Um escândalo político-militar em Israel conheceu um novo capítulo na segunda-feira com a audiência da até há pouco procuradora militar. Na sexta-feira, Yifat Tomer-Yerushalmi assumiu ter sido a responsável pela divulgação de um vídeo de soldados do seu país a abusarem de um preso palestiniano e demitiu-se. Após ter sido dada como desaparecida, foi detida no domingo. No dia seguinte, a sua detenção foi prolongada até quarta-feira. A major-general Yifat Tomer-Yerushalmi demitiu-se do cargo de procuradora militar na sexta-feira, no mesmo momento em que admitiu o seu papel na transmissão, em agosto passado, de um vídeo publicado pelo canal 12. Nele são vistas imagens da prisão de Sde Teiman, onde foram encarcerados palestinianos durante a guerra em Gaza. As filmagens das câmaras de vigilância indicavam que os soldados, com passa-montanhas na cara, arrastam um detido, onde ele e outros palestinianos aparentam estar deitados de bruços, com os braços algemados acima da cabeça. Depois, os soldados levam o prisioneiro para outra área, mas as imagens captadas estão ocultas pelos escudos de alguns dos soldados. O médico que apresentou queixa disse que a pessoa em questão foi sodomizada, entre outras agressões físicas, como costelas partidas. Na altura, grupos de defesa dos direitos humanos pediram o encerramento daquela prisão. Na sexta-feira, a advogada e militar explicou que a divulgação do vídeo se explica pela “tentativa de contrariar propaganda falsa contra as autoridades policiais do exército”, ao mesmo tempo que defendeu a sua decisão de investigar o abuso.No domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu - que está a ser julgado por corrupção - classificou o caso de “enorme dano reputacional para o Estado de Israel”, ao que tudo indica criticando a divulgação do sucedido e não os abusos cometidos. “Talvez seja o ataque de relações públicas mais sério que Israel tenha conhecido desde a sua fundação. Não me recordo de algum tão concentrado e intenso”, afirmou. Depois de desaparecida durante horas, e temendo-se pela sua vida, tendo em conta o teor da sua carta, Tomer-Yerushalmi foi detida e enfrenta acusações de obstrução da justiça, fraude e abuso do cargo, de acordo com a decisão judicial que prolongou a sua detenção até quarta-feira. Dori Klagsbald, o advogado da major-general, disse não compreender como pôde ser acusada de obstrução, uma vez que a polícia já havia recolhido provas dos cinco militares suspeitos na investigação em curso. “Nestas circunstâncias, é difícil imaginar de que forma alguém poderia obstruir a investigação”, disse.Além da ex-procuradora, foi também detido o ex-procurador-geral das Forças de Defesa de Israel, Matan Solomosh. As autoridades suspeitam de que este tinha conhecimento do ato de Tomer-Yerushalmi e que terá tentado encobri-la. Troca de corposSegundo a Cruz Vermelha, Telavive entregou os corpos de 45 palestinianos na segunda-feira, um dia depois de o Hamas ter devolvido os restos mortais de três reféns. Com a devolução de segunda-feira, os corpos de 270 palestinianos foram entregues desde o início do cessar-fogo, mas só 78 foram identificados até agora.Em Israel, as autoridades identificaram os cadáveres de três soldados mortos no ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023. São eles o capitão Omer Neutra, de 21 anos, o sargento Oz Daniel, de 19 anos, e o coronel Assaf Hamami, de 40 anos. Desde que o cessar-fogo entrou em vigor, em 10 de outubro, foram libertados os restos mortais de 20 reféns, restando oito em Gaza.Ancara quer papel de protagonismo A Turquia voltou a mostrar-se disponível para desempenhar um papel para a obtenção de um acordo de paz para lá do cessar-fogo entre o Hamas e Israel, disse o seu chefe da diplomacia Hakan Firan. Ao receber em Istambul os homólogos de seis países muçulmanos numa reunião sobre a situação humanitária e o cessar-fogo em Gaza, Firan criticou Israel por “não cumprir os seus compromissos” e disse que o seu país poderá enviar tropas para Gaza. “Os países vão decidir enviar soldados para uma força internacional de estabilização com base na sua definição e parâmetros. A Turquia está pronta para fazer o que for necessário e fazer sacrifícios pela paz, mas primeiro precisamos de um enquadramento com o qual todos concordem.”