A residência oficial do primeiro-ministro vestiu-se esta quarta-feira de vermelho para receber os participantes no campeonato WorldSkills International, onde as competências adquiridas em contexto de formação profissional são postas à prova. Luís Montenegro encontrou-se com os “campeões das profissões”, que foram até ao Palacete de São Bento mostrar ao Governo que a formação profissional é uma via de qualificação válida e que os jovens portugueses conseguem ser tão bons neste contexto como os dos outros países. Apesar do chefe do Governo prometer uma valorização da formação profissional “sem estigmas”, os campeões portugueses reconhecem que outras possibilidades de formação, como o ensino superior, ainda se sobrepõem à formação profissional no que diz respeito a aceitação social..“Estamos aqui a reconhecer o mérito”, começou por dizer Luís Montenegro, parafraseando a embaixadora da WorldSkills, a apresentadora Fátima Lopes, que o tinha referido na sua intervenção. “Reconhecer o fazer bem, o ser bom”, completou o primeiro-ministro, antes de afirma que, com “orgulho”, este projeto (o campeonato WorldSkills) “serve de impulso e de incentivo a tantas mulheres e homens que vão ao encontro da sua vocação”..Para o primeiro-ministro, “um país justo e equilibrado - e, já agora, também, um país desenvolvido economicamente - precisa de todas as áreas de formação”. Isto, de acordo com Luís Montenegro, inclui o “conhecimento académico, científico”, e estende-se ao “conhecimento técnico e tecnológico”..“E precisa de bons executantes”, explicou Luís Montenegro, acrescentando que “para o país, é tão importante ter bons profissionais liberais, bons médicos, bons engenheiros, como é importante ter bons cabeleireiros ou cabeleireiras, ter bons profissionais de áreas do turismo”..O primeiro-ministro aludiu ainda às “comemorações dos 50 anos de 25 de Abril”, defendendo que “a maior expressão de liberdade de um indivíduo é ele poder ser, na vida, aquilo que quer”..Por este motivo, Montengro garantiu que o Governo vai “continuar a valorizar, sem estigmas, sem nenhum complexo, nem ideológico nem social, a formação profissional”..O primeiro-ministro ainda deixou uma nota ao setor empresarial, que partiu de uma referência à votação na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, referindo que quase aconteceu “um deslize” na possibilidade das “entidades empregadoras” atribuírem “um prémio de desempenho, um prémio de produtividade, um prémio de resultado, isento de contribuições e impostos, até o limite de um vencimento”, explicou, destacando que, durante a votação, houve “uma espécie de nevoeiro, e parecia que esta medida ia ser chambada no Parlamento”..Esta medida, proposta pelo Governo, foi aprovada depois de o Chega ter mudado o seu sentido de voto, passando de abstenção a voto favorável..Estigmas à parte.O DN conversou com alguns dos jovens que participaram na sessão, que revelaram que ainda há preconceitos. É o caso de Constança Couto, que completou o primeiro ano de um curso de tecnologias de moda. Questionada sobre se, como referiu o primeiro-ministro, sente que há estigma em torno da formação profissional face a outras vias de qualificação, Constança disse que “é preciso fazer um grande trabalho”, até porque, explicou, “os pais ainda se metem muito” nas escolhas dos jovens, no sentido de os motivarem a ir “para o ensino corrente e não para um profissional”..“Portanto, ainda há um caminho a fazer para tirar esse preconceito todo”, concluiu..Com quatro medalhas ao peito, Mário Ferreira, com formação em desenho gráfico, o mais destacado entre estes jovens no que diz respeito às competições WorldSkills, que já o levaram a uma competição em Lyon, este ano, afastou a ideia de estigma..Foto: Gerardo SantosMário Ferreira, com 21 anos, foi medalhado em várias competições WorldSkills International..“Comecei por olhar onde é que haveria uma boa formação na minha área, olhei para as escolas secundárias regulares, olhei para o IEFP [instituto de Emprego e Formção Profissional], e o IEFP foi o que mais me atraiu”, garantiu..Mas o mesmo não sentiu Guilherme Sousa, que revelou ter sido visto com estranheza por “uns colegas”, quando escolheu estudar soldadura em vez de concluir o ciclo regular de estudos, por acharem que podia tomar uma decisão da qual poderia arrepender-se..“No início, foi um bocado estranho, um bocado assustador, mas agora estão muito orgulhosos, e acho que acreditam que fiz uma boa escolha”, conclui.