Internacional
16 outubro 2021 às 16h21

De Mao a Marte, a 'Longa Marcha' espacial da China

China lançou com sucesso a sua missão tripulada mais longa. Taikonautas vão ficar seis meses no espaço

DN/AFP

Os três astronautas da nave chinesa Shenzhou-13 - dois homens e uma mulher - chegaram neste sábado à nova estação espacial da China para dar continuidade à construção da mesma ao longo dos próximos seis meses, naquela que deverá ser a missão tripulada mais longa já lançada pelo gigante asiático.

Um foguetão Longa Marcha 2F lançou a nave Shenzhou-13 rumo à estação Tiangong (Palácio Celestial) às 00h23 locais, do centro de lançamento de Jiuquan, no deserto de Gobi.

Após o lançamento, a agência espacial chinesa responsável pelos voos tripulados, conhecida pela sigla CMSA, disse que a operação tinha sido um sucesso e que os membros da tripulação estavam bem. Horas depois, a nave Shenzhou-13 acoplou-se à estação.

A cerca de entre 350 e 400 quilómetros de altitude, os três astronautas vão permanecer no módulo espacial Tianhe ("Harmonia Celestial"), o único já em órbita dos três que formarão a estação espacial chinesa.

A missão dos astronautas será continuar a construção, verificar o equipamento e conduzir algumas experiências científicas. Também farão duas ou três saídas para o espaço. A tripulação da Shenzhou-13 duplicará assim o recorde de duração de uma missão tripulada chinesa, estabelecido em setembro passado pelos astronautas da Shenzhou-12, que passaram três meses no módulo Tianhe.

A aventura espacial da China, iniciada há mais de 60 anos pelo "Grande Timoneiro" Mao Tsé-Tung, alcançou assim um novo feito neste sábado (16) com a chegada de três 'taikonautas' - como são apelidados os astronautas chineses - à sua estação espacial para iniciar a mais longa missão espacial de Pequim até agora.

A China já investiu biliões de dólares no seu programa espacial e tenta chegar ao mesmo nível de Europa, Estados Unidos e Rússia. Estas são as principais etapas da conquista espacial chinesa:

Em 1957, a ex-União Soviética colocou em órbita o primeiro satélite fabricado pelo homem, o Sputnik. O fundador da República Popular da China, Mao Tsé-Tung, faz então uma promessa aos seus cidadãos: "Nós também fabricaremos satélites!"

A primeira etapa foi concretizada em 1970. A China lançou o seu primeiro satélite, Dongfanghong-1 ("O Leste é Vermelho-1"), o nome de uma canção em homenagem a Mao, cuja melodia seria difundida por vários dias no espaço.

O foguetão responsável por colocar o satélite em órbita chamou-se "Longa Marcha", um nome que recordava a caminhada do Exército Vermelho que permitiu que Mao se afirmasse como líder do Partido Comunista chinês.

Em 2003, o gigante asiático enviou o primeiro chinês ao espaço, o taikonauta Yang Liwei, que deu 14 voltas à Terra num período de 21 horas.

Com esse voo, a China passou a ser o terceiro país, depois de URSS e Estados Unidos, a enviar um ser humano ao espaço através dos seus próprios meios.

A China foi excluída deliberadamente do programa da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), uma cooperação que integrou americanos, russos, europeus, japoneses e canadiano, e decidiu construir a sua própria estação espacial.

Para isso, o país asiático lançou primeiro um pequeno módulo espacial, Tiangong-1 ("Palacio Celestial 1"), que foi colocado em órbita em setembro de 2011, para realizar o treino dos taikonautas e também experiências médicas.

O Tiangong-1 deixou de funcionar em março de 2016. O laboratório era considerado uma etapa preliminar para a construção de uma estação espacial.

Em 2016, a China lançou o seu segundo módulo espacial, Tiangong-2, onde os taikonautas realizaram acoplagens técnicas.

Em 2013, um pequeno robô controlado remotamente, batizado de "Coelho de Jade", chegou à Lua. Inicialmente, o equipamento teve problema técnicos, mas foi reativado e explorou a superfície lunar durante 31 meses.

A China prevê enviar taikonautas à Lua em 2030 e pretende construir uma base na superfície do satélite natural em colaboração com a Rússia.

O programa espacial chinês sofreu um revés em 2017 com o fracasso do lançamento do Longa Marcha 5, um equipamento crucial que permitiria propulsionar as pesadas cargas necessárias para algumas missões.

Este contratempo levou a um atraso de três anos para a missão Chang'e 5. Executada apenas em 2020, a missão permitiu que os chineses enviassem para a Terra amostras da superfície lunar, algo que não acontecia há 40 anos.

Em janeiro de 2019, a China obteve outro sucesso com um feito inédito à escala mundial: a alunagem de um robô, o "Coelho de Jade 2", na face oculta da Lua.

Já em junho de 2020, o país asiático lançou o último satélite para concluir o seu sistema de navegação Beidou, que compete com o GPS norte-americano.

Em julho de 2020, a China enviou a Marte a sonda "Tianwen-1", transportando um robô com rodas comandado remotamente chamado Zhurong, que pousou na superfície de Marte em maio de 2021.

Os cientistas chineses também mencionaram o sonho de enviar pessoas para Marte num horizonte não muito distante. Além disso, o responsável pela agência espacial, Xu Honglian, mencionou a possibilidade de realizar uma missão para Júpiter até 2030.

Neste sábado, três taikonautas chegaram então à primeira Estação Espacial da China, cuja montagem começou em abril, com a colocação em órbita do seu módulo central.

A missão deve durar seis meses, a mais longa prevista para uma tripulação chinesa, como o dobro do tempo da missão anterior, lançada em abril, que durou 90 dias.

Para terminar a montagem da estação, batizada de Tiangong (Palácio Celestial, em chinês), serão necessárias onze missões.

Uma vez concluída, a estação deverá orbitar a entre 400 e 450 quilómetros de distância da superfície terrestre por um período de dez anos, com a ambição de manter a presença humana no espaço por um longo período.

Em princípio, a China não planeia usar a sua estação espacial para a cooperação internacional, mas suas autoridades já disseram que estão abertas a colaborar com outros países.