A bomba americana que pode ajudar Israel a destruir a central nuclear iraniana de Fordo
Caso os Estados Unidos decidam participar no conflito entre Israel e o Irão, conforme indicam as últimas declarações do presidente Donald Trump, a mais-valia que Washington tem é a possibilidade de destruir as centrais subterrâneas de enriquecimento de urânio que o regime de Teerão possui, capacidade que Telavive não possui. Em causa está a bomba GBU-57, é mais conhecida como “destruidora de bunkers”, e que deverá ter como alvo uma instalação em concreto, como referiu na passada sexta-feira, 13 de junho o embaixador de Israel nos Estados Unidos. "Esta operação (...) deve realmente ser concluída com a destruição de Fordo", declarou Yechiel Leiter na Fox News.
A GBU-57 é uma bomba guiada de precisão, com 13.600 kg, dos quais 2.700 kg são a ogiva, e que pode perfurar 60 metros abaixo da superfície antes de explodir, de acordo com informações da Força Aérea dos Estados Unidos. Em termos de transporte, segundo a mesma fonte, vários tipos de bombardeiros norte-americanos têm capacidade para o fazer, mas apenas o B-2, uma aeronave furtiva com um alcance de 11000 quilómetros, tem autorização para tal, sendo capaz de transportar duas GBU-57.
"A GBU-57 foi concebida especificamente para Fordo", explicou ao Le Monde Ali Vaez, diretor de investigação sobre o Irão no think tank International Crisis Group. Em declarações ao mesmo jornal, Justin Bronk, especialista em sistemas de defesa e investigador do Royal United Services Institute, "provavelmente seriam necessárias pelo menos duas delas, lançadas consecutivamente no mesmo ponto de impacto, para atingir e destruir as principais instalações de Fordo".
Logo no primeiro dia dos ataques, a 13 de junho, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou que a central de enriquecimento de urânio de Natanz, a maior do Irão, estava entre os alvos atingidos por Israel, mas que os seus “níveis de radiação não aumentaram”.
Desde então foi também confirmado o ataque a instalações nucleares em Isfahan, com a AIEA a divulgar que quatro edifícios críticos foram danificados, entre os quais uma instalação de conversão de urânio e uma fábrica de placas de combustível nuclear. Já esta quarta-feira, 18 de junho, o exército israelita anunciou ter atacado durante a noite uma fábrica de centrifugadoras nucleares e várias instalações de fabrico de armas em Teerão.
“Os stocks de mísseis, lançadores, bases militares, instalações de produção, cientistas nucleares e comando e controlo militar do regime sofreram um duro golpe”, referiu à AFP Behnam Ben Taleblu, diretor do programa iraniano no think tank norte-americano Foundation for Defense of Democracies. “Mas ainda há grandes questões sobre a eficácia do ataque de Israel contra o coração pulsante do programa nuclear iraniano”.
Ou seja Fordo, uma central de enriquecimento de urânio a sul de Teerão, e sobre a qual não há, até agora, notícias de que tenha sido atingida, até porque está fora ao alcance das armas israelitas.
Esta central de enriquecimento de urânio, a cerca de 100 quilómetros a sudoeste de Teerão, foi construída de forma secreta debaixo de uma montanha - sob uma camada de rocha e betão com 80 a 90 metros de profundidade - perto da cidade sagrada de Qom e está protegida por baterias antiaéreas.
De acordo com a AIEA, a sua construção começou pelo menos em 2007, mas em 2009, e depois de várias agências de informação de países Ocidentais terem tido conhecimento da sua existência, é que o Irão notificou a agência da ONU sobre a sua construção. Em março de 2023, a AIEA informou que tinha descoberto urânio enriquecido com 83,7% de pureza em Fordo, enquanto os reatores de investigação requerem um enriquecimento de apenas 20% e uma arma nuclear requer um enriquecimento de 90%.
Já em agosto do ano passado, o Irão aumentou o número de centrifugadoras em Fordo e instalou pelo menos 10 cascatas de centrifugadoras IR-6 avançadas, permitindo um maior enriquecimento de urânio.
Mas mesmo que a Casa Branca de Trump entre no conflito e resolvam usar a GBU-57, analistas como Kelsey Davenport, acreditam que "seria difícil para os Estados Unidos destruir o complexo de Fordo". "Se tiverem sucesso, no entanto, destruir Fordo não encerrará o programa de enriquecimento de urânio do Irão. O Irão adquiriu conhecimentos valiosos nos últimos anos e poderá ter centrifugadoras escondidas num local não declarado (…) Os ataques podem atrasá-lo, mas não são uma solução para impedir o país de adquirir armas nucleares", acrescentou a diretora de não proliferação da norte-americana Arms Control Association, em declarações ao Le Monde. Uma preocupação partilhada por Richard Nephew, um dos principais negociadores dos EUA com o Irão durante a administração Obama. “Mesmo que Fordo desaparecesse amanhã, ainda teríamos grandes preocupações”, referiu ao The Washington Post.