O príncipe Frederico e Mary.
O príncipe Frederico e Mary.DR/Casa Real Dinamarquesa/Hasse Nielsen

A rainha abdicou. Longa vida ao rei Frederico X, fã de rock e de desporto

O “príncipe das festas”, como chegou a ser conhecido, sobe ao trono aos 55 anos, após a abdicação da mãe, Margarida II. Ao seu lado estará Mary, a australiana com quem casou há quase duas décadas.
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A partir da varanda do Palácio de Christiansborg, em Copenhaga, pelas 14h00 em Lisboa, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, irá proclamar a ascensão ao trono do novo rei, Frederico X. A entronização oficial terá sido feita uma hora antes, durante o Conselho de Estado, quando a rainha Margarida II assinar a declaração da abdicação que anunciou de surpresa no final de ano. A monarca, de 83 anos, que manterá o título de majestade, deixará o palácio antes da proclamação, 52 anos após se ter tornado rainha com a morte do pai, o rei Frederico IX.

As atenções estarão então centradas no novo rei, de 55 anos, e na sua mulher de há quase duas décadas, Mary, a antiga consultora de marketing australiana, hoje com 51 anos, que conheceu num bar em Sydney, durante os Jogos Olímpicos de 2000. “Na Dinamarca, quando as pessoas não se casam até aos 30 anos, dão-lhes frascos de pimenta. É uma tradição. E o príncipe recebeu os frascos, porque ainda não se tinha casado, apesar de já ter tido várias aventuras”, lembrou ao DN o embaixador José de Bouza Serrano, que passou três anos em Copenhaga e é autor do livro As Famílias Reais dos Nossos Dias.

Com Mary, que a partir de hoje será rainha, terá sido amor à primeira vista, sendo que ela consegue ser hoje mais popular do que o marido - 82% dos inquiridos numa sondagem recente disseram que ele será um bom rei, mas Mary obteve 86% de aprovação. A polémica com as fotos de Frederico com outra mulher em Madrid - a casa real recusou comentar “rumores” - parece não ter abalado o casal.

O casamento e os quatro filhos - Christian, Isabella e os gémeos Vincent e Josephine - ajudaram Frederico a consolidar a imagem de pai de família, em contraponto à de “príncipe das festas” que teve no passado. “Ele não era, tecnicamente falando, um rebelde, mas enquanto criança e adolescente estava bastante desconfortável com a atenção mediática e o conhecimento de que ia ser rei”, disse à AFP Gitte Redder, perita na família real.

Fruto do casamento de Margarida II com o príncipe Henrik, antigo diplomata francês que morreu em 2018, Frederico terá crescido sentindo-se negligenciado pelos pais, mais preocupados em cumprir as obrigações reais. Virá daí a rebeldia, que acalmou quando estudou Ciência Política na Universidade de Aarhus e em Harvard - foi o primeiro príncipe dinamarquês a tirar um mestrado - e fez serviço militar nos três ramos das Forças Armadas.

Além do desporto - já correu maratonas, terminou um Ironman e lançou a iniciativa Royal Run na Dinamarca -, o novo monarca é fã de música rock e pop, sendo presença habitual em concertos e festivais. Frederico é também um ativista ambiental, preocupado com o aquecimento climático e as consequências que já se fazem sentir.

“Não é um homem de letras, mas os discursos têm melhorado imenso. Vai muito a concertos de música, não necessariamente clássica, e o palácio onde a família vive está decorado com peças de arte moderna”, contou Bouza Serrano. “A expectativa é grande e baseia-se no equilíbrio em ser diferente, mas, ao mesmo tempo, mais próximo dos concidadãos do que a mãe”, referiu, falando de “uma mudança geracional no sentido da modernidade”.

Abdicação

"Quando chegar a hora, irei conduzir o barco”, disse Frederico num discurso, em 2022, para assinalar os 50 anos da mãe no trono, apontando também as diferenças entre ambos. “Tu pintas, eu faço exercício. Tu escavas por objetos enterrados do passado, eu enterrei a minha cabeça para não ser reconhecido durante o meu tempo nas Forças Armadas. Tu és mestre das palavras, eu por vezes não sei o que dizer.”

É a primeira vez em quase 900 anos que um monarca abdica do trono dinamarquês. “Temo que esteja doente. Pareceu-me muito fragilizada”, disse o embaixador, que considerava Margarida II uma rainha “das antigas, que era para ficar até ao fim”. Fumadora compulsiva (foi apelidada de “rainha cinzeiro”), a monarca sempre teve problemas de mobilidade e, no ano passado, foi operada às costas. Frederico já a representava em vários eventos, mas também terá sido apanhado de surpresa com a abdicação - só soube três dias antes do anúncio. 

Olhando para trás, o embaixador vinca que a decisão (que causou polémica) de retirar os títulos de príncipes aos descendentes do seu filho mais novo, o príncipe Joaquim, já terá sido “indicativo” da decisão da rainha. “Ela poupou o filho mais velho a uma coisa fratricida. Hoje, as monarquias estão pressionadas a justificar a existência e tem havido a tendência para serem reduzidas, para não estarem todos a comer à mesa do orçamento.”

Christian, o  novo príncipe herdeiro

Com a abdicação da avó e a proclamação do pai, Christian (que estará na sala nesse momento histórico) torna-se no novo príncipe herdeiro. O filho mais velho de Frederico e Mary fez 18 anos em outubro e ainda está no secundário. Os pais querem que se concentre na educação (todos os filhos andam na escola pública) e não se preocupe com o futuro, só devendo assumir um papel oficial aos 21 anos. Christian tem três irmãos: Isabella, de 16 anos, e os gémeos Vincent e Josephine, de 13. 

susana.f.salvador@dn.pt

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