14 bombas fura 'bunker', 7 bombardeiros furtivos e dezenas de mísseis. O que os EUA usaram no ataque ao Irão
125 aviões militares, entre eles sete bombardeiros B-2, e duas dezenas de mísseis Tomahawk foram a escolha dos EUA para atacarem as instalações nucleares iranianas, a chamada Operação Martelo da Meia-Noite. Mas a "estrela" do ataque terá mesmo sido a GBU-57, a bomba fura-bunkers que terá sido usada contra as instalações subterrâneas de Fordo. Neste ataque cirúrgico, que visou também as centrais nucleares de Natanz e Isfahan os EUA recorreram a 14 bombas GBU-57, lançadas pelos B-2, confirmou este domingo, 22 de junho, o general Dan Caine, numa conferência de imprensa no Pentágono. Esta foi a primeira utilização operacional destas bombas.
Durante a madrugada, o presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, num breve discurso à nação, que as principais instalações nucleares do Irão foram “completa e totalmente destruídas” nestes ataques.
Segundo a FOX News, que citava fontes militares, nos ataques contra as centrais de Natanz e Isfahan os mísseis Tomahawk terão sido lançados a uma distância de 640 quilómetros. Natanz, a operar desde 2003, tem seis edifícios acima do solo e três estruturas subterrâneas, duas das quais podem acomodar 50.000 centrifugadoras, segundo a organização sem fins lucrativos Nuclear Threat Initiative (NTI). Já Isfahan alberga o maior complexo de pesquisa nuclear do Irão. A instalação foi construída com o apoio da China e inaugurada em 1984, também de acordo com a NTI, segundo a qual 3000 cientistas trabalham em Isfahan, e o local é "suspeito de ser o centro" do programa nuclear do Irão.
O principal alvo era, contudo, a central de enriquecimento de urânio de Fordo. Situada a cerca de 100 quilómetros a sudoeste de Teerão, Fordo foi construída de forma secreta debaixo de uma montanha — sob uma camada de rocha e betão com 80 a 90 metros de profundidade —, perto da cidade sagrada de Qom, e está protegida por baterias antiaéreas.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), a sua construção começou pelo menos em 2007, mas só em 2009, e depois de várias agências de informação de países Ocidentais terem tido conhecimento da sua existência, é que o Irão notificou a agência da ONU sobre a sua construção. Em março de 2023, a AIEA informou que tinha descoberto urânio enriquecido com 83,7% de pureza em Fordo, enquanto os reatores de investigação requerem um enriquecimento de apenas 20% e uma arma nuclear requer um enriquecimento de 90%. Em agosto do ano passado, o Irão aumentou o número de centrifugadoras em Fordo e instalou pelo menos 10 cascatas de centrifugadoras IR-6 avançadas, permitindo um maior enriquecimento de urânio.
Depois dos ataques deste domingo, fontes citadas pela FOX News garantem que Fordo foi "completamente destruída". E o próprio Trump escreveu nas redes sociais: "Fordo já foi." Mas não há ainda confirmação de que tal tenha mesmo acontecido.
Mover forças para o Médio Oriente
Na última semana, desde o ataque israelita contra as instalações nucleares iranianas na madrugada de sexta-feira dia 13, os EUA tinham vindo a deslocar o seu poderio militar para o Médio Oriente. A começar pelo porta-aviões USS Nimitz, mas também caças F-16, F-22 e F-35, além dos bombardeiros B-2 usados na operação deste domingo. Estes últimos descolaram na noite de sexta para sábado do continente americano, explicou o general Dan Quaine, acrescentando que parte do grupo se dirigiu para o Pacífico para desviar as atenções, enquanto o grupo principal, composto por sete B-2 Spirit se dirigia para a zona a atacar. Os aviões, explicou, "fizeram vários reabastecimentos em voo" durante as suas 18 horas de viagem.
Antes de o grupo de ataque entrar no Irão, um submarino — que Quaine não identificou, mas que deverá ter sido o Nimitz — lançou mais de duas dezenas de mísseis Tomahawk contra infraestruturas-chave iranianas para criar uma diversão sempre que um dos aviões penetrava no espaço aéreo iraniano. Segundo o militar, todos os aviões americanos deixaram o espaço aéreo iraniano sem terem sido alvejados uma única vez.
A "famosa" GBU-57
A GBU-57 é uma bomba guiada de precisão, com 13.600kg, dos quais 2.700kg são a ogiva, e que pode perfurar 200 metros abaixo da superfície antes de explodir, de acordo com a Força Aérea dos EUA. Em termos de transporte, vários tipos de bombardeiros americanos têm capacidade para o fazer, mas apenas o B-2 tem autorização para tal, sendo capaz de transportar duas GBU-57, como aconteceu no ataque ao Irão.
Quanto aos Tomahawk, são mísseis de cruzeiro com um alcance que chega aos 2500 quilómetros nos últimos modelos. Os Tomahawk podem atingir os 880km/h e transportar ogivas de explosivos convencionais até 450 quilos.
Com a sua tecnologia furtiva, os bombardeiros B-2 são praticamente indetetáveis por radares convencionais. Têm um autonomia de 11 mil quilómetros sem precisarem de reabastecimento e podem transportar cargas de até 23 toneladas de armamento. Contam com uma tripulação de dois pilotos e têm capacidade para 44 horas de voo contínuo.
helena.tecedeiro@dn.pt