Internacional
27 janeiro 2022 às 13h57

Catalunha perdoa centenas de bruxas torturadas e executadas durante três séculos

Proposta foi aprovada no Parlamento catalão e envolve mais de 700 mulheres que viveram entre os séculos XV e XVIII.

DN/AFP

Torturadas, enforcadas e acusadas de crimes sem fundamento, o Parlamento da Catalunha aprovou na quarta-feira uma resolução para reparar a memória e fazer justiça a centenas de mulheres executadas por bruxaria durante três séculos nesta região do nordeste de Espanha.

A iniciativa, promovida por diversos grupos independentistas e de esquerda, reconhece-as como "vítimas de perseguição misógina" e insta, por exemplo, o governo regional e os municípios a incluírem os seus nomes em ruas de localidades catalãs.

Presente em muitos territórios por séculos, a caça às bruxas foi bastante intensa no que hoje é a Catalunha. Segundo a revista Sàpiens, cujas pesquisas em conjunto com o historiador Pau Castell serviram de base para a resolução, a região foi um dos primeiros lugares da Europa a implementar ações contra a bruxaria, em 1471. Foi também uma das regiões em que houve mais execuções em todo o continente.

"Recentemente, foram recuperados os nomes de mais de 700 mulheres que, entre os séculos XV e XVIII, foram processadas, torturadas e executadas", diz a proposta apresentada por partidos como o Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que governa a comunidade autônoma, e também o independentista JxCat.

As vidas e mortes trágicas dessas mulheres serão revistas agora sob a perspetiva de género para sensibilizar a população sobre os processos que elas sofreram, seguindo iniciativas similares desenvolvidas na Escócia, Suíça, Noruega e na região espanhola de Navarra, de acordo com o texto aprovado.

"Antes chamavam-nos bruxas. Agora chamam-nos 'feminazi', histéricas, 'mal comidas'. Antes chamava-se caça às bruxas e, agora, chamamos a isso feminicídio", afirmou a deputada regional Jenn Díaz, do ERC, na tribuna da câmara regional.

A iniciativa, à qual se opuseram os legisladores de direita e extrema-direita, foi aprovada por 114 votos a favor, 14 contra e 6 abstenções.

O texto usou como base a campanha "Não eram bruxas, eram mulheres", lançada pela Sàpiens, que elaborou um mapa e um censo das pessoas - a grande maioria mulheres, mas também houve alguns homens - injustamente condenadas.

"Quem não gostaria de morar na rua de María Joaneta ou de Antonia Rosquellas, ao invés da rua Nicolau Eimeric ou Cardeal Cisneros? Vamos fazê-lo", disse a deputada do JxCat Aurora Madaula, ao contrapor o nome de duas supostas bruxas com o de dois políticos conhecidos e membros da Inquisição.