uma poderosa obstrução à restauração democrática e levaria a coligação a um possível ponto de rutura. Isto poderá custar a Tusk as eleições de 2027, devolvendo potencialmente a extrema-direita ao poder”, nota Marta Prochwicz, vice-diretora do think tank European Council on Foreign Relations (ECFR) em Varsóvia.Quando Donald Tusk voltou à liderança do governo, em dezembro de 2023, afastando o PiS do poder, prometeu restaurar a independência judicial, os direitos das mulheres, a liberdade dos media, entre outros, mas Duda barrou a maioria destes planos graças ao seu poder de veto como presidente. E o primeiro-ministro não possui a maioria parlamentar de três quintos necessária para anular estes vetos. Mesmo assim, e apesar dos entraves de Duda, Tusk já conseguiu que em fevereiro do ano passado Bruxelas descongelasse 137 mil milhões de euros em fundos europeus para implementar a sua reforma na Justiça.Experiência vs TrumpApesar de existirem seis candidatos, a campanha eleitoral tem sido marcada pelo confronto entre o pró-europeu Trzaskowski, que lidera as sondagens com cerca de 32% das intenções de voto, e o populista Nawrocki, que surge com cerca de 26%. “Trzaskowski é de longe o candidato mais forte e um político mais experiente que Nawrocki. Nawrocki tem usado a carta de Trump na campanha, retratando-se como o herdeiro de Duda, cuja relação próxima com Trump é bem conhecida. O PiS acusou Tusk de pôr em perigo os laços estreitos da Polónia com os Estados Unidos, ao concentrar-se demasiado nos parceiros europeus”, refere Piotr Buras, diretor do ECFR em Varsóvia. “Embora a posição pró-EUA da Polónia e o apoio à Ucrânia persistam, a eleição determinará fundamentalmente se a Polónia se tornará um ator europeu empenhado ou se permanecerá parcialmente desligada do projeto europeu”, acrescenta Marta Prochwicz. Interferência russaO instituto polaco de monitorização das redes digitais NASK anunciou esta quinta-feira ter descoberto tentativas de interferência na campanha, com “mensagens coerentes com a linha de propaganda russa”. “A análise incidiu sobre a atividade de uma rede de várias centenas de contas falsas na rede X que difundiam, de forma coordenada, mensagens coerentes com a linha de propaganda da Federação Russa”, disse o instituto. O mesmo foi verificado no Telegram.Segundo o NASK, o conteúdo das mensagens dizia respeito principalmente a temas que polarizam o debate, como segurança, política externa ou migração.As equipas de Trzaskowski e de Nawrocki anunciaram a intenção de remeter para o Ministério Público casos de desinformação e ações dirigidas contra os candidatos, que podem ter sido financiadas a partir do estrangeiro.