Cristiano Ronaldo
"Se não se perder, será um grande talento", dizia Carlos Pereira, presidente do Marítimo, quando via o pequeno Cristiano Ronaldo a "driblar" uma lata de Coca-Cola. E não se perdeu. Tinha na altura seis ou sete anos. Levado pelo pai, que trabalhava na secção de equipamentos do Andorinha, o menino de Santo António, de origens humildes, era a estrela da freguesia.
Uma associação desportiva pequena com nome de pássaro. Foi aí que Ronaldo criou asas. Nos tempos de lazer, corria para o campo de treinos do Marítimo, ali mesmo perto do bairro. Carlos Pereira, em conversa com o DN, fala de um amigo e de uma família unida, simples, que desde sempre funcionou em regime de "clã", "apoiando-o em tudo". Primeiro, o pai (já falecido) Depois, a mãe. "Não tanto como agora, pois a situação, nessa época, era outra. Não havia dinheiro. Quando ele estava na Academia do Sporting não podiam visitá-lo as vezes que ele gostaria", sublinha. Só que, nesses tempos, "ninguém previa o caminho de sucesso que viria a trilhar", embora todos o apontassem como um puto "com características excepcionais para o futebol".
O dirigente do Marítimo recorda-se de Ronaldo como um miúdo "irreverente, muito respingão? respondia a tudo, não tinha guardanapo", mas muito "atinado no que se refere a opções. Ele sempre soube o que queria", referiu.
A Rui Santos, presidente do Andorinha, nunca lhe passou pela cabeça que, um dia, seria tão requisitado pelos media para falar de "um rapaz igual aos outros, mas que possuía um dote especial para a bola". Ronaldo vivia numa das "zonas altas" do Funchal, considerada periferia, onde as crianças brincam na rua e a vizinhança é tratada por tu. Quando acontece a transferência para o Clube Desportivo Nacional abre-se a primeira página do conto de fadas.
Por ali ficou uma época e meia, até que um bilhete de avião o transportou para a Academia do Sporting. Marques de Freitas, magistrado do Ministério Público e representante dos leões na Madeira, é um dos responsáveis pelo salto. A ilha ficou para trás. Hoje, os seus regressos são sempre de passagem. Por poucas horas.
"Conversamos pouco. É uma pessoa um pouco ocupada. Quando vem à Madeira, é a correr e não tem tempo para nada", diz Rui Santos.
Toda a família gira à volta do 'miúdo maravilha'
Cristiano Ronaldo é um jovem que sabe bem o que quer. Ao contrário de Carlos Pereira, que continua a dar-lhe conselhos ("manter a humildade, determinação e muito trabalho"), o presidente do Andorinha , Rui Santos, reconhece que o número 17 da selecção nacional "não necessita de avisos".
"Nunca lhe dei um conselho. A mãe é a sua conselheira. Com 21 anos, Cristiano Ronaldo é um jovem que sabe o que querer. Hoje, toda a família gira à volta do Ronaldo. E compreende-se. Ele é o filho mais novo. Tem duas irmãs e um irmão. Não é gente com muito dinheiro. É natural que ele queira ajudá-los", diz ao DN.
Na sala de visitas do Andorinha, clube fundado a 6 de Maio de 1925, Rui Santos faz questão de decorar as paredes com um conjunto de fotos do rico menino pobre que se transformou num rico menino rico.
Perfil
Cristiano Ronaldo, Avançado
Nasceu a 5 de Fevereiro de 1985
Palmarés: Supertaça (2001/02 - Sporting); Vencedor do Torneio de Toulon (esperanças), em 2003; Internacional A, vice-campeão Europeu; uma Taça de Inglaterra.
Clubes já representados: Andorinha, Nacional da Madeira e Sporting.
Clube actual: Manchester United (Inglaterra).
As suas piruetas dentro de campo são explicadas por um desejo muito íntimo: Cristiano Ronaldo, caso não tivesse singrado como jogador de futebol, gostaria de ter sido bailarino ou actor. Homem de fé (beija sempre o crucifixo antes de pisar o relvado), o jogador do Manchester United - que os jornais espanhóis disseram que gostaria de representar o Barça -, logo que se transferiu do Sporting para os ingleses do United passou a ser uma figura de referência, um modelo, junto da juventude madeirense. Nas escolas e clubes, as conversas quase sempre começam e acabam no nome de Ronaldo. O presidente do Marítimo, Carlos Pereira, garante que a chamada do seu jovem conterrâneo à selecção nacional A "atraiu - na ilha - mais adeptos para a modalidade". Pessoas que até por norma nem ligavam muito ao fenómeno desportivo. "Ele deixa-nos orgulhosos", disse o dirigente do clube do Funchal. A admiração por Figo e Maradona roubou um bailarino aos palcos mas pôs um artista nos relvados.