João Lourenço pediu esta terça-feira, 11 de novembro, a todos os angolanos para valorizarem as conquistas alcançadas e deixarem para trás “disputas e querelas partidárias”, sublinhando que o desenvolvimento do país “não é realizável em apenas duas décadas de paz”. “Estamos cientes de que há ainda muito por fazer e que a grande obra da promoção do desenvolvimento de Angola não é realizável em apenas duas décadas de paz”, disse o presidente angolano durante as comemorações do 50.º aniversário da independência do país, realizadas na Praça da República, em Luanda, e nas quais marcaram presença cerca de 10 mil convidados e 45 delegações estrangeiras, incluindo a de Portugal, encabeçada por Marcelo Rebelo de Sousa.Lourenço prosseguiu o seu discurso defendendo que os angolanos devem “preservar e valorizar as conquistas alcançadas, para que juntos” possam construir um futuro melhor e “Angola se possa orgulhar dos seus filhos”. E, em dia de celebração dos 50 anos da independência, o presidente de Angola destacou também a importância da paz conquistada em 2002, pondo fim a uma guerra civil iniciada em 1975. “Uma vez conquistada a paz e criadas as premissas para uma efetiva reconciliação nacional, aproveitemos esta oportunidade única para construirmos juntos uma sociedade inclusiva e com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos”.Nesse sentido, João Lourenço considerou essencial que Angola canalize a energia nacional para “a consolidação da economia, o desenvolvimento económico e social do país”, que deve ser o principal foco. “Não deixemos que as disputas e querelas partidárias consumam grande parte do nosso tempo e das nossas energias”. Paralelamente, defendeu o “fortalecimento do setor privado e um maior investimento na educação, para reduzir o analfabetismo e “retirar ao máximo possível as crianças que se encontram fora do sistema de ensino”.“Precisamos todos de trabalhar mais e melhor e de criar a consciência de que o progresso e o desenvolvimento não vêm apenas da ação dos governos, mas sim do esforço coletivo e conjugado de toda a sociedade”.Na opinião de João Lourenço, Angola está “a dar passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento” e apontou o Corredor do Lobito como um projeto de “grande envergadura”, que vai desempenhar um papel decisivo na interconexão com África e “tornar a economia nacional mais robusta e capaz de responder às necessidades do país”.Por outro lado, considerou essencial que o país “valorize os que arregaçam as mangas e fazem acontecer”, sendo estes os merecedores de medalhas que o executivo vai continuar a entregar no âmbito dos 50 anos de independência.A questão das medalhas, que têm sido atribuídas em várias cerimónias desde o início do ano, causou polémica em Angola pois só há menos de um mês João Lourenço anunciou que os líderes históricos Jonas Savimbi (UNITA) e Holden Roberto (FNLA), signatários do Acordo de Alvor, seriam condecorados com a Medalha Comemorativa dos 50 Anos da Independência Nacional, o que aconteceu na última quinta-feira. Uma decisão que surgiu após críticas e polémica pela ausência destes dois nomes nas listas de condecorações já atribuídas e que João Lourenço justificou como sendo um tributo “ao espírito do perdão, da paz e da reconciliação nacional”. Durante as cerimónias desta terça-feira foi a vez do terceiro signatário do Alvor, Agostinho Neto, também ser distinguido como o fundador de Angola, ao proclamar a independência em 1975, e o seu primeiro presidente. A condecoração foi recebida pela sua viúva, Maria Eugénio Neto, e o filho Mário Neto..A Praça da República foi ainda palco de um desfile civil que contou a história do país antes e depois da independência através de cinco blocos, segundo descreveu o Jornal de Angola, e que iam desde a representação das suas 21 províncias, a luta pela libertação nacional a 4 de fevereiro de 1961, as viúvas que perderam os parceiros durante o conflito armado, a proclamação da independência a 11 de novembro de 1975 e os antigos combatentes e veteranos da pátria no pós-independência.Realizou-se também um desfile militar com 17 companhias dos três ramos das Forças Armadas e da Polícia Nacional.Colonialismo opressorNo seu discurso desta terça-feira, perante milhares de convidados nacionais e centenas de dignatários estrangeiros, João Lourenço evocou a história do país, frisando que Angola tem uma sensibilidade “muito especial” para as questões da guerra, da paz e da liberdade e independência dos povos, por ter passado por essa experiência e vivido várias décadas em conflito.“Mal tínhamos acabado de vencer o colonialismo português, que nos oprimiu e escravizou durante séculos, tivemos de imediato de enfrentar o regime retrógrado do apartheid, que representava uma ameaça permanente aos povos da África Austral e de Angola em particular, por nos ter agredido, invadido e estar assente na ideia da superioridade de uma raça sobre outra e no segregacionismo como modelo de sociedade”, salientou, dizendo que Angola correu “sério risco de ser colonizada duas vezes num tão curto espaço de tempo”. E recordou que Luanda esteve ao lado dos povos da Namíbia, do Zimbabué e da África do Sul, contribuindo para o fim do regime de segregação racial. .Sobre a referência ao colonialismo português feita no discurso do presidente angolano, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “até contrastou com os aplausos dados a Portugal na altura em que chamaram os chefes de Estado” e considerou que João Lourenço “foi muito sucinto, muito cuidadoso nessa referência, porque é uma referência tradicionalmente feita pelo poder em Angola”. “Faz parte (…) quando se está a comemorar a luta pela libertação, pela independência, faz parte dessas referências”.O presidente português destacou ainda o contributo histórico do nosso país para a unidade de Angola, “no meio dos altos e baixos da colonização”, e voltou a sublinhar que as relações entre os dois países atravessam “um momento excelente”. “Angola está sempre no coração de Portugal e nós sabemos que Portugal está no coração de Angola”, afirmou Marcelo, sublinhando ser “difícil encontrar um momento tão excelente nas relações entre Angola e Portugal como este”. Numa perspetiva mais global, o presidente angolano afirmou que Luanda olha para o mundo atual “com apreensão, porque assistimos a uma confrangedora banalização da vida humana nas guerras e nos conflitos que assolam este nosso planeta”. E apelou ao fim da guerra contra a Ucrânia e à resolução do conflito no Médio Oriente, sublinhando a “imperiosa necessidade da criação do Estado da Palestina”. Lourenço manifestou ainda preocupação com a situação no Sahel, no Sudão e na República Democrática do Congo, onde “as guerras ameaçam a balcanização desses países”, bem como com “o flagelo dos golpes de Estado e das mudanças inconstitucionais em África”, que “voltaram a ganhar força e contornos preocupantes”. “Estamos muito preocupados com o reaparecimento e a proliferação de grupos terroristas em determinados pontos do nosso planeta e de África em particular”. com Lusa .Independência de Angola. 50 anos depois pede-se “um só povo, uma só nação”, mas as divisões ainda persistem.António Costa Silva: “Angola pode criar um epicentro mundial de terras raras”