O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, apelou esta quarta-feira, 15 de outubro, aos aliados da NATO para aumentarem o seu investimento na compra de armas norte-americanas para Kiev, no âmbito da iniciativa Lista de Requisitos Priorizados para a Ucrânia (PURL). “Obtém-se a paz quando se é forte. Não quando se usam palavras fortes ou se abana os dedos, obtém-se quando se tem capacidades fortes e reais que os adversários respeitam”, referiu o governante norte-americano antes da reunião com os seus homólogos da NATO em Bruxelas. Mais tarde, Hegseth avisou Moscovo, sem adiantar mais detalhes, que os Estados Unidos e os aliados “imporão custos à Rússia pela sua agressão contínua” se a guerra na Ucrânia não chegar ao fim.Na terça-feira, como o DN noticiou, um relatório do Instituto Kiel para a Economia Mundial dava conta que a ajuda militar à Ucrânia sofreu um declínio acentuado em julho e agosto - desceu 43% face ao primeiro semestre do ano -, apesar da introdução da PURL, através da qual veio a maior parte do apoio nestes dois meses. “A nossa expectativa hoje é que mais países doem ainda mais, que comprem ainda mais para ajudar a Ucrânia, para levar este conflito a bom termo”, prosseguiu o governante norte-americano, um desejo que foi secundado pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Diplomatas da Aliança disseram à AP que os EUA têm entre 8,6 e 10,3 mil milhões de euros em armas, sistemas de defesa aérea e munições que Kiev poderia utilizar.Até agosto, segundo o Kiel, esta iniciativa contou com a participação de oito países - Bélgica, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Letónia, Países Baixos, Noruega e Suécia - que investiram um total de 1,9 mil milhões de euros. Um valor que, no entanto, fica aquém dos 3 mil milhões de dólares que Volodymyr Zelensky esperava garantir até outubro. Esta quarta-feira, em Bruxelas, o ministro da Defesa ucraniano, Denys Shmyhal, acrescentou que Kiev precisará de entre 10,3 mil milhões e 17,1 mil milhões de euros em ajuda militar no próximo ano através da PURL. E acrescentou que a Ucrânia consegue produzir 10 milhões de drones em 2026 com financiamento dos aliados, mas precisa de mais projéteis de artilharia de longo alcance.A Alemanha prometeu esta quarta-feira mais de 1,7 mil milhões de euros em ajuda militar à Ucrânia, com o ministro da Defesa germânico, Boris Pistorius, a anunciar que Berlim irá comprar cerca de 430 milhões de euros em armas dos EUA para Kiev no âmbito da PURL. Pistorius explicou que o “pacote da Alemanha satisfaz uma série de necessidades urgentes da Ucrânia. Fornece sistemas de defesa aérea, Patriot, sistemas de radar e artilharia guiada de precisão, foguetes e munições”. Paralelamente, Berlim irá fornecer “outros dois sistemas de defesa aérea Iris-T, incluindo um grande número de mísseis guiados, bem como mísseis de defesa aérea portáteis”, mas também armas antitanque, dispositivos de comunicação e armas portáteis.O ministro da Defesa da Finlândia, Antti Häkkänen, anunciou esta quarta-feira que o país “decidiu juntar-se ao PURL, porque vemos que é crucial que a Ucrânia obtenha as armas críticas dos EUA”. Helsínquia irá também fornecer ainda a Kiev um pacote do seu equipamento militar.A Suécia, que já contribui para o PURL, disse esta quarta-feira estar “pronta para fazer mais”. “Isto é crucial agora, porque temos observado uma trajetória errada no que diz respeito ao apoio à Ucrânia, que está a diminuir e queremos ver mais reforços”, afirmou o ministro da Defesa sueco, Pal Jonson. No mesmo sentido, os Países Baixos, através do ministro da Defesa, Ruben Brekelmans, fizeram saber ontem que planeiam investir 90 milhões de euros em drones para a Ucrânia. Também Portugal anunciou esta quarta-feira que se vai juntar à compra de armas para Kiev. “Anunciámos que vamos investir 50 milhões de euros na PURL, do mesmo modo que anunciámos que vamos investir dez milhões de euros na iniciativa britânica de drones […], apesar de ser uma iniciativa britânica, tem recaído invariavelmente na produção de drones nacionais, portanto, é um investimento também na indústria de defesa nacional”, afirmou em Bruxelas o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, citado pela Lusa. O ministro da Defesa da Estónia, Hanno Pevkur, disse que o seu país contribuiria com 12 milhões de dólares para o quarto pacote PURL, denominado Báltico Nórdico.Países como França, Espanha ou Itália, por seu turno, têm sido criticados por não estarem a fazer o suficiente para ajudar a Ucrânia, com o finlandês Häkkänen a sublinhar ontem que todos os aliados devem assumir a sua “parte justa do fardo” e encontrar o dinheiro para tal “porque este é um momento crucial”.Juntos para proteger a EuropaUm dos temas em cima da mesa da reunião de ontem dos ministros da Defesa da Aliança foi as invasões do espaço aéreo por parte da Rússia de vários países da NATO - como a Polónia, a Estónia ou a Roménia, mas