"Fica à porta da igreja”. Todos recusam a "noiva feiinha" do PS
“A noiva feiinha [Paulo Cafôfo] que fica à porta da igreja”, como diz Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira e presidente do Governo Regional, ou a “noiva desesperada” e “tachista”, como diz Miguel Castro, líder do Chega Regional, foi recusada.
“Ninguém quer a noiva. Toda a gente a rejeitou (...) Isso, de facto, demonstra uma situação de grande inabilidade política, mas também não sou eu que chefio esse partido”, ironiza Albuquerque. “Que mistura!”, satiriza fonte da direção do partido.
O líder dos socialistas, Paulo Cafôfo, convidou JPP, BE, PAN e IL – excluindo PCP, CDS e Chega – para “entendimentos” e “pontos de convergência” tentando, assim, “construir uma solução governativa que devolva a estabilidade à Região”.
O convite, porém, para os “que se queiram juntar” aos socialistas foi comunicado, em direto, numa declaração na RTP Madeira sem que qualquer dos partidos a quem foi pedida a “responsabilidade de agregar e convergir” tivesse sido informado, mesmo que informalmente, das intenções de Paulo Cafôfo.
A reação foi imediata. Ao DN, Élvio Sousa, líder parlamentar do JPP – que tem nove deputados, apenas menos dois que o PS na Assembleia Regional – foi claro: “O PS que vá à sua vida, nós vamos à nossa”. E acrescentou: “Cafôfo, tal como Albuquerque está refém dos Donos Disto Tudo”.
O JPP, garante Élvio Sousa, “não vai carregar nenhum partido às costas, sobretudo quando está a fazer um bom trabalho de oposição e também de programa alternativo responsável”. E depois das eleições antecipadas? “Cada assunto no seu momento”, respondeu.
A segunda recusa veio da IL que, assegura Gonçalo Camelo ao DN, coordenador dos liberais, que não equaciona o seu partido “coligado (ou com acordo de governação) com este PSD ou com este PS”. É “contra-natura”, diz o deputado Nuno Morna.
A estratégia é, nas palavras do coordenador, “manter a equidistância e tentar forçar qualquer Governo a implementar as nossas ideias e propostas”.
Uma garantia: Após as eleições “não será por nós que os partidos mais votados não governarão (…) as forças mais votadas têm o direito de tentar formar governo e governar, mesmo que com maioria relativa”
Os bloquistas, liderados por Dina Letra, fecharam uma porta à “pouco credível” proposta do PS alegando que “a convergência deve fazer-se entre quem tem credibilidade de alternativa, o que não inclui partidos-satélite de Albuquerque, como a IL e o PAN”, mas abriram a porta da “esquerda”.
O BE está “disposto a diálogos construtivos para que a esquerda ganhe força no parlamento regional e se torne decisiva para afastar o PSD”. A solução de “esquerda”, em tese, só poderá juntar PS, JPP, BE e PCP – e este último já foi excluído pelos socialistas.
O PAN, que já foi nas palavras dos socialistas “bengala” de Albuquerque quando se juntou ao CDS no apoio ao PSD, recusa “entendimentos” com as atuais lideranças de socialistas e social-democratas.
A “crise de lideranças”, sustenta Mónica Freitas, “condiciona possíveis entendimentos entre partidos. O PAN enquanto partido de construção, acredita que é possível construir uma alternativa diferente e credível, contudo a mesma não passa por líderes como Miguel Albuquerque ou Paulo Cafôfo”.
A “alternativa diferente” já equacionada por Carlos Pereira, ex-líder do PS-M, que seja “capaz de se coligar com a sociedade madeirense” sendo “um novo projeto político progressista e mobilizador” pode não ter “origem” nos socialistas que estão a perder o “seu espaço natural de alternativa” para “outros”.
E proposta de “convergência” anunciada por Paulo Cafôfo? “Inutilidade absoluta. Só revela desespero. Não mobiliza ninguém”, diz Carlos Pereira.
Esse caminho “natural de alternativa”, por exemplo, começa já esta semana com a reunião do JPP que juntará, como anunciou Élvio Sousa, “figuras da sociedade que vão ter um contributo decisivo no programa do governo nas áreas fundamentais para o desenvolvimento económico e social da região”.
Miguel Castro, afastado dos convites e que se refere a Cafôfo como a “noiva desesperada” que implora “por casamentos políticos com quem quer que esteja disponível”, apela ao voto no Chega por ser “crucial que os madeirenses não substituam os corruptos do PSD pelos tachistas do PS”.
“O PS não tem norte, não tem rumo e, acima de tudo, não tem um projeto sério para a Madeira (…) A obsessão do PS não é governar para o bem dos madeirenses, mas sim distribuir cargos e tachos aos amigos do partido, perpetuando as práticas de favoritismo e compadrio que tanto criticam nos outros”, acusa o líder regional.
Resta ainda a dúvida do CDS: "É uma solução no atual quadro parlamentar, é para uma coligação eleitoral ou é para um acordo pós-eleições?".
E Paulo Cafôfo? 22 horas depois do convite e já com as recusas públicas veio explicar que não quis impor "nenhum formato de entendimento, nem coligações, nem geringonças, nem acordos parlamentares, nem, muito menos, casamentos ou noivados".
E como, acusou, "há quem queira que tudo continue na mesma [referências às rejeições de JPP, PAN, BE e IL]" e que "o PSD continue à frente dos destinos desta terra” a opção é "dar força e votar no PS".