A definição do conceito de “conluio”, por parte do PSD, PS e Chega, a par das decisões sobre a imigração e as opções para a saúde, foi um dos temas quentes no debate quinzenal com o primeiro-ministro. Entre as certezas que saíram deste plenário estão a ausência de resposta ao PCP sobre os benefícios que a descida do IRC trouxe à restante população e o número de alunos que ficarão sem professores por estes aposentarem..O debate começou com o líder do PS a acusar o Governo de ter criado um problema “a si próprio” ao terminar com o regime de manifestação de interesse - um mecanismo que permitia aos imigrantes regularizarem a sua situação já depois de estarem em Portugal -, argumentando que o Executivo liderado por Luís Montenegro o fez num cenário de “disputa política com o Chega”..“Por isso, queria perguntar em que se traduz concretamente a chamada via verde, quais são as novas medidas que facilitarão agora, depois do que fizeram, a entrada de trabalhadores estrangeiros”, questionou Pedro Nuno Santos, aludindo à intenção do Governo em facilitar a entrada de imigrantes que venham concluir obras no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para acelerar os processos..FOTO: Leonardo NegrãoPedro Nuno Santos acusou o Governo de "incompetência" e "falta de credibilidade"..“Sobre convergência com o Chega, o senhor deputado e o PS dão lições a qualquer outra bancada, incluindo ao Governo, porque naquilo que é essencial em matéria de impostos, ou de pensões, os senhores estão de acordo, conversam, combinam e têm chegado a entendimentos mesmo contra a vontade do Governo”, respondeu por sua vez Luís Montenegro, inaugurando as acusações em torno de conluios e acrescentando que o Governo recusa uma política de “portas escancaradas”..O primeiro-ministro explicou que será necessário para os trabalhadores estrangeiros que venham concluir obras do PRR terem “um visto de trabalho ou de procura de trabalho”..Já sobre educação e saúde, Pedro Nuno Santos acusou o Governo de manipular dados, nomeadamente aqueles que dizem respeito a alunos sem professores e nos tempos de espera de doentes oncológicos, rematando que “o Governo tem uma péssima relação com os números”, concluindo que o Executivo de Montenegro “não tem credibilidade e tem também falta de competência”..Na resposta, o primeiro-ministro aludiu aos anos em que Pedro Nuno Santos integrou o Governo de António Costa. “Está a reclamar pela competência que o senhor deputado não teve”, disse..Mas as acusações de ações concertadas com a bancada do Chega subiram de tom quando o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, lembrou o pedido do partido de André Ventura para adiar a votação do relatório sobre o indigitado para vice-presidente da Autoridade da Mobilidade e Transportes, alegando que o documento tem erros. Na perspetiva de Hugo Soares, o episódio em torno do pedido do Chega é mais um exemplo de “cumplicidade estratégica” entre PS e Chega..A acusação mereceu uma resposta por parte da líder da bancada socialista, Alexandra Leitão, para defesa de honra da bancada..“Ou o senhor deputado tem provas do que está a dizer, de um conluio entre bancadas, ou vai ter de pedir desculpas”, avisou..Hugo Soares acabou por dizer que iria aguardar a votação do relatório para tirar conclusões e ainda parafraseou a definição da palavra “conluio”..Impostos e bombeiros.Chega e PAN introduziram no debate o tema do estatuto dos bombeiros. Montenegro garantiu que não iria negociar sob “coação” e nem “sob instrumentalização política”..O primeiro-ministro adiantou, porém, que “a negociação já vai muito avançada”, mas que não queria revelar “elementos que estão em cima da mesa”..Ainda assim, reiterou que a “valorização” será proporcional à “da própria administração pública”, atingindo os quatro mil euros por ano. Montenegro, em resposta ao líder do PCP, Paulo Raimundo, assegurou que o investimento em Defesa, para responder ao compromisso com a NATO, não implicará “cortar em nenhum dos serviços públicos essenciais”..O líder do PCP questionou ainda Montenegro sobre que medidas surgiram com a descida de quatro pontos percentuais no IRC em 2014, durante um governo do PSD com o CDS, numa alusão à descida de um ponto neste imposto aprovada no âmbito do Orçamento do Estado para 2025..Montenegro sustentou que esta medida irá permitir aumentar pensões e garantir professores nas escolas. “O grande erro que a história já ensinou ao comunismo é que não é a pobreza que dá estas respostas, é a riqueza. A descida do IRC é uma política para enriquecer o país”, concluiu.