também a Dinamarca (embora Copenhaga não tenha atribuído claramente a autoria dos incidentes no seu território a Moscovo) - tendo o secretário-geral da NATO rejeitado que abater aeronaves russas seja a única maneira de demonstrar a capacidade de dissuasão da Aliança, mas advertiu Moscovo que “está tudo pronto” para responder a violações intencionais, sublinhando que o bloco dos 32 “é muito mais forte do que a Rússia”.Questionado sobre a possibilidade de abater drones e até aeronaves de combate - a Rússia utiliza, por exemplo, os Sukhoi Su-57, semelhantes aos F-35 - como a única maneira de dissuadir incursões aéreas, Mark Rutte respondeu que intercetar os drones ou aviões e acompanhá-los para fora do espaço aéreo da NATO também faz parte da capacidade de dissuasão. Mas quis “dizer aos russos que se o tentarem intencionalmente”, a NATO tem “tudo pronto para assegurar que vai defender-se”.Rutte referiu ainda que a NATO e a União Europeia estão a trabalhar em conjunto para criar um muro de drones (uma iniciativa de Ursula von der Leyen) para proteger os países-membros - de recordar que 23 dos 27 países da UE fazem parte da NATO -, rejeitando ainda que haja uma duplicação de esforços. “A NATO é boa nas coisas pesadas [armamento e estratégia militar], enquanto a União Europeia tem um enorme soft power [poder de persuasão e diplomático]. Esta combinação é crucial para que a Rússia não prevaleça”, sustentou.De acordo com a Reuters, a Comissão Europeia vai propor esta quinta-feira, 16 de outubro, que uma nova iniciativa antidrones esteja totalmente funcional até ao final de 2027. O plano inicial do executivo comunitário era construir um “muro de drones” para proteger o seu flanco oriental, mas face às críticas surgidas na reunião de Copenhaga dos países do sul e do oeste da Europa - que acusam o projeto original de estar focado no leste, quando os drones podem representar uma ameaça em todo o continente - hoje será apresentada uma “Iniciativa Europeia de Defesa contra Drones” mais ampla, incluindo uma rede continental de sistemas antidrones. Paralelamente, a Alemanha e a França assinaram esta quarta-feira um acordo de implementação para um sistema de alerta precoce baseado em satélite, denominado Olho de Odin, que visa melhorar significativamente a capacidade da Europa para detetar lançamentos de mísseis.Kiev em ação nos EUAO encontro de sexta-feira, 17 de outubro, na Casa Branca entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky está a ser antecedido por reuniões em Washington entre representantes dos Estados Unidos e uma delegação ucraniana encabeçada pela primeira-ministra Yulia Svyrydenko. Um comunicado do Departamento do Tesouro deu conta que o secretário Scott Bessent reafirmou a Svyrydenko “o apoio inabalável dos Estados Unidos à soberania ucraniana e enfatizou a dedicação dos Estados Unidos em garantir uma paz duradoura”. “Em todas as reuniões em Washington, levantámos o tema da defesa da energia ucraniana e o apoio à nossa resiliência durante o inverno, bem como formas de a defender”, escreveu, por seu turno, Svyrydenko no Telegram, descrevendo as prioridades da visita como “energia, sanções e o desenvolvimento da cooperação com os EUA de novas formas que possam fortalecer os nossos dois países”.Com a chegada do tempo mais frio, a Rússia voltou a atacar instalações energéticas ucranianas, como na passada sexta-feira, quando lançou quase 450 drones e 30 mísseis, provocando cortes de energia em nove regiões, incluindo Kiev. Na noite de terça-feira, Moscovo voltou a atacar a infraestrutura elétrica ucraniana com drones, interrompendo o fornecimento de energia em diversas áreas. A operadora de rede elétrica Ukrenergo informou ontem que o fornecimento de energia foi limitado em sete regiões, a maioria no leste, enquanto que a empresa estatal de gás Naftogaz informou que foi atingida uma central termoelétrica, sem a identificar.De acordo com a Reuters, uma sobrecarga na rede e os efeitos residuais de ataques russos anteriores provocaram apagões em Kiev e noutras regiões ucranianas na noite de terça-feira, sendo que a pressão da água também foi afetada na capital.“O inimigo não mudou as suas intenções de destruir completamente o nosso sistema energético e mergulhar as cidades ucranianas na escuridão total, e está a utilizar novas tácticas de cada vez para o conseguir. Por isso, devemos estar preparados para qualquer cenário”, disse ao Kyiv Independent a ministra da Energia, Svitlana Hrynchuk.Durante esta visita aos Estados Unidos, membros da delegação ucraniana reuniram-se também com fabricantes de armas norte-americanos, incluindo a Raytheon, que produz os Tomahawk, os mísseis de longo alcance que Donald Trump já insinuou que poderá fornecer a Kiev através da PURL, avançou esta quarta-feira a AFP..Ajuda militar à Ucrânia cai a pique apesar do novo plano da NATO.UE pressionada a acelerar processos de adesão por causa de Ucrânia e Moldova