Ana Paula Repezza é diretora de negócios da ApexBrasil
Ana Paula Repezza é diretora de negócios da ApexBrasil

Terras raras. Apex Brasil vê "convergência de interesses" com UE para investimentos

Uma delegação da Apex Brasil reuniu com responsáveis da Comissão Europeia. No fim, ficou a ideia de que há interesses comuns, tendo em vista projetos que exigem "quase sete mil milhões de dólares".
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Entre Brasil e União Europeia, há uma "convergência de interesses bastante clara e positiva" tendo em vista futuros investimentos europeus na exploração e transformação mineral, naquele país. A garantia chega da parte da Apex Brasil.

Em entrevista ao Diário de Notícias e Dinheiro Vivo, Ana Paula Repezza, diretora de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), diz que os responsáveis europeus mostraram interesse em projetos brasileiros de exploração e transformação de minerais.

Em causa estão terras raras, assim como outros minerais, como são o lítio, magnésio e outros. Juntos, desempenham um papel crucial na economia global, sendo essenciais ao setor automóvel, por exemplo. Ora, a recente guerra comercial colocou indústrias europeias em cheque, quando a China colocou um travão à exportação do setor. A medida foi, entretanto, suspensa, mas a Bruxelas não quer ficar dependente das flutuações da segunda maior economia do mundo, pelo que procura outras fontes.

Neste contexto, uma delegação da Apex Brasil reuniu com responsáveis da Comissão Europeia, na Raw Materials Week, em Bruxelas. Ali, apresentou um total de 14 projetos estratégicos, que estão a ser desenvolvidos em território brasileiro, em conjunto com o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração). Estes envolvem "não apenas exploração mineral mas, sobretudo, transformação mineral". Para que avancem, é crucial a captação de financiamento estrangeiro.

Brasil procura investimentos do Velho Continente

De forma a executar todas estas ambições, serão necessários investimentos de "quase sete mil milhões de dólares", ou seja, o equivalente a quase seis mil milhões de euros, ao câmbio atual. Com esta finalidade, será decisivo a Apex "trabalhar em conjunto com a Comissão Europeia para priorizar alguns destes projetos e termos uma aceleração na atração de investimento europeu", sublinha a líder daquele organismo.

Para que o processo possa avançar, a EIT Raw Materials (agência ligada à Comissão Europeia) vai fazer a análises à viabilidade dos projetos, depois de as autoridades brasileiras terem realizado testes no mesmo sentido, com conclusão afirmativa. Posteriormente, o Banco Europeu de Investimento (BEI) poderá avançar, lado a lado com bancos e fundos privados, assinala Ana Paula Repezza.

Neste âmbito, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) é "talvez o player mais importante". Este constituiu um fundo público-privado dedicado exclusivamente ao setor mineral. Está avaliado em dois mil milhões de reais (o equivalente a 321 milhões de euros) e vai ficar ligado ao financiamento dos projetos, "caso um investidor europeu queira estabelecer uma parceria com o Brasil, para investir", esclarece.

Ora, no primeiro trimestre de 2026, deverá erguer-se uma ideia mais concreta dos passos a seguir. Isto porque para março está agendado um fórum de investimentos Brasil-UE, em Brasília. "A ideia é que para esse fórum já possamos ter um conjunto de projetos prioritários e pôr os investidores privados em contacto", explica, sem esquecer o "apoio público, dos dois lados".

Porquê o Brasil? Estabilidade e sustentabilidade

Na perspetiva da responsável, a UE quer "ter acesso a minerais críticos que estejam localizados em parceiros confiáveis e estáveis, como é o caso do Brasil e do Mercosul", sublinha. Recorde-se que uma das problemáticas com que se depara a UE relativamente ao setor de minerais na China é precisamente a estabilidade (ou falta dela).

No âmbito energético, a própria lembra que os processos de exploração e transformação requerem muita energia. Ora, numa altura em que a sustentabilidade energética é um fator cada vez mais decisivo nas decisões da política europeia, a própria salienta que, no Brasil, 97% das energias são renováveis.

Os minerais acarretam, por isso, uma "baixíssima pegada de carbono, mesmo no final da cadeia".

Escritório em Lisboa e incubação de startups a caminho

A Apex Brasil conta ainda com um escritório em Lisboa, que está "muito direcionado para startups", reitera a responsável, à conversa com o DN e DV.

Neste âmbito, a Apex tem planos para "incubar 10 startups" naquele escritório. Ali vão estar em desenvolvimento determinadas "soluções dirigidas à UE". Nos setores de destino poderá estar, a título de exemplo, a indústria da exploração e transformação de minerais.

"Se calhar, teremos alguma startup voltada para soluções de sustentabilidade no setor mineiro", atira.

